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sábado, 7 de novembro de 2015

O que as nossas crianças sabem sobre o racismo?


            Trabalhar como educador me permite algo que poucos têm a chance: de alcançar os sentimentos das crianças e levar-lhes novos conhecimentos e novos valores.
            Como um escritor, costumo utilizar a leitura e a escrita como ferramentas no meu trabalho; ferramentas que potencializam essas ações.
            No mês da Consciência Negra, decidi abordar com a turma a questão do racismo, das conquistas e das desigualdades dos negros na sociedade. É claro que já tínhamos discutido o assunto algumas vezes durante o ano, mas aproveitei o mês para focar no tema.
            Então, distribui pedaços de folha de papel pautada, lápis e borrachas. Pedi que cada um escrevesse tudo o que soubesse sobre o racismo, sem preocupar-se com o que poderia estar certo ou errado, justamente porque a atividade não se tratava de julgar o certo e o errado. A atividade tinha como propósito avaliar e "diagnosticar" o conhecimento prévio das crianças sobre o tema, de modo que eu possa elaborar o material das discussões de forma que eu consiga desvendar alguns mitos e desconstruir alguns valores construídos pelo preconceito embutido pela sociedade.
            O resultado da atividade foi incrível – não no sentido positivo da palavra. Mas não pude crer em como as crianças ainda recebem valores e aprendem conceitos equivocados sobre um assunto tão abordado nos últimos anos. Há uma grande confusão entre o racismo e a consciência negra, entre referir-se a um negro como "negro" e ofender um negro com os xingamentos mais absurdos.
            A seguir, compartilho com vocês um pouco do que foi escrito. Acredito que este material possa provocar-nos e levar-nos à reflexão sobre como transmitimos os valores e conceitos na sociedade. Acredito que possamos refletir sobre como queremos o nosso futuro, um futuro livre de preconceitos.
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Por que o racismo existe?
            Eu não sei o porquê, mas, só porque somos negros, os brancos são racistas com a gente. Às vezes, tenho vontade de me pintar todo de branquinho para não ouvir mais essas coisas.
            Quando me chamam de "pretinho" ou de "cerâmica de chão", eu me sinto muito ofendido.
            No mundo, tem mais branco do que negro, e os branco acham que podem maltratar os negros por isso, por causa da cor.
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            Eu acho o racismo muito ruim. Já vi muito racismo, como uma pessoa chamando a outra de "escravo", um menino chamando o outro de "café". Eu mesmo já fui preconceituoso com um menino; eu o chamei de "asfalto". eu me arrependi por que, noutro dia, esse menino me defendeu de dois meninos; nunca mais fui preconceituoso com ninguém.
            Tenho muito orgulho de ter amigos negros.
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            O racismo é uma coisa que é feia; não pode ser usado contra as pessoas e contra os amigos nem na escola. Eu já fui zoado de "macaquinho branco" – não podem fazer isso!
            Chega de ser racista! Parem agora!
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            A consciência negra é uma coisa horrível para uma pessoa. Quando se fala que a pessoa é "macaco", "negro" e "preto", a pessoa fica triste. Também, todo o mundo é igual. A pessoa que faz essas coisas é preconceituosa.
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            O racismo faz muito mal às pessoas. Ele muda o sentimento das pessoas de bem para mal. O combate ao racismo é bem impossível.
            Eu já li que o racismo é uma discriminação baseada na suposta inferioridade de certas raças. O racista é relativo ao racismo.
            Negro, branco, moreno, são todos seres humanos; não têm diferença nenhuma. Não usem o racismo nunca!
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            Eu já sofri racismo; é muito ruim, mas, depois, eu não ligo mais. É muito ruim para as pessoas que sofrem.
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            Faz bem combater o racismo.
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            O racismo é quando uma pessoa branca se acha mais só porque ela é branca e a outra é morena.
            Eu sou contra o racismo. É muito feio!
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            A consciência negra é uma coisa boba porque nós somos todos iguais. Tipo, se você me chama de negro, você está xingando você mesmo porque você é igual a todos.
