Há quarenta e uma semanas e três dias eu acompanho a gravidez dela, minha irmã. Junto, um desejo e uma vontade imensa de quebrar um tabu existente na sociedade - que outrora foi tão comum: o parto normal. Durante todo esse tempo, ela estudou sobre o assunto, sobre seus benefícios e, até mesmo, sobre tudo o que já falaram contra. Ainda assim, ela continuou firme em sua escolha.
Optando pelo parto normal e humanizado, ela enfrentou no início o próprio esposo, meu cunhado, que com o tempo percebeu o quão benéfico seria para a criança que viria e para ela - no fim, ele percebeu o quão benéfico foi para ele também. Ganhou o apoio e o incentivo dos irmãos, que compreenderam que aquele desejo dela não era uma simples "modinha", mas uma vontade profunda de dar a sua criança o que ela merecia, de proporcionar uma chegada tranquila. Ela também precisou esconder a sua escolha. Não por egoísmo, mas por proteção ao próprio desejo - o parto normal é visto como algo anormal, e o parto humanizado é visto como algo insano. Ela enfrentou tudo isso, do início ao fim.
Firme em sua escolha, ela pesquisou muito. Contratou uma doula - aquela que proporcionou suporte físico e emocional durante todo o processo da gravidez e do parto. Contratou parteiras - conhecidas atualmente como obstetras, que foram absolutamente importantes no trabalho de parto, proporcionando uma estrutura incrível dentro do ambiente familiar. Minha irmã, a Thais, percebeu que não estaria desamparada e que poderia prosseguir com sua escolha até o final - ou início.
Logo - nem tão logo assim -, ela descobriu que o bebê que carregava em seu ventre era um menino. É o Isaac. E mais alegrias vieram a partir de então. Os estudos sobre o parto humanizado eram inacabáveis, e não só por parte dela, mas também por parte do esposo e de nós, irmãos. Sempre conversávamos sobre o assunto. E ansiávamos pela chegada do Isaac.
Próxima do fim da gravidez, aproximadamente na trigésima nona semana, foi solicitado uma ultra-sonografia. Quando chegou ao laboratório, foi questionada de quantas semanas estava. Respondendo o que lhe foi questionado, logo a repreenderam por estar ali, e não em uma maternidade. No exame, foi diagnosticado que ela estava com baixo nível de líquido amniótico, placenta de grau III - grau máximo de maturidade - e uma notável circular de cordão - quando o cordão umbilical está enrolado no pescoço do bebê. Isso a deixou transtornada. Como meu cunhado estava no trabalho, e longe, nós - eu, meu companheiro e minha outra irmã - demos um jeito de pegar o carro e levá-la em outro laboratório, para ela fazer outra ultra-sonografia. Lá, ao contrário do primeiro lugar, ela nem citou nada sobre o tempo de gestação, e nem sobre o resultado do exame anterior. O médico que a atendeu, fez o exame. Resultado: nenhuma circular de cordão e nível de líquido amniótico adequado.
Ficamos muito emocionados com o resultado, mas estarrecidos com o sistema. Sistema, este, das intervenções cesarianas. Segundo dados do Ministério da Saúde, de 2013, os partos normais ocorridos no SUS (Sistema Único de Saúde) correspondem a 63,2%, enquanto que a porcentagem dos partos normais em hospitais particulares chega a menos de 20%. Com isso, o Brasil chega ao topo do ranking mundial de intervenções cesarianas. O problema, é que muitas dessas intervenções são desnecessárias - agendadas para o nascimento em dia específico, para conforto dos médicos e dos pais, para não sofrer dores, ou mesmo por manipulação dos médicos, que induzem a mãe à escolha pela intervenção, colocando dezenas de empecilhos que, se estudados, não impedem em nada o nascimento por parto normal. No Brasil, a intervenção cesariana é a prioridade e a indicação dos médicos, enquanto que o parto normal é considerado o anormal da história. E o que aconteceu com minha irmã, provou que esse sistema existe.
Passada a preocupação, começaram os preparos para o tão esperado momento - o momento do bebê, pois ele chegaria quando quisesse. E assim foi. Os pródromos - o "pré trabalho de parto", quando as contrações são muito irregulares e espaçadas, mas preparam a gestante para o trabalho de parto - se iniciaram por volta da trigésima sétima semana e duraram até a quadragésima primeira semana, ou seja, quatro semanas de contrações irregulares. Mas a Thais permaneceu firme. Embora alertada sobre os problemas de outras pessoas assistirem o parto - como a demora para engrenar no trabalho de parto -, ela ainda quis que eu e minha irmã víssemos.
Na terça-feira à noite, fomos avisados que ela estava com contrações menos espaçadas. Nesta noite, não dormimos. Às 5:30 da quarta-feira fomos para a casa dela - eu, para fotografar, e minha irmã para assistir. Ficamos o dia todo lá, auxiliando junto ao meu cunhado, o Fábio, e à doula - que teve uma participação sem fim nesse processo. Trocávamos cochilos, para ajudá-la e marcar as contrações. Mas não foi. Às 2:00 da quinta-feira, a parteira - que havia sido chamada para verificar o andamento da coisa - pediu que fossemos para casa, pois isso estava dificultando que ela engrenasse, de fato, no trabalho de parto. Assim, fomos embora, compreendendo a situação.
