O conto a seguir é uma adaptação que fiz para o conto "Branca de Neve e os Sete Anões".
Beatriz é uma jovem de dezoito anos que perdeu o pai recentemente. Com isso, a Kingdom - grande empresa do ramo de segurança - foi deixada para ela e sua madrasta, Milena di Aba. Milena é uma modelo conhecida internacionalmente por sua beleza exuberante, mas está prestes a travar um embate com sua enteada, que está ganhando o título de mulher mais bela do mundo.
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Mais bela do que eu?
Logo que chegou à Kingdom, Beatriz foi recepcionada por
Arthur:
— Bom dia, senhora
Nevada — disse o segurança.
— Bom dia, Arthur —
respondeu a jovem. — A Milena está aí? Marquei uma visita com ela.
— A senhora di Aba
teve de sair para resolver alguns problemas, mas pediu que você esperasse.
Beatriz riu; e, logo
depois, abafou o riso, constrangida.
— Algo errado? —
questionou Arthur.
— Não... Não foi nada
— disse a herdeira da empresa. — É que o sobrenome dela é tão incomum, exótico.
— Vamos? — sugeriu
ele.
— Aonde? — questionou
a jovem.
— Siga-me. A senhora
di Aba pediu que eu deixasse você à vontade — explicou o homem.
Beatriz, então,
seguiu-o. Eles desceram pelo elevador até o segundo subsolo, e depois entraram
em um corredor estreito e pouco iluminado.
— Arthur, aonde
estamos indo? — perguntou a jovem, desconfiada.
Quando se virou para
o segurança, o choque de Beatriz foi tremendo. O homem apontava uma arma em sua
direção.
— Desculpe-me,
criança, mas só estou cumprindo ordens — lamentou.
— Ordens? — mesmo
apavorada, Beatriz tentou manter a calma. — Olha, você não tem que fazer isso.
Posso conversar com a Milena, e podemos aumentar o seu salário, bonificar
você...
— A senhora Milena? —
ele gargalhou. — Criança, é ela quem quer ver você morta!
— A Milena? — a
garota se surpreendeu. Por mais que sentisse certa antipatia vinda de sua
madrasta, jamais imaginava que ela chegaria àquilo. — Mas por quê? O que eu fiz
de errado?
— Repito — enfatizou
Arthur. — Apenas cumpro ordens. Este é o meu código: atender àqueles que estão
em posições acima da minha.
Beatriz fitou o homem
por um momento, e então sorriu.
— Ora, se for assim...
A empresa também é minha! — ela argumentou. — E eu tenho ligação consanguínea
com o fundador da Kingdom, ao
contrário da Milena. Portanto, estou numa posição acima da posição dela.
Arthur encarou a
jovem, confuso. Ela estava certa.
— Olha, eu preciso provar
à sua madrasta que eu dei cabo da sua vida — explicou o segurança.
— Sem problemas! —
concordou ela, ainda tremendo. — Dê um soco em meu olho.
— Hein? — estranhou Arthur.
— Vamos! — insistiu a
jovem. — Bata em mim.
Sem questionar outra
vez, ele deu um soco no rosto da menina, que caiu no chão. Quando ela se
recompôs, após cerca de dez minutos, ele a ajudou a se levantar. Beatriz limpou
a sua boca do sangue que escorria e, em seguida, pegou um canivete que estava
num armário do corredor. Ela cortou suas tranças, deixando o seu cabelo bem
curto.
— Agora, tome — ela
entregou as tranças a ele. — Vou-me deitar e você vai pegar o seu celular e
tirar fotos. Vai parecer que estou morta.
Arthur fez tudo o que
ela pediu.
— Leve as tranças
para a Milena — pediu Beatriz. — Será outra prova.
— Prometa que vai fugir!
— exigiu o homem. — Você tem que ir o mais longe que puder... Saia da cidade.
Se possível, saia do país! Se a sua madrasta descobrir que você ainda está
viva, ela mesma vai querer concluir o serviço.
— Obrigado, Arthur —
agradeceu a jovem. — Espero que dê tudo certo para você, também.
— Vai logo! — gritou
o homem.
Enquanto Arthur
voltava para o elevador, Beatriz continuou seguindo pelo corredor mal
iluminado. A menina conhecia cada pedaço daquela empresa, cada sala – afinal,
sua infância fora toda ali.
Após abrir algumas
portas e subir algumas escadas, Beatriz saiu por uma saída de emergência na
parte traseira do prédio. A jovem correu o máximo que pôde; pegou um ônibus e
seguiu para a mansão de seu pai, pois precisava fazer as malas.
Enquanto isso, Milena
tomava um cappuccino em sua mesa, na sala da presidência. Sobre a sua mesa,
estava uma das revistas das quais fora capa; mas aquela era a mais popular de
todas, pois Milena di Aba estava vestida como uma verdadeira rainha da moda: um
vestido longo roxo, que combinava com suas luvas – que acabavam um pouco acima
dos cotovelos –, uma espécie de cinto de ouro com uma grande pedra de rubi, uma
linda e comprida capa preta de gola alta – com o revestimento interior da cor
vermelha e, por fim, uma brilhante coroa de ouro. Aquela capa de revista havia
sido eleita como a melhor fotografia do mundo da moda por cinco anos seguidos.
De repente, alguém
bateu à porta freneticamente.
— Calma! — gritou a
mulher, assustada. — Mas que droga é essa? Cadê o Arthur para impedir essas
pessoas?