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            Eu não tenho preconceito com negros, mas isso é muito antigo. Eles apanhavam, mas isso mudou.
            Eu não tenho preconceito porque todos são iguais; eu só não sou da mesma cor. Só isso! Eu tenho o mesmo corpo humano e as mesmas partes do corpo.
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Por que o racismo é ilegal?
            O racismo é ilegal porque só traz coisas ruins, além de trazer mágoas para as pessoas, como por exemplo: você xinga uma pessoa por causa da cor diferente da sua; maltrata uma pessoa porque ela é especial ou sei lá...
            Vamos falar do preconceito. Ele também é muito ruim: é quando você não gosta da pessoa por causa das condições e da classe social dela. Fico muito sentida com o episódio de Carrossel (com a Maria Joaquina e o Cirilo): ela maltrata ele, despreza ele porque ele é o único negro da turma e não tem a mesma condição que os demais da turma.
            Uma coisa que todos nós devemos aprender na vida: SOMOS TODOS IGUAIS. Quantas vezes eu já chorei por causa de problemas assim? PRECONCEITO e RACISMO! Já cometi muitos erros na vida por causa de bullying, mas, aos poucos, fui aprendendo que somos todos iguais.
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            Eu acho que o racismo atinge muito os sentimentos, tanto das pessoas negras quanto das pessoas brancas, porque, mesmo que o branco xingue o negro e perceba que ele fez algo de errado, se fosse eu, ficaria com remorso.
            Eu penso assim: todo o mundo tem de pensar duas vezes antes de praticar o racismo porque, se a pessoa for branca ou negra, tenho certeza de que ela é feliz com a cor que tem. Não precisa ter vergonha da cor que tem, ame a si e se valorize.
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            Eu também sofri racismo na minha escola: me chamaram de "branquela azeda". Isso é muito ruim e magoa bastante.
            Bom, tem muita gente que gosta de fazer os outros sofrerem e muita gente que quer ajudar quem está magoado. O preconceito é assim: magoa, sofre, chateia e as pessoas ficam num canto, depressivas, podendo até se matar.
            Quem planta, colhe o que plantou. Então, não façam isso. Seja cuidadosa(o).
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            O racismo é coisa ilegal. A maioria das pessoas comete o racismo. As pessoas que cometem sabem que estão machucando os outros e, a maioria, são pessoas brancas cometendo o racismo com pessoas negras.
            Os brancos acabam falando que é muito vergonhoso ser negro. Vergonhoso não é ser negro; vergonhoso é cometer o racismo.
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            O negro sofre pelo racismo. Tem criança que também sofre racismo.
            (Raça+ismo) s.m.: segregação; prática de preconceito racial; antipatia ou aversão a outras raças.
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            O racismo é violência com palavras quando a sua cor é negra ou branca. Para mim, não existe isso. Todos nós somos iguais.
            O que mede uma pessoa é o caráter da pessoa – se a pessoa é uma pessoa boa.
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            Eu sei o que é o racismo porque eu já sofri racismo. A menina me chamou de "neguinha da Barra Funda" e, por isso, eu quis fazer progressiva. Mas, quando eu me olhei no espelho, eu percebi que eu estava errada. No dia que ela me chamou, eu não tinha falado para a minha vó e, quando eu percebi, eu tinha que ter falado desde o começo.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Aproveite a vida por completo!

            Trabalhar num C.C.A. (Centro para Crianças e Adolescentes), definitivamente, não é fácil; mas é absurdamente bom para o crescimento pessoal. Uma das melhores coisas, nesse trabalho, é que eu consigo tirar um aprendizado de tudo – tudo mesmo!
            Como orientador socioeducativo, o maior presente que ganho é a confiança de cada uma daquelas crianças e daqueles adolescentes. Saber que eles acreditam no meu trabalho é o que direciona as minhas atitudes lá dentro.
            Na última quarta-feira, fui pego de surpresa por um dos meninos, que me disse que sairia do C.C.A.; como estamos sempre brincando e caçoando um do outro, achei que era uma brincadeira e soltei um riso. Imediatamente, ele me disse que era verdade, que ele se mudaria no fim de semana (amanhã) e, por conta disso, não poderia mais ir ao C.C.A.