A quinta-feira foi de ansiedade. O tempo todo com o telefone na mão, esperando alguma mensagem ou ligação. Mas nada. Esquecemos que era o tempo do Isaac, e não o nosso.
Na sexta-feira, pela manhã, minha irmã - que esperava ansiosa, como eu - me mandou uma mensagem, dizendo que a Thais já estava com nove centímetros de dilatação. Pouco tempo depois, às 15:00, ela me ligou e disse que o Isaac havia nascido. Não vi nada na minha frente, o que fiz foi calçar os tênis e sair pra rua. Fomos para a casa dela. Chegando lá, encontramos as duas parteiras e a doula, e as agradecemos muito por tudo. Vimos manchas de sangue no chão da cozinha, sacolas com panos sujos e muito papel ensanguentado, e todo o equipamento das parteiras - devidamente paramentadas, para não deixar a mãe e o bebê na mão em casos de emergência. Fomos ao quarto. À meia luz, na cama, estava a Thais. Em seu colo, o Isaac dormia, envolto em uma coberta. O Fábio, meu cunhado, observava os dois, e era possível ver em seus olhos a satisfação daquele momento.
Abracei o Fábio e o parabenizei. Parabenizei-o por ter sido forte desde o início da gravidez e ter apoiado a minha irmã em sua decisão. Ele chorou, disse que queria muito que eu e minha irmã estivéssemos ali, no momento do nascimento, mas falamos que não tinha problema, que estávamos ali em pensamento, pois entendíamos a grandiosidade da situação e de quanto o momento era para eles dois. Beijei a Thais e a parabenizei pela força, também. Por último, vi o Isaac.
Quando olhei para aquele principezinho, meus olhos enxeram de lágrima. Lembrei da força inesgotável da minha irmã durante todas as contrações sofridas. Fiquei imaginando, se a minha emoção e satisfação era grande, quão grande seria a satisfação deles? Dar a luz em casa, no conforto do seu lar, se alimentando na hora em que quiser, tomar banho na hora em que quiser, vestir-se com a roupa que quiser - e se quiser se vestir -, ter a companhia um do outro durante todo o tempo, ficar na posição em que melhor se encontrar, ficar no ambiente com a luz que achar mais confortável. É tudo muito incrível. É, de fato, renascer. O Isaac pôde ficar ali, ao lado da mamãe, por todo o tempo. O Fábio pôde ficar ali, sem ter que ficar na angústia de esperar ela voltar para o quarto, nem ficar horas sem comer. Nós, a família, pudemos visitá-la e vê-los, todos juntos, sem esperar a outra visita sair do quarto.
Não digo que a intervenção cesariana deva ser abolida, porque ela é totalmente útil, mas quando necessária. Ela é útil em casos de emergência, onde a não opção por ela pode causar até a morte do bebê ou da mãe. Mas eu digo que tudo deve ser repensado. Que o parto normal e, quem sabe, o humanizado, devam ser conhecidos por todos aqueles que querem ter filhos. Tudo está bem, e acho que se fosse em um hospital não poderia ter ficado assim, não de forma desnecessária.
A mulher precisa redescobrir a força e a capacidade que possui. E a sociedade precisa apoiá-la, e não jugá-la. Chega de medos, de incertezas... Vamos olhar para o futuro e redescobrir o passado!
É como a gente vem ouvindo durante toda a gestação, e pudemos concluir ao final: "Os bebês sabem nascer e as mulheres sabem parir!".
Quando olhei para aquele principezinho, meus olhos enxeram de lágrima. Lembrei da força inesgotável da minha irmã durante todas as contrações sofridas. Fiquei imaginando, se a minha emoção e satisfação era grande, quão grande seria a satisfação deles? Dar a luz em casa, no conforto do seu lar, se alimentando na hora em que quiser, tomar banho na hora em que quiser, vestir-se com a roupa que quiser - e se quiser se vestir -, ter a companhia um do outro durante todo o tempo, ficar na posição em que melhor se encontrar, ficar no ambiente com a luz que achar mais confortável. É tudo muito incrível. É, de fato, renascer. O Isaac pôde ficar ali, ao lado da mamãe, por todo o tempo. O Fábio pôde ficar ali, sem ter que ficar na angústia de esperar ela voltar para o quarto, nem ficar horas sem comer. Nós, a família, pudemos visitá-la e vê-los, todos juntos, sem esperar a outra visita sair do quarto.
Não digo que a intervenção cesariana deva ser abolida, porque ela é totalmente útil, mas quando necessária. Ela é útil em casos de emergência, onde a não opção por ela pode causar até a morte do bebê ou da mãe. Mas eu digo que tudo deve ser repensado. Que o parto normal e, quem sabe, o humanizado, devam ser conhecidos por todos aqueles que querem ter filhos. Tudo está bem, e acho que se fosse em um hospital não poderia ter ficado assim, não de forma desnecessária.
A mulher precisa redescobrir a força e a capacidade que possui. E a sociedade precisa apoiá-la, e não jugá-la. Chega de medos, de incertezas... Vamos olhar para o futuro e redescobrir o passado!
É como a gente vem ouvindo durante toda a gestação, e pudemos concluir ao final: "Os bebês sabem nascer e as mulheres sabem parir!".