O conto a seguir é uma adaptação que fiz para o conto "Branca de Neve e os Sete Anões".
Beatriz é uma jovem de dezoito anos que perdeu o pai recentemente. Com isso, a Kingdom - grande empresa do ramo de segurança - foi deixada para ela e sua madrasta, Milena di Aba. Milena é uma modelo conhecida internacionalmente por sua beleza exuberante, mas está prestes a travar um embate com sua enteada, que está ganhando o título de mulher mais bela do mundo.
Milena estava
decidida e não desistiria de seu plano. Ela mataria Beatriz, não importava o
preço e a forma. Sua última tentativa acabou não dando certo por conta do grupo
de anões que aparecera bem no momento em que ela entraria na casa. Mas a modelo
já havia arquitetado outro plano e o colocaria em prática.
— Mãe? — gritou
Milena, assim que entrou na mansão.
— Sim, o que foi? —
Faustina desceu a escadaria em direção à sala. — O que você quer?
— Você vai me fazer
um favor — decretou Milena. — Preciso que você vá até a Beatriz. Eu a encontrei,
ela está numa pocilga do subúrbio. Você tem que ir até ela toda suja, mal
vestida, como se eu tivesse expulsado você daqui.
— O que planeja? —
perguntou a senhora, desconfiada.
— A morte dela —
respondeu Milena.
— Minha filha! —
Faustina ficou sem palavras. — Não posso fazer isso!
— Então você vai para
fora desta casa de verdade — ameaçou a modelo, impaciente. — Vai ser simples,
não vai doer. Preciso que você entre na casa e se ofereça para cozinhar alguma
coisa... E, então, você vai envenenar a comida.
— Milena, por que
isso? — questionou a mulher. — Você já não tem tudo o que quer?
— Vai ou não me
ajudar? — pressionou Milena. — Não temos muito tempo. Você precisa chegar lá
amanhã, depois das nove, e ir embora antes das cinco da tarde. Mas acho que
você consegue adiantar o serviço.
— Tudo bem... —
concordou Faustina.
No dia seguinte, as
duas acordaram bem cedo. Milena arranjou algumas roupas rasgadas e fedidas para
a mãe.
— Onde achou estas roupas?
— perguntou Faustina, sentindo-se nauseada.
— Peguei de um
morador de rua — disse Milena. — Vista logo.
Faustina se vestiu
com os trapos.
— Falta uma coisa... —
comentou Milena, pegando uma tigela do chão.
A megera passou o
conteúdo da tigela no rosto e na roupa da mãe. Era água suja, da sarjeta.
— Por que faz isso
comigo? — perguntou Faustina.
— Porque você me deve
— explicou Milena. — Vamos, vou deixar você na esquina da rua onde a Beatriz
está.
Do outro lado da
cidade, Beatriz e os sete irmãos tomavam café. Tudo estava bem. Emerson já não
estava tão zangado quanto no dia anterior, e já até se acostumara com a ideia
de uma hóspede.
— Minha querida, está
na hora de irmos — disse Geraldo. — Precisamos trabalhar.
— Está cheio de vidro
para quebrar naquele lugar — comentou Carlos, encenando o ato de quebrar. — O
trabalho na vidraçaria é árduo!
— Tudo bem... —
concordou Beatriz. — Bom trabalho a todos. Farei um belo jantar para esta
noite!
Assim, os anões foram
saindo da casa rumo ao trabalho.
No fim da rua, um
carro estava parado. Geraldo reconheceu o carro, era o mesmo do dia anterior.
Mas não era possível enxergar o interior do veículo, pois os vidros eram
escurecidos. Ao lado de dentro, Milena e Faustina estavam caladas, com a
respiração baixa.
Após os anões irem
embora, Milena suspirou.
— Tome — a modelo
entregou uma ampola com um líquido verde para a mãe. — Este é o veneno.
— O que é isto? —
questionou Faustina. — Que substância é esta?
— Você não precisa
saber — disse Milena. — Vá logo! Ficarei esperando aqui.
— Mas vai demorar até
fazer alguma comida... — avisou a mulher.
