O conto a seguir é uma adaptação que fiz para o conto "Branca de Neve e os Sete Anões".
Beatriz é uma jovem de dezoito anos que perdeu o pai recentemente. Com isso, a Kingdom - grande empresa do ramo de segurança - foi deixada para ela e sua madrasta, Milena di Aba. Milena é uma modelo conhecida internacionalmente por sua beleza exuberante, mas está prestes a travar um embate com sua enteada, que está ganhando o título de mulher mais bela do mundo.
Dirigindo em alta
velocidade, Milena chegou à mansão em pouco menos de quinze minutos. Ela largou
o carro na rua e correu para dentro da casa – se fosse possível, teria
atravessado o corpo de qualquer criatura que cruzasse o seu caminho.
— Mãe! — gritou
Milena.
Em seguida, uma
senhora vestida com terno entrou na sala.
— O que foi, querida?
— era Faustina.
Faustina, além de ser
mãe de Milena, era a governanta da mansão; fora um favor exigido pela filha em
troca de moradia.
— Cadê a Beatriz? —
questionou Milena.
— Não sei — respondeu
Faustina. — A menina saiu cedo e não voltou ainda.
— Voltou, sim! —contestou
a modelo. — O Victor esteve aqui há pouco menos de uma hora e a viu aqui.
— Bom, eu estava supervisionando
a Mirella a arrumar os quartos — explicou a velha. — Talvez eu não a tenha
visto chegar.
— Já falei para
deixar aquela gata-borralheira fazer o serviço dela — respondeu Milena. — Saia
da minha frente!
Milena deixou a mãe sozinha
e foi para o seu quarto.
O quarto, por sua
vez, não era um aposento comum: havia telas, controles e botões por todo o
canto. A mulher construíra uma verdadeira central de vigilância ali – a Kingdom fornecia equipamento para a
cidade inteira; assim, a modelo conseguiu, com a ajuda de Victor Vitral,
conectar-se às câmeras de toda a cidade.
A mulher inseriu no
sistema uma imagem que centralizava o rosto de Beatriz. Com isso, o sistema
triangulou a posição da jovem, com um localizador de filme de espionagem.
— Mas que menina
burra! — riu Milena. — Ela achou mesmo que conseguiria fugir de mim?
Beatriz andava
apressada por um bairro periférico da cidade. A jovem entrou numa rua deserta,
mas graças ao zoom da câmera, Milena pôde acompanhá-la. A jovem entrou num
sobrado velho, no fim da rua sem saída, a única casa do local.
— Ótimo! — comemorou
Milena. — Acho que temos um encontro, Beatriz.
A megera pegou a sua
bolsa, a chave do carro, e revirou uma gaveta de sua cômoda à procura de algo.
Ela pegou um revólver e saiu da casa.
Em um lugar
aparentemente inabitado, sozinha, Beatriz bateu à porta da casa:
— Tem alguém aí?
Sem obter resposta, a
menina entrou no sobrado. Para a sua surpresa, a casa estava mobiliada –
estranhamente mobiliada. Os móveis tinham tamanhos menores que os móveis
comuns, eram como se fossem adaptados a pessoas pequenas.
Como estava morrendo
de fome, ela abriu a geladeira e procurou alguma coisa para comer. Havia, por
sorte, um pedaço de torta de maçã – a sua predileta. Logo depois, o sono bateu,
e Beatriz subiu ao primeiro andar para procurar um quarto.
A menina achava
absurda a ideia de invadir uma casa, mas era o lugar mais seguro para
esconder-se de sua madrasta. Havia apenas um quarto, mas nele tinham sete
camas; eram camas pequeninas. Então, Beatriz empurrou todas até que ficassem
uma ao lado da outra, formando uma cama de tamanho adequado para ela. Ela se
deitou e caiu num sono pesado.
Cerca de quarenta
minutos depois, ao lado de fora da casa, havia um carro luxuoso estacionado na
ponta da rua. Era o carro de Milena di Aba. A mulher havia conseguido localizar
a enteada e só estava planejando como faria com a menina; ela tinha apenas uma
bala, então teria de ser certeira se não quisesse deixar Beatriz viva para
contar a história.
Quando Milena abriu a
porta do carro para sair, um grupo de sete homens baixos passou ao lado pela
calçada. No mesmo instante, a mulher voltou para o carro e ficou lá dentro,
calada. O carro tinha os vidros escuros, então seria impossível que alguém lhe
reconhecesse. Os sete homens caminharam até o sobrado, mas antes de entrar
ficaram olhando desconfiados para o carro da modelo.
— Droga! — Milena
esperou os anões entrarem na casa para, então, manobrar o carro e ir embora
dali.
Quando entraram na
casa, os homens acharam algo estranho. A bandeja que estava guardada com torta
na geladeira estava, naquele momento, em cima da pia. Preocupado, o mais velho
dos irmãos decidiu investigar:
— Acho melhor a gente
se separar e ver se alguém invadiu a casa — sugeriu Geraldo. Ele usava óculos,
era muito inteligente e ponderado.