            No momento, não fiquei com aquilo na cabeça; mas, ao chegar em casa, não parei de pensar naquilo. Há cerca de um mês, uma das meninas da minha turma fez o desligamento pelo mesmo motivo: mudança de casa. Com isso, comecei a pensar e perceber que o nosso tempo (o meu tempo) ali é pouco. Quando menos percebemos, o tempo já passou e algo aconteceu.
            Na quinta-feira (ontem), peguei um pincel e comecei a desenhar no quadro branco. No alto do quadro, escrevi “O que o C.C.A. significa para mim?”; depois, comecei a utilizar todo o espaço do quadro para ilustrar o significado do C.C.A. na minha vida.
Minha ilustração.
            Quando eu saí do meu antigo emprego e fui convidado para ingressar na equipe de trabalho do C.C.A. Parque Mandy, fiquei muito empolgado – eu queria muito fazer parte das vidas daquelas crianças e aprender com elas. Então, expliquei o significado do C.C.A. para mim: um espaço que, embora fechado, é aberto simbolicamente, pois permite a cada um que está lá o conhecimento do novo, o aprendizado, as oportunidades, a recuperação do passado, a vivência do presente, o vislumbre do futuro. Expliquei que há vidas no C.C.A. (centenas de vidas) e há vivências.
             Feito isso, pedi que cada criança também fizesse o mesmo e desenhasse o que o C.C.A. significa para cada uma; e o trabalho rendeu.
Ilustrações das crianças.
            Contudo, quando chegou na vez do D. (o menino que avisara que sairia do C.C.A.), fiquei muito surpreso. Enquanto todas as crianças utilizavam apenas o canto do quadro para desenhar, o D. começou desenhando no centro do quadro branco e expandiu o seu desenho para todo o quadro; fez um menino (!) segurando um pincel e pintando uma linda paisagem numa tela de pintura. O desenho tomava conta do quadro todo. Não comentei nada, apenas fotografei todas as ilustrações.
Ilustração do D..
            Hoje, contudo, percebi certa inquietação do D.; provavelmente, por ser o último dia dele no C.C.A.. Ao fim das atividades, levei toda a turma para uma sala e comecei a falar:

            — Para quem não sabe, hoje é o último dia do D. aqui no C.C.A. — lembrei ao restante da turma. — Mas eu queria comentar algo sobre ontem... Quando pedi que vocês desenhassem o que o C.C.A. significa para cada um, vocês ficaram muito contidos; mesmo eu tendo dito que poderiam utilizar o quadro inteiro. Porém, o D. começou a desenhar e me surpreendeu ao preencher todo o quadro com o desenho dele, além de ter me emocionado ao ver que ele estava no próprio desenho.
            As crianças me olhavam sem compreender direito o que eu queria dizer com aquilo.
            — Eu quero dizer que vocês devem fazer o mesmo que o D. fez, porém, com as vidas de vocês — comentei. — Não deixem alguns momentos da vida passarem direto por vocês; aproveitem a vida por completo; aproveitem tudo o que puderem aproveitar; agarrem todas as oportunidades que surgirem. O tempo é muito incerto e, quando nos damos conta, ele já passou e não pode mais ser recuperado. Eu queria muito que as 33 crianças desta turma ficassem comigo até, um dia, eu sair daqui; mas isso é impossível! Inevitavelmente, vocês também vão sair daqui; se não for por mudança, será porque atingiram a idade máxima permitida aqui dentro, aos 14 anos e 11 meses. E, daí, eu vou ter de recomeçar todo o trabalho com novas crianças... Será difícil, mas vai ser muito legal.
