quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Conto: Mais bela do que eu? - PARTE 3

O conto a seguir é uma adaptação que fiz para o conto "Branca de Neve e os Sete Anões".

Beatriz é uma jovem de dezoito anos que perdeu o pai recentemente. Com isso, a Kingdom - grande empresa do ramo de segurança - foi deixada para ela e sua madrasta, Milena di Aba. Milena é uma modelo conhecida internacionalmente por sua beleza exuberante, mas está prestes a travar um embate com sua enteada, que está ganhando o título de mulher mais bela do mundo.

Leia a Parte 1 e a Parte 2 da história.



           Dirigindo em alta velocidade, Milena chegou à mansão em pouco menos de quinze minutos. Ela largou o carro na rua e correu para dentro da casa – se fosse possível, teria atravessado o corpo de qualquer criatura que cruzasse o seu caminho.
            — Mãe! — gritou Milena.
            Em seguida, uma senhora vestida com terno entrou na sala.
            — O que foi, querida? — era Faustina.
            Faustina, além de ser mãe de Milena, era a governanta da mansão; fora um favor exigido pela filha em troca de moradia.
            — Cadê a Beatriz? — questionou Milena.
            — Não sei — respondeu Faustina. — A menina saiu cedo e não voltou ainda.
            — Voltou, sim! —contestou a modelo. — O Victor esteve aqui há pouco menos de uma hora e a viu aqui.
            — Bom, eu estava supervisionando a Mirella a arrumar os quartos — explicou a velha. — Talvez eu não a tenha visto chegar.
            — Já falei para deixar aquela gata-borralheira fazer o serviço dela — respondeu Milena. — Saia da minha frente!
            Milena deixou a mãe sozinha e foi para o seu quarto.
            O quarto, por sua vez, não era um aposento comum: havia telas, controles e botões por todo o canto. A mulher construíra uma verdadeira central de vigilância ali – a Kingdom fornecia equipamento para a cidade inteira; assim, a modelo conseguiu, com a ajuda de Victor Vitral, conectar-se às câmeras de toda a cidade.
            A mulher inseriu no sistema uma imagem que centralizava o rosto de Beatriz. Com isso, o sistema triangulou a posição da jovem, com um localizador de filme de espionagem.
            — Mas que menina burra! — riu Milena. — Ela achou mesmo que conseguiria fugir de mim?
            Beatriz andava apressada por um bairro periférico da cidade. A jovem entrou numa rua deserta, mas graças ao zoom da câmera, Milena pôde acompanhá-la. A jovem entrou num sobrado velho, no fim da rua sem saída, a única casa do local.
            — Ótimo! — comemorou Milena. — Acho que temos um encontro, Beatriz.
            A megera pegou a sua bolsa, a chave do carro, e revirou uma gaveta de sua cômoda à procura de algo. Ela pegou um revólver e saiu da casa.
            Em um lugar aparentemente inabitado, sozinha, Beatriz bateu à porta da casa:
            — Tem alguém aí?
            Sem obter resposta, a menina entrou no sobrado. Para a sua surpresa, a casa estava mobiliada – estranhamente mobiliada. Os móveis tinham tamanhos menores que os móveis comuns, eram como se fossem adaptados a pessoas pequenas.
            Como estava morrendo de fome, ela abriu a geladeira e procurou alguma coisa para comer. Havia, por sorte, um pedaço de torta de maçã – a sua predileta. Logo depois, o sono bateu, e Beatriz subiu ao primeiro andar para procurar um quarto.
            A menina achava absurda a ideia de invadir uma casa, mas era o lugar mais seguro para esconder-se de sua madrasta. Havia apenas um quarto, mas nele tinham sete camas; eram camas pequeninas. Então, Beatriz empurrou todas até que ficassem uma ao lado da outra, formando uma cama de tamanho adequado para ela. Ela se deitou e caiu num sono pesado.
            Cerca de quarenta minutos depois, ao lado de fora da casa, havia um carro luxuoso estacionado na ponta da rua. Era o carro de Milena di Aba. A mulher havia conseguido localizar a enteada e só estava planejando como faria com a menina; ela tinha apenas uma bala, então teria de ser certeira se não quisesse deixar Beatriz viva para contar a história.
            Quando Milena abriu a porta do carro para sair, um grupo de sete homens baixos passou ao lado pela calçada. No mesmo instante, a mulher voltou para o carro e ficou lá dentro, calada. O carro tinha os vidros escuros, então seria impossível que alguém lhe reconhecesse. Os sete homens caminharam até o sobrado, mas antes de entrar ficaram olhando desconfiados para o carro da modelo.
            — Droga! — Milena esperou os anões entrarem na casa para, então, manobrar o carro e ir embora dali.
            Quando entraram na casa, os homens acharam algo estranho. A bandeja que estava guardada com torta na geladeira estava, naquele momento, em cima da pia. Preocupado, o mais velho dos irmãos decidiu investigar:
