sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Conto: Rumpelstiltskin

Um conto de fadas do folclore alemão traduzido por Júnior Gonçalves


Rumpelstiltskin e a filha do moleiro.
            Era uma vez, um dono de moinho, um pobre moleiro. E ele tinha uma filha muito bonita. Mas ele precisou, um dia, ir falar com o rei e, tentando parecer alguém importante, ele disse:
            — Eu tenho uma filha que pode fiar palha de ouro.
            — Ora, essa é uma arte que me fascina — disse o rei para o moleiro. — Se a sua filha é tão habilidosa quanto você diz, traga ela ao meu palácio amanhã, e eu farei um teste.
            E quando a garota foi trazida até o rei, ele a colocou em uma sala cheia de palha, deu-lhe uma roca e um carretel, então lhe disse:
            — Agora, comece o seu trabalho, e se não tiver fiado toda esta palha até amanhã de manhã, você vai morrer.
            Depois disso, ele mesmo trancou a menina na sala, deixando-a sozinha ali. Assim, ali ficou a pobre filha do moleiro, e por mais que não soubesse o que fazer, ela não tinha ideia de como poderia fiar palha de ouro. Ela ficou assustada a cada vez que pensava sobre aquilo, até que as lágrimas começaram a cair de seus olhos.
            De repente, a porta se abriu, e um homenzinho entrou dizendo:
            — Boa noite, senhora filha do moleiro! Por que tanto berreiro?
            — Ai... — lamentou a menina. — Eu preciso fiar palha de ouro, e não tenho ideia de como fazer isso.
            — Se eu te ajudar... — sugeriu o duende. — O que é que você vai me dar?
            — O meu colar — respondeu a garota.
            O homenzinho pegou o colar, sentou-se diante da roca, que girou, girou e girou, três vezes, e o carretel estava completo. Então, ele colocou outro carretel, e girou, girou, girou, mais três vezes, e o segundo também ficou cheio. Ele prosseguiu assim até a manhã, quando toda a palha havia sido fiada, e todos os carretéis estavam cheios de fios de ouro.
            Com a chegada da aurora, o rei já estava em pé diante da sala, e quando ele viu o ouro, ficou surpreso e satisfeito, mas o seu coração ficou apenas mais ganancioso. Ele colocou a filha do moleiro em outra sala cheia de palha, uma sala bem maior, e ordenou que ela fiasse tudo aquilo também em uma noite, caso ela gostasse de sua vida.
            A garota não sabia como faria para se salvar, e chorou. Até que a porta se abriu novamente e o homenzinho surgiu.
            — Se eu, a palha, em ouro tornar — disse ele —, o que é que você vai me dar?
            — O meu anel... — respondeu a menina.
            O homenzinho pegou o anel, e novamente girou a roca. Pela manhã, ele já havia fiado toda a palha em outro brilhante.
            O rei se encheu de alegria com o que viu, mas ele ainda não tinha ouro o suficiente. Então, ele colocou a menina em uma sala ainda maior, forrada de palha.
            — Você deve fiar esta palha toda, também, durante esta noite — decretou o rei. — Mas se você conseguir, você casará comigo.
            — Mesmo ela sendo a filha de um moleiro — pensou o rei —, eu nunca encontrarei uma esposa tão rica no mundo todo.
            O duende voltou assim que a menina ficou sozinha, pela terceira vez.
            — Se mais uma vez eu te ajudar — disse o homenzinho —, o que é que você vai me dar?
            — Não me restou mais nada para te dar — disse a garota.
            — Prometa-me, então, que quando for uma rainha — exigiu o duende —, a sua primeira criança deve ser minha!
            — Talvez isso nunca aconteça — pensou a filha do moleiro e, sem saber de que outra forma poderia se salvar, fez o trato com o duende.
            Assim, mais uma vez, ele fiou a palha em ouro.
            Quando o rei voltou pela manhã e encontrou tudo o que desejava, ele se casou com a garota. Foi quando a bela filha do moleiro se tornou uma rainha.
            Um ano depois, ela deu à luz a uma linda criança. E a rainha havia se esquecido do duende, mas ele apareceu repentinamente em seu quarto.
            — Dê-me agora o que prometeu — exigiu.
            A rainha ficou espantada, e ofereceu todas as riquezas do reino ao homenzinho para que ele deixasse a criança.
            — Não! — contestou o duende. — Uma criança recém-nascida vale mais que qualquer coisa nesta vida.
            A rainha começou a chorar e lamentar, então o duende sentiu pena dela.
            — Três dias eu vou te dar — disse ele. — E, durante este tempo, se quiser sua criança, vai ter de me nomear!
            Então, durante toda a noite, a rainha pensou em todos os nomes que já havia ouvido em sua vida. Ela mandou uma mensagem para todo o país a fim de saber qualquer outro nome que poderia existir. Quando o duende voltou no dia seguinte, ela começou com Gaspar, Melquior, Baltazar; disse todos os nomes que conhecia, um depois do outro, mas para cada um ele respondia:
            — Não me chamo assim.
             No dia seguinte, ela havia coletado suas investigações feitas na vizinhança sobre os nomes das pessoas dali, e repetiu os mais diferentes e curiosos ao duende.
            — Talvez o seu nome seja Costelinha? Catatau? Rendoso?
            — Não me chamo assim — era o que ele sempre respondia.
            No terceiro dia, quando o mensageiro voltou, a resposta foi a seguinte:
            — Não consegui encontrar nenhum novo nome sequer — disse ele. — Mas enquanto eu vinha por uma grande montanha no fim da floresta, onde a raposa e a lebre atentam uma a outra, eu vi uma casinha. E na frente da casa havia uma fogueira, e ao redor do fogo, um homenzinho bem esquisito estava saltitando; ele pulava com uma perna só, e gritava “Um dia de comer, o outro de beber; no outro, o bebê da rainha vai ser meu; como estou feliz que ninguém vai saber; meu nome é Rumpelstiltskin, este aqui sou eu!
            A rainha ficou tão feliz ao ouvir o nome – e você deve bem imaginar. E logo que o homenzinho apareceu, ele perguntou:
            — E então, senhorita de renome... Qual é o meu nome?
            — Você se chama Conrado? — ela perguntou.
            — Não! — ele disse.
            — Você se chama Ari?
            — Não...
            — Então, talvez... — ela sugeriu. — Você se chama Rumpelstiltskin?
            — Quem, diabos, disse isso? Quem? — o duende vociferava tão raivoso, que afundou o pé direito na terra, junto com toda a perna. Furioso, ele puxou sua perna esquerda com tanta força, com as duas mãos, que ele se partiu em dois, tal qual um livro se rasga.


Fonte:

Rumpelstiltskin. East of the Web. Disponível em: <http://www.eastoftheweb.com/short-stories/UBooks/Rum.shtml>

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