            Algumas das crianças começaram a chorar nesse momento. Mas eu prossegui:
            — Olhem só: em sete meses de trabalho com vocês, nós evoluímos muito! Nós crescemos e só conseguimos isso porque trabalhamos juntos — lembrei-os. — Vocês, hoje, olham mais uns para os outros no sentido de atentar-se e preocupar-se com o outro; vocês, hoje, reconhecem os sentimentos que há em vocês e assumem esses sentimentos. Imaginem o quão amedrontador e angustiante deve ser mudar-se de casa? O medo do desconhecido é normal e ajuda muito no nosso crescimento; e isso fica melhor quando vocês passam a admitir esse medo. D., eu vejo, em você, um futuro brilhante e uma vida repleta de oportunidades; e vejo isso em cada um de vocês aqui porque eu amo muito vocês. Mas a gente não vai ter todo o tempo do mundo pra ficar junto e, por isso, repito o que eu disse: aproveitem todos os momentos, aproveitem a vida por completo!
            A minha vontade era de chorar; deixei as lágrimas caírem, pois tenho essa relação de verdade com as crianças – não escondemos os nossos sentimentos entre nós.
            Pouco tempo depois da conversa acabar, comecei a dispensar algumas das crianças, pois já havia chegado a hora de saída. Nisso, o D. comentou:        
            — Eu não quero ir embora, Júnior.
            Eu só pude olhar pra ele e sorrir. Falei o quanto ele é especial e o quanto essa mudança pode ajudar na vida dele se ele souber aproveitá-la. Ele, então, pediu para ser o último a ir embora (ele é sempre o primeiro).
            Quando todas as crianças já haviam ido embora, ele chegou perto:
            — Bom, estou indo — então, ele pulou para me abraçar (como costuma fazer quando quer me atentar). — Tchau, obrigado!
            Daí, eu vejo o quanto o meu trabalho é recompensador e importante: a minha função me permite ajudar essas crianças e ajuda-las a enxergar o mundo duma maneira inédita para elas. E é assim que deveria ser com todo o mundo.

            Trabalhar num C.C.A., definitivamente, não é fácil; mas é absurdamente bom para o crescimento pessoal.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Quando nasce a intolerância?

            Pra quem ainda não sabe, estou trabalhando como Orientador Socioeducativo num Centro para Crianças e Adolescentes aqui da zona norte de São Paulo. Minha turma conta com cerca de vinte e cinco crianças na faixa etária dos nove aos quinze anos de idade.
            Antes mesmo de entrar lá, eu já havia elaborado um projeto de fomento à leitura e à escrita; mas, quando soube que faria parte da equipe de Orientadores, expandi o projeto e dividi-o em três eixos. Hoje, o projeto consiste no Palavreando, no Fazendo Arte e no Socializando – os três, trabalhados simultaneamente, propiciaram a criação de um quarto: a Mostra Cultural.
            Cada projeto foi nomeado de forma que seu nome o defina.
            O Palavreando objetiva estimular a leitura e o desenvolvimento da escrita; nele, trabalharemos a produção de diversos gêneros: mapas, manchetes, poemas, notícias, narrativas, quadrinhos, rótulos, receitas, gráficos, placas etc. Isso fará com que as crianças e os adolescentes conheçam as possibilidades tanto no mundo da leitura como no da escrita – na escrita, por exemplo, elas aprenderão que não precisam só copiar, mas que elas podem criar.
            O Fazendo Arte será focado na apreciação de obras de arte, filmes, músicas e fotografias. Contextualizarei cada gênero de acordo com as necessidades encontradas na turma; discutiremos sobre os possíveis significados de cada obra; conheceremos os autores e o contexto sociocultural de cada obra. Após todo esse trabalho, no caso das obras de arte, realizaremos releituras e versões – isso permitirá que eles se apropriem dos detalhes passados despercebidos, bem como desenvolvam sua criatividade e sua criação.
            O Socializando foi criado, especialmente, para fazer com que a opinião das crianças e dos adolescentes seja ouvida – afinal, eles também fazem parte da Sociedade e têm o direito de opinar em todo e qualquer debate. Para isso, levarei discussões sobre temas contemporâneos, mas também discutirei temas os quais são evitados: morte, medos, futuro etc. Ainda no Socializando, criaremos um blogue destinado à postagens das atividades realizadas durante o ano, além das mensagens e bilhetes que eles escreverão sobre cada tema discutido.