— Separar-nos? —
questionou Carlos. Este, era cheio de dengos e teatros. — E se realmente alguém
invadiu a casa?
— Ora! Parem de
frescura! Vocês são homens ou anões? — resmungou Emerson. Ele era o mais
esquentado e impaciente dos sete, vivia discordando e brigando com todo mundo. —
Vamos logo para o quarto que estou com sono.
Assim, todos subiram
ao quarto.
Emerson foi na
frente, seguido por Carlos e Geraldo. Logo depois, vinha Felipe, o mais
preguiçoso dos irmãos – ele se arrastava pela escada, de tão sonolento. Danilo
e André subiam lado a lado; o primeiro tinha uma séria alergia – vivia espirrando
–; o segundo era alegre que só, sempre sorria e era gentil com os outros. Por
último, destrambelhado, vinha Breno; ele era o mais tímido de todos e, também,
o mais quieto – mas ele era mudo –, o único que não usava barba.
No andar de cima,
perceberam que a porta do quarto estava entreaberta e ficaram assustados. Emerson
logo tratou de abrir a porta e berrou de susto com o que viu. Todos correram
para o interior do quarto e também gritaram; foi uma gritaria total – Beatriz,
assustada, gritou com os homens que ali estavam. A jovem ficou tão amedrontada
que acabou batendo a cabeça no teto quando tentou levantar-se da cama.
— Quem é você, sua
intrusa? — questionou Emerson, zangado.
— Desculpem-me! —
implorou a menina. — Eu prometo ir embora, mas não me machuquem...
— Quem é você? — insistiu
Emerson.
— Calma, Emerson,
você está assustando a moça! — repreendeu Geraldo, logo percebendo que a mulher
era incapaz de qualquer maldade.
— Obrigado, meu
senhor... — agradeceu Beatriz. — Meu nome é Beatriz.
— Eu me chamo Geraldo
— respondeu ele. — Somos todos irmãos e moramos aqui, como pode ver. Mas o que você faz aqui? Como entrou?
— Ué... A porta
estava encostada apenas — respondeu a menina.
— Breno! — berrou
Emerson, furioso. — Você pegou a chave para trancar a porta e não trancou?
Breno fez um gesto,
que provavelmente significava que ele sentia muito.
— Você pode jantar
com a gente — convidou André, sorrindo para a bela moça.
— É — tentou
concordar Danilo, em meio aos espirros.
— Não! — interrompeu
Emerson. — Nem sabemos quem ela é! Não podemos deixar um estranho entrar em
casa... Ainda mais quando ele já entrou sem permissão.
— Bem, se pensarmos
por um lado... — provocou Carlos. — Ela não é estranha, ela já se apresentou!
— O Carlos tem toda a
razão, Emerson. Deixe a moça se explicar — disse Geraldo, limpando as lentes
dos óculos enquanto sentava-se na beira de uma das camas.
— Oh! — Beatriz ficou
lisonjeada. — Obrigada pela confiança. Eu estou fugindo...
— Estão vendo? —
Emerson gritou, apontando o dedo para a jovem. — Eu falei!
Os anões arregalaram
os olhos, preocupados.
— Não, não! — disse
Beatriz. — Não é isso... Estou fugindo da minha madrasta. Ela quer me matar!
— Nossa! — exclamou
André. — Que coisa mais triste!
— Pois é... —
concordou a jovem. — Se puderem me ajudar... Mas caso não queiram, eu vou
entender.
— Não queremos —
disse Emerson, convicto.
— Você não quer, Emerson. Nós queremos —
corrigiu Geraldo. — Olha, minha querida, eu sou o mais velho de todos e, por
direito, decido o que vai acontecer ou não aqui dentro. Nós trabalhamos, temos
uma vidraçaria chamada Sete Anões, e não queremos problemas para o nosso lado.
Mas não podemos deixar você à mercê de sua madrasta.
— Muito obrigada,
Geraldo — agradeceu Beatriz. — Prometo que não vou desapontá-los. Se quiserem,
posso ajudar aqui enquanto vocês estiverem trabalhando. Afinal, não posso sair
na rua.
— Você quem sabe —
respondeu Geraldo. — Não estou pedindo nada em troca.
— Seria o mínimo —
comentou Emerson, de costas.
— Não ligue para ele —
recomendou o mais velho. — Ele é zangado assim só no início... Depois, vira um
babão!
— Vai se ferrar,
Geraldo! — Emerson saiu do quarto, xingando os irmãos.
Naquele fim de tarde,
Beatriz desceu com os seis anões para a cozinha, e eles fizeram um grande
banquete. Um pouco depois, Emerson acabou cedendo e também se juntou aos irmãos
e à nova hóspede.
Leia aqui a Parte 4 da história.
Leia aqui a Parte 4 da história.
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