O conto a seguir é uma adaptação que fiz para o conto "Branca de Neve e os Sete Anões".
Beatriz é uma jovem de dezoito anos que perdeu o pai recentemente. Com isso, a Kingdom - grande empresa do ramo de segurança - foi deixada para ela e sua madrasta, Milena di Aba. Milena é uma modelo conhecida internacionalmente por sua beleza exuberante, mas está prestes a travar um embate com sua enteada, que está ganhando o título de mulher mais bela do mundo.
Os sete irmãos
estavam alegres na volta para casa: cantarolavam em coro na rua. Ao chegar na
porta de casa, notaram a porta entreaberta e logo correram para dentro, onde se
depararam com o pior.
— Não! — gritou
Carlos, com certo ar dramático.
— Beatriz! — Geraldo
logo correu e segurou o pulso da menina.
Em seguida, o mais
velho dos irmãos começou a pressionar o peito da menina com as duas mãos, como
uma massagem cardíaca. Ele estava desesperado.
— Vou chamar um
médico! — disse Danilo, em meio a espirros.
— Emerson, André e
Carlos, ajudem-me a colocá-la no sofá — pediu Geraldo.
Com muita
dificuldade, os quatro anões conseguiram levar o corpo de Beatriz até o sofá.
Enquanto isso, Breno trazia um copo de água, inesperadamente.
— Breno, o que é
isso? — perguntou Felipe, encostado no outro sofá, caindo de sono.
Breno fez um gesto,
indicando Beatriz.
— Ela está morta, sua
besta! — resmungou Emerson, muito bravo.
Breno fez uma cara
triste e afundou o rosto em suas mãos, chorando.
— Acalme-se, moço —
implorou André, tentando manter o ânimo dos irmãos. — Não podemos fazer mais
nada!
— Droga! — gritou
Emerson. — Quem fez isso a ela?
— Será que foi um ladrão?
— Carlos fechou as cortinas. — É melhor chamar a polícia, também!
— Não! Não foi um
ladrão — disse Geraldo. O homem vinha da cozinha com uma forma na mão; era a
torta de maçã feita por Faustina. — A menina foi encontrada no chão da cozinha.
Esta torta estava em cima da mesa, e têm dois pratos lá; um vazio e um com um
pedaço de torta mastigada.
— Ela foi envene... —
disse Danilo, antes de espirrar. — Nada!
— A madrasta dela! —
concluiu Emerson. — Ora... Se eu pegar aquela mulher!
— Não... — interveio
Geraldo. — Não podemos mais fazer nada! Infelizmente, ela está morta... Se
formos atrás da madrasta da Beatriz, poderemos sofrer as consequências.
— Não ligo pra isso,
Geraldo! — contestou Emerson. — Vamos logo!
Então, o som de
sirene surgiu e ficou ensurdecedor no momento. Geraldo correu para fora e
recebeu a equipe médica: um jovem médico e o motorista.
— O que houve aqui,
senhores? — questionou o médico.
— Doutor, ela foi
envenenada! — contou Emerson.
Geraldo o fulminou
com o olhar. Agora teriam que contar sobre a madrasta da menina.
— Envenenada? Isso é
coisa séria! — disse o médico, enquanto examinava a jovem. — Fábio, ajude-me a
colocá-la na maca.
O motorista e o
médico remanejaram a jovem e correram com ela para a ambulância.
— Ei, doutor! —
chamou Geraldo. — Para onde vão levar a moça?
— Para o hospital,
oras! — respondeu o médico. — Quem de vocês irá acompanhá-la?
— Todos nós, doutor —
respondeu Emerson.
Antes que o médico e
o motorista pudessem reclamar ou contestar, os sete irmãos entraram e se
arrumaram na ambulância. O carro deu partida e correu para o hospital mais
próximo.
Já no hospital, as
pessoas se assustaram quando sete anões saíram de uma ambulância ao lado do
motorista, do médico e de uma menina desfalecida na maca.
— UTI! — gritou o
médico para a equipe do hospital.
As portas, então,
fecharam-se diante dos sete homens. Apenas o médico e o restante da equipe
puderam entrar na área restrita junto ao corpo de Beatriz.
— E agora? —
perguntou Emerson, impaciente.
— Esperaremos —
respondeu Geraldo, sentando-se num banco.
Cerca de três horas
depois, e mais de cem voltas dentro da sala de espera, os anões avistaram o
médico passar pela porta:
— Doutor! — gritou
Geraldo.
— E a Beatriz? —
perguntou Danilo, segurando o espirro.
— Quem são vocês? —
perguntou o médico. — Aquela moça é Beatriz Nevada, não é?
— É ela mesma, doutor
— confirmou Geraldo. — Ela apareceu na nossa casa ontem, pedindo ajuda.
Deixamos ela ficar... A menina parece ser muito boazinha!
— E é... — comentou o
médico.
— Hein? — estranhou
Emerson.
— Eu a reconheci —
disse o médico. — Estudamos juntos no ensino médio. Quer dizer... Eu estava à
frente dela. Mas ficamos amigos. O pai dela faleceu recentemente... Tentei
voltar a falar com ela, mas não consegui. Quem a envenenou? Precisamos chamar a
polícia.