            A Mostra Cultural, que tem previsão para acontecer ao fim do semestre, será um evento idealizado por eles desde o início: decoração do espaço, produção dos convites, organização das atividades a serem exibidas etc. Isso fará com que eles conheçam o processo de produção de um evento, onde cada um é responsável por uma parte para que todo o grupo consiga exercer o trabalho final.
            E de uma semana e meia pra cá tem sido assim: produções, discussões, ideias... Desde ontem, por conta do Carnaval que está por vir, estamos trabalhando sobre o tema: ontem, fizemos uma pintura do quadro Carnaval em Madureira, de Tarsila do Amaral – falamos um pouco das características carnavalescas que o quadro traz; hoje, pedi que eles retratassem no papel (em desenho ou em texto), aquilo que eles imaginam ao ouvir a palavra Carnaval.
Um Sábado Qualquer
            Nesse momento, ouvi um comentário: “Carnaval não é de Deus!”. No mesmo instante, uma das crianças veio me questionar isso. Perguntei à criança que disse a frase se ela sabia o que estava dizendo; então, outra criança repetiu: “Mas Carnaval não é, mesmo, de Deus, Júnior!”. Então, decidi explicar um pouco sobre a festa conhecida mundialmente.
            Contei às crianças que, possivelmente, a palavra carnaval tem dois significados: carne vale – que significa “adeus, carne!”; e carne levamen – que significa “supressão da carne”. Ambos os significados remetem ao que conhecemos hoje na festa – o período que antecede a Quaresma, uma “pausa” de quarenta dias nos excessos cometidos durante o ano; um período em que a religião católica acredita que se deve existir a privação da carne.
            Pedi às duas crianças que insistiram que a festa “não é de Deus”, que não tentassem impor isso às demais crianças, pois cada um é livre para acreditar ou não acreditar no que quiser. Com isso, uma outra criança comentou: “Júnior, eu acredito em outros deuses, como Buda, os deuses gregos, os deuses africanos...”. Isso gerou uma polêmica ainda maior. Do outro lado, alguém disse: “Deuses africanos? Credo! Eu não gosto de africanos...”.
            Aquilo me deixou surpreso e triste, ao mesmo tempo. Eu fiquei sem saber como agir. Pedi à criança que não disse mais aquilo, pois era um desrespeito muito grande, um preconceito. Expliquei que, no mundo, existem milhares de culturas, e cada cultura acredita em algo. Comecei a citar alguns dos deuses cultuados ao redor do mundo, hoje e antigamente: Zeus, Poseidon, Hades, Afrodite, Atena, Deus, Tupã, Guaraci, Jaci, Jurupari, Hórus, Ísis, Tot, Set, Lilith, Brama, e disse que há centenas de outros. Isso gerou um alvoroço.
            “Só existe um Deus!”, disse uma criança. Ali, eu percebi que não adiantaria continuar com aquela conversa; não naquele momento, sem um preparo maior. Pedi, mais uma vez, que ninguém tentasse impor seu Deus aos demais, que cada um acreditasse no que quisesse, mas guardasse essa crença para si. Mas planejo voltar com esse assunto em breve, pois acredito que deva ser discutido.
            O que eu quero dizer, é que esse episódio, nada mais, é fruto da intolerância religiosa praticada mundialmente. É o exemplo que deixamos para as nossas crianças: imponham suas crenças às demais, pois somente a sua crença é a correta. Mas, agindo assim, nenhuma nunca vai ser a correta, e as mortes e discriminações por intolerância vão continuar acontecendo.
            Nós, adultos, temos o dever de rever os nossos conceitos. É isso mesmo que queremos deixar para as crianças? Queremos, mesmo, mostrar a elas que, no mundo, apenas um deus é o verdadeiro? Chega dessa luta idiota e ignorante! Vamos mostrar às crianças que o mundo é feito de diferenças, é feito de peculiaridades, é feito de culturas distintas.

            Vamos mostrar às crianças que o mundo precisa ser feito de respeito.