            — Acho melhor a gente se separar e ver se alguém invadiu a casa — sugeriu Geraldo. Ele usava óculos, era muito inteligente e ponderado.
            — Separar-nos? — questionou Carlos. Este, era cheio de dengos e teatros. — E se realmente alguém invadiu a casa?
            — Ora! Parem de frescura! Vocês são homens ou anões? — resmungou Emerson. Ele era o mais esquentado e impaciente dos sete, vivia discordando e brigando com todo mundo. — Vamos logo para o quarto que estou com sono.
            Assim, todos subiram ao quarto.
            Emerson foi na frente, seguido por Carlos e Geraldo. Logo depois, vinha Felipe, o mais preguiçoso dos irmãos – ele se arrastava pela escada, de tão sonolento. Danilo e André subiam lado a lado; o primeiro tinha uma séria alergia – vivia espirrando –; o segundo era alegre que só, sempre sorria e era gentil com os outros. Por último, destrambelhado, vinha Breno; ele era o mais tímido de todos e, também, o mais quieto – mas ele era mudo –, o único que não usava barba.
            No andar de cima, perceberam que a porta do quarto estava entreaberta e ficaram assustados. Emerson logo tratou de abrir a porta e berrou de susto com o que viu. Todos correram para o interior do quarto e também gritaram; foi uma gritaria total – Beatriz, assustada, gritou com os homens que ali estavam. A jovem ficou tão amedrontada que acabou batendo a cabeça no teto quando tentou levantar-se da cama.
            — Quem é você, sua intrusa? — questionou Emerson, zangado.
            — Desculpem-me! — implorou a menina. — Eu prometo ir embora, mas não me machuquem...
            — Quem é você? — insistiu Emerson.
            — Calma, Emerson, você está assustando a moça! — repreendeu Geraldo, logo percebendo que a mulher era incapaz de qualquer maldade.
            — Obrigado, meu senhor... — agradeceu Beatriz. — Meu nome é Beatriz.
            — Eu me chamo Geraldo — respondeu ele. — Somos todos irmãos e moramos aqui, como pode ver. Mas o que você faz aqui? Como entrou?
            — Ué... A porta estava encostada apenas — respondeu a menina.
            — Breno! — berrou Emerson, furioso. — Você pegou a chave para trancar a porta e não trancou?
            Breno fez um gesto, que provavelmente significava que ele sentia muito.
            — Você pode jantar com a gente — convidou André, sorrindo para a bela moça.
            — É — tentou concordar Danilo, em meio aos espirros.
            — Não! — interrompeu Emerson. — Nem sabemos quem ela é! Não podemos deixar um estranho entrar em casa... Ainda mais quando ele já entrou sem permissão.
            — Bem, se pensarmos por um lado... — provocou Carlos. — Ela não é estranha, ela já se apresentou!
            — O Carlos tem toda a razão, Emerson. Deixe a moça se explicar — disse Geraldo, limpando as lentes dos óculos enquanto sentava-se na beira de uma das camas.
            — Oh! — Beatriz ficou lisonjeada. — Obrigada pela confiança. Eu estou fugindo...
            — Estão vendo? — Emerson gritou, apontando o dedo para a jovem. — Eu falei!
            Os anões arregalaram os olhos, preocupados.
            — Não, não! — disse Beatriz. — Não é isso... Estou fugindo da minha madrasta. Ela quer me matar!
            — Nossa! — exclamou André. — Que coisa mais triste!
            — Pois é... — concordou a jovem. — Se puderem me ajudar... Mas caso não queiram, eu vou entender.
            — Não queremos — disse Emerson, convicto.
            — Você não quer, Emerson. Nós queremos — corrigiu Geraldo. — Olha, minha querida, eu sou o mais velho de todos e, por direito, decido o que vai acontecer ou não aqui dentro. Nós trabalhamos, temos uma vidraçaria chamada Sete Anões, e não queremos problemas para o nosso lado. Mas não podemos deixar você à mercê de sua madrasta.
            — Muito obrigada, Geraldo — agradeceu Beatriz. — Prometo que não vou desapontá-los. Se quiserem, posso ajudar aqui enquanto vocês estiverem trabalhando. Afinal, não posso sair na rua.
            — Você quem sabe — respondeu Geraldo. — Não estou pedindo nada em troca.
            — Seria o mínimo — comentou Emerson, de costas.
            — Não ligue para ele — recomendou o mais velho. — Ele é zangado assim só no início... Depois, vira um babão!
            — Vai se ferrar, Geraldo! — Emerson saiu do quarto, xingando os irmãos.

            Naquele fim de tarde, Beatriz desceu com os seis anões para a cozinha, e eles fizeram um grande banquete. Um pouco depois, Emerson acabou cedendo e também se juntou aos irmãos e à nova hóspede.


Leia aqui a Parte 4 da história.

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