— Vá! — insistiu
Milena.
Faustina, então, saiu
do carro e caminhou até a casa. A mulher estava horrível: sem maquiagem, o seu
rosto era cheio de rugas e sulcos; a roupa toda rasgada e suja; o semblante
depressivo. Ela bateu palmas.
— Oi? — Beatriz
apareceu na porta, desconfiada. — Posso... Dona Faustina?
Beatriz ficou perplexa
com o que viu.
— O que houve com a
senhora? — perguntou Beatriz. — Entre, por favor!
A surpresa da menina
foi tanta, que ela nem se deu conta de como a mulher havia-lhe encontrado ali.
— Minha filha... —
murmurou a velha. — A Milena me colocou para fora de casa. Desde ontem! Sem
direito a nada!
— Meu Deus! — clamou
a jovem. — Que coisa terrível! Descanse um pouco...
— Estou com fome... —
interveio a senhora. — Será que tem algo para comer?
— Bem, não tem nada —
disse Beatriz. — Posso tentar cozinhar alguma coisa.
— Não se preocupe —
pediu Faustina. — Deixe que eu cozinho... Apenas me mostre as coisas.
— Tudo bem —
concordou Beatriz, pegando algumas coisas nos armários.
— Maçãs? — Faustina
viu as frutas num cesto. — Que tal se eu fizer uma torta de maçã?
— Nossa! — os olhos
de Beatriz brilharam. — Eu amo sua torta de maçã!
— Então será isso —
disse Faustina.
A velha tomou muito
cuidado durante o preparo, para que Beatriz não a visse colocar o veneno no
meio da massa da torta.
Cerca de duas horas e
meia depois, a torta estava pronta.
— Não vejo a hora de
matar a minha fome! — comentou Faustina.
— Então pode comer o
primeiro pedaço, dona Faustina — ofereceu a jovem.
— Não, não! —
contestou Faustina. — A torta é sua comida favorita... Então experimente!
A contragosto,
Beatriz cortou um pedaço e logo o comeu, saboreando seu prato predileto.
— Ficou com um gosto
diferente — comentou a moça. — A senhora
usou algo diferente?
— Não tinha canela —
mentiu a velha.
— Ah! — compreendeu
Beatriz.
— Posso ir ao
banheiro, querida? — pediu Faustina. — Quero lavar as mãos antes.
— Sim, venha, é por
aqui — Beatriz apontou a porta do banheiro.
Dez minutos depois,
Faustina saiu do banheiro e encontrou a jovem encostada em uma cadeira da
cozinha, um pouco largada.
— Tudo bem, querida? —
perguntou Faustina.
— Acho que a torta
não me caiu bem — respondeu Beatriz. — Não estou me sentindo muito bem. Acho
que...
Então,
repentinamente, a menina caiu no chão.
Faustina correu até
ela e pressionou os seus pulsos. Não havia pulsação. A velha encostou a orelha
no peito da jovem, tentando sentir a respiração, mas não conseguiu. Sem pensar
duas vezes, Faustina correu para fora da casa e seguiu até o carro de Milena,
entrando disfarçadamente.
— E então? —
questionou Milena.
— Está feito —
respondeu Faustina. — Ela comeu. Está caída no chão da cozinha.
— Ótimo! — sorriu a
modelo. — Agora, quando aqueles anões voltarem, vão encontrá-la assim e achar
que está morta. Ela vai ser enterrada viva!
— Como? — Faustina
arregalou os olhos para a filha.
— Isso mesmo — Milena
pisou no acelerador e deu partida. — A substância que você colocou na comida
dela fez a frequência cardíaca e a respiração dela diminuir, de modo que pareça
que ela está morta.
— Não! — gritou
Faustina.
— Fique quieta, mãe! —
Milena deu uma cotovelada na mulher, que desmaiou.
A modelo, então,
partiu rumo a sua empresa, Kingdom, o
seu império.
Beatriz ficou lá, no
chão gelado daquele sobrado, onde permaneceria até que os sete irmãos
retornassem e a encontrassem.Leia aqui o final da história.
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