— Senhora, sou eu —
Arthur não esperou que ela abrisse a porta, ele próprio entrou na sala.
— Perdeu o respeito? —
perguntou Milena, furiosa.
— Perdoe-me — pediu o
segurança. — Fiz o que me pediu, senhora...
— Quer dizer... — os
olhos de Milena brilharam em contentamento e esperança. — Quer dizer que aquela
moleca está morta?
— Aqui está — disse
Arthur, mostrando as fotos no aparelho celular. — E tem isso, também.
O segurança retirou
do bolso as tranças de Beatriz e entregou nas mãos de Milena.
— Meu Deus! — clamou
a mulher. — Você é muito pior do que eu pensava... Quer dizer, neste caso, você
foi melhor do que imaginei!
Milena acariciava as
tranças, como se estivesse segurando algo muito precioso.
— Estas tranças são
lindas... — confessou a modelo. — Não tinha nada melhor que você me presentear
com elas!
— Senhora, posso
pedir algo? — perguntou o homem.
— Sim? — ela se virou
para ele. — Contanto que não seja um aumento.
— Não, não é —
Arthur, naquele instante, sentiu vontade de esganar a patroa. — Pode me liberar
por hoje? Depois desse serviço, fiquei meio cansado.
— Bem... — ponderou
Milena. — Vá! Deixe-me aqui.
Arthur se retirou da
sala, enquanto Milena observava – ou melhor, admirava – as tranças de sua
enteada morta.
Do outro lado da
cidade, na parte rica da cidade, Beatriz chegava à mansão de seu pai. A jovem
torcia para que nenhum dos empregados de confiança de Milena estivesse ali,
pois isso poderia ser fatal.
Beatriz entrou na casa
e correu para o seu quarto. Estava prestes a pegar uma mala, quando decidiu que
não teria tempo o suficiente para isso, e decidiu levar apenas uma mochila.
Colocou seu telefone, duas mudas de roupa e seus cartões do banco. Quando
estava saindo do quarto, viu a governanta passar pelo corredor, e então
permaneceu calada. Assim que a mulher entrou em um cômodo, Beatriz saiu e
correu até o jardim.
Mas, assim que
colocou os pés na rua, a jovem trombou com a única pessoa que jamais deveria
ter trombado naquele dia: Victor Vitral.
— Victor? — Beatriz
ficou atordoada.
— Oi, minha querida —
respondeu o secretário particular de Milena. — Aonde vai com tanta pressa?
— Tenho um encontro
com a Milena... — respondeu de imediato. — Fiquei de visitar a empresa hoje,
quero ver como estão as coisas por lá.
— Bem, estou voltando
para lá neste exato momento — revelou Victor. — Vamos comigo, posso dar uma
carona a você.
— Não, obrigada —
respondeu Beatriz. — Já chamei um táxi e ele deve estar para chegar.
— Bem, então ‘tá —
Victor entrou em seu carro e seguiu o seu caminho.
Beatriz inspirou
profundamente e soltou a respiração, em alívio. Mas ela sabia que agora teria
de se esconder muito bem, pois, com certeza, a sua madrasta saberia que ela
ainda estava viva.
Cerca de trinta
minutos depois, Victor entrou sorridente na sala da presidência da Kingdom.
— Hum... — Milena
soltou um risinho. — Por que tanta felicidade, Victor? Até parece que encontrou
o seu príncipe encantado!
— Ah, senhora di Aba!
— exclamou Victor, envergonhado. — Sabe muito bem que não tenho tempo para
isso... Dedico a minha vida à senhora.
— Pois deveria
dedicar-se a encontrar o seu príncipe — recomendou a mulher. — Assim, eu teria
dois secretários confidentes.
— E a senhora? —
questionou Victor. — Por que tanta felicidade? Encontrou o seu príncipe encantado?
— Claro que não,
Victor! — respondeu Milena, prontamente. — Sabe que não ligo para isso... Um
homem apenas me impediria de crescer na vida e ser alguém de renome. O motivo
do meu sorriso é outro.
— E que motivo é
esse? — Victor ficou curioso.
— Se a Beatriz não
existisse... — supôs a modelo. — Ou, não sei, se ela morresse... Eu seria a
mulher mais bela, certo?
— Creio que sim,
senhora — afirmou o assessor. — Mas sabemos que isso não vai acontecer tão
cedo... Ela é muito nova, está começando a vida agora! Há pouco, mesmo, eu a vi
e admirei a sua jovialidade.
— O que foi que
disse? — as bochechas de Milena ficaram vermelhas e ardiam.
— Que acabei de
vê-la... — repetiu Victor. — Por quê?
— Onde? Que horas foi
isso? — interrogou a mulher.
— Eu estava saindo da
mansão — contou ele. — Ela estava saindo de lá na correria e trombou comigo na
rua. Inclusive, ela disse que está vindo para cá. Ofereci uma carona, mas ela
disse que já havia chamado um táxi.
— Mas que inferno! —
berrou Milena.
Victor ficou
assustado. Ele não entendeu o motivo da irritação da patroa.
— Eu não acredito nisso!
— gritava Milena. — Aquele traidor do Arthur vai me pagar!
— Senhora, não estou
entendendo... — lamentou Victor.
— Saia da minha
frente, Victor — Milena empurrou o secretário e saiu impaciente da sala.
A modelo desceu pelo
elevador até a garagem e pegou o seu carro. Ela precisava encontrar Beatriz e,
com as suas próprias mãos, por um fim nessa história.
Leia aqui a Parte 3 da história.
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