Opinião | Júnior
Gonçalves
04/12/2014 – 21h33
Comunicado divulgado pela Santa Casa de Misericódia aos funcionários (Foto: G1) |
Após ficar com o seu
pronto-socorro fechado por mais de vinte e quatro horas no mês de julho, a
Santa Casa de São Paulo chamou a atenção de toda a sociedade e da mídia.
A instituição
filantrópica fechou as portas da emergência em seu hospital central, na Santa
Cecília, por falta de dinheiro – não podiam comprar materiais com os
fornecedores. Com a explosão da notícia e a crescente indignação da população,
o governo do estado liberou uma verba emergencial de R$ 3 milhões – que,
segundo ele, seria suficiente para a aquisição de medicamentos e materiais
necessários para a instituição se manter por um mês. Em época de eleição, a
crise causou grande alvoroço entre os governos federal e estadual, que se acusaram
pelo repasse de verba.
Um relatório
divulgado em setembro mostrou que a dívida estava em R$ 433,5 milhões até o mês
de dezembro de 2013. Atualmente, o governo do estado repassa, mensalmente, R$
14 milhões, e o Ministério da Saúde repassa, em acréscimo, R$ 20 milhões.
Em outubro, houve
recusa da instituição em receber pacientes que chegaram de ambulância.
Restringiram o atendimento apenas aos pacientes que chegaram à emergência pela
porta da frente, o restante (trazidos por ambulâncias), era encaminhado para
outros hospitais. E para deixar, também, os funcionários insatisfeitos, houve
atraso no pagamento do salário. Ainda, houve relatos da falta de sedativos, de
sonda para aspiração de pacientes entubados, falta de leitos etc. Uma equipe de
reportagem do iG chegou a ir até o hospital e se passar por paciente para ter
acesso ao local, e constatou que os corredores da internação estavam
congestionados, cheios de idosos deitados em macas.
O problema financeiro
acabou atrapalhando, também, a realização dos exames. Em novembro, constatou-se
a falta de material para fazer exames de sangue. Com isso, a Santa Casa, em sua
reestruturação, diariamente avalia quais procedimentos serão suspensos e quais
deverão ter prioridade – como se a saúde, em geral, não fosse uma prioridade.
Segundo funcionários, faltam kits para análises de urina, e o hospital tem
priorizado os exames de emergência e dos pacientes que já estão internados.
Para completar sua saga
e fechar o ano com “chave de ouro”, na última sexta-feira (28/11), a data
limite para que os funcionários recebessem a primeira parcela do 13º salário,
foi emitido um comunicado pela Santa Casa a todo o corpo de trabalhadores.
“Como é de conhecimento de
todos, estamos passando por inúmeras dificuldades, as quais serão superadas em
breve. Porém, para superarmos as barreiras precisamos do apoio de cada um dos
colaboradores [...] a primeira parcela do 13º salário não será creditada [...]
realizaremos o pagamento parcial aos colaboradores com remuneração até R$
3.000,00 [...]”
Os funcionários
receberam R$ 300. Trabalharam o ano inteiro, tiveram de trabalhar doentes, sob
condições precárias, sem os materiais básicos, tudo isso para, ao fim do ano,
receber como a primeira parcela do 13ª salário apenas R$ 300.
Além da unidade
central, a Santa Casa mantém contratos de gestão em unidades de atendimento de
saúde com o estado e o município de São Paulo, então há empregados de todo o
estado vivenciando esta crise. Segundo Péricles Cristiano Batista, um dos
diretores do Sindicato dos Enfermeiros, a Prefeitura honrou com os repasses,
enquanto o governo do estado não. Ou seja, apenas os trabalhadores que atuam em
unidades que possuem contratos com o governo estadual é que foram afetados pelo
não pagamento.
Há médicos que, em
entrevistas nas quais pediram para não serem identificados, disseram que não é
a primeira vez que o pagamento atrasa, e que o Sindicato dos Enfermeiros está
prejudicando a população com a possibilidade de uma greve. Mas, convenhamos,
quando o funcionário se atrasa ou falta, não há atrasos no desconto em sua
folha de pagamento.
O que acontece na
Santa Casa de São Paulo é uma falta de respeito com os trabalhadores – as pessoas
contam com os seus pagamentos, e não porque é uma “bonificação”, mas porque é
seu direito. Ninguém trabalha parceladamente, e ninguém está pedindo algo que
não seja seu por direito.
Santa Casa, que a sua
misericórdia, o respeito e o 13º salário compareçam e deem o que é de direito
aos seus funcionários.
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