— Doutor, não foi a
gente — comentou Carlos. — Não queremos problemas.
— Ela está fugindo de
alguém... — revelou Emerson. — E acho que esse alguém descobriu onde ela estava
se escondendo e invadiu a nossa casa enquanto estávamos trabalhando. Foi a
madrasta dela!
— Milena di Aba —
concluiu o médico. — Como? Ela não colocaria sua carreira em risco...
— Acredite no que
quiser — ameaçou Emerson. — Podemos ver a menina logo?
— Claro que não! —
respondeu. — Olhem... Ela está na UTI. Está em estado grave.
— Então está viva? —
questionou André, sorrindo.
— Por enquanto —
disse o médico. — A substância do envenenamento simulou a morte dela; fez com
que a frequência cardíaca e respiratória se reduzisse a ponto de não ser
percebida. Com isso, o corpo dela esfriou. Tivemos de colocá-la numa câmara.
— Ela está
encaixotada? — questionou Carlos.
— Não é bem isso... —
explicou o médico. — É uma espécie de “caixa” de acrílico que impede organismos
nocivos à saúde de entrarem em contato com ela, e também faz a manutenção da
temperatura corporal.
— Doutor Reis, o
paciente 101 entrou em choque — anunciou uma voz mecânica. — Favor, dirija-se à
UTI.
— Preciso ir, gente!
— disse o médico. — É a Beatriz!
— O quê? — Geraldo
ficou em choque.
Derrubando a
segurança, os sete homens correram atrás do médico. Enquanto o médico vestia
uma roupa esquisita para entrar na UTI, os homens ficaram vendo de fora – a
sala tinha paredes de vidro, então era possível ver o seu interior sem problema
algum.
O doutor Reis – como havia
sido chamado no anúncio – foi até o leito de Beatriz, que era o único daquela
UTI, e começou a fazer manobras de ressuscitação.
Breno, inquieto,
começou a bater no vidro. Os outros começaram a chorar. Até mesmo Emerson, o
zangado da turma, deixou as lágrimas caírem.
Reis suava enquanto
tentava trazer Beatriz de volta à vida. Ele não desistiria, não podia desistir.
Beatriz era o seu primeiro amor; foi quem mais amou durante a adolescência, mas
não puderam namorar porque a madrasta da menina dizia que namoros não “davam em nada”. Agora, por obra do
destino, ou do acaso, a jovem estava ali, morrendo em suas mãos.
O médico viu que não
tinha saída; era inútil persistir. Percebendo que não havia seguranças ali, ele
permitiu que os sete homens entrassem no leito para se despedirem da moça.
Geraldo foi o primeiro, deu um beijo na caixa transparente que envolvia
Beatriz; Felipe, sonolento, passou a mão no acrílico e suspirou; Danilo segurou
o espirro naquele momento, e inspirou profundamente, tentando segurar o choro;
Carlos não tinha o que encenar, não ali, então pegou uma flor na entrada da UTI
e deixou-a sobre a câmara de acrílico; Breno quase pronunciou um som ao se
aproximar da caixa, mas deixou-se levar pelo choro e saiu dali; André deu seu
último sorriso à Beatriz, desejando-lhe paz e tranquilidade; Emerson ficou de
longe vendo tudo, ele não queria se despedir porque não aceitava aquilo.
— Rapazes, preciso
que esperem lá fora — pediu Reis. — Vou terminar o procedimento para liberar o
corpo. Fiquem lá, que eu já vou até vocês.
Os sete anões saíram
da UTI e seguiram rumo à saída do hospital, quando foram pegos pelos seguranças
e levados à delegacia.
Enquanto isso, o
médico admirava Beatriz. Aquela pele negra, macia; o cabelo ondulado; ela era
linda. Enquanto abria a câmara de acrílico, Reis fitava a jovem. Foi, então,
que ele fez o que não devia fazer: beijou a moça. Foi um selinho, mas o médico
beijou a paciente – morta.
Ele chorou em
seguida, mas não queria passar a vida sem ter ao menos tocado os lábios da
menina que mais tinha amado. Foi aí que as coisas mudaram. De repente, o
monitor cardíaco de Beatriz reagiu. Pequenas ondas começaram a cintilar no LED,
até formarem uma bela sinfonia cardíaca. O coração da jovem voltou a bater, e
ela voltou a respirar.
— Enfermeira! —
gritou o médico. — Enfermeira!
Uma equipe entrou no
local e auxiliaram o médico com o que ele pediu.
Seis horas depois, já
com os sete anões de volta ao hospital – graças ao doutor Reis, que havia ido
até a delegacia e esclarecido a situação ao delegado –, o médico seguiu para o
quarto em que estava a jovem Beatriz. Por algum milagre, a menina havia voltado
da morte e estava melhor do que antes de ter entrado, como se nunca lhe tivesse acontecido nada.
— Bom dia! — Reis
entrou no quarto.
— Bom dia, doutor! —
respondeu Beatriz. — Onde estou? O que houve?
— Você está no
hospital — contou o médico. — Você foi envenenada, e seus amigos trouxeram você
até aqui. Você quase morreu, ou talvez tenha morrido, mas surpreendeu a todos.
— Eita... — a menina
ficou surpresa. — Sério mesmo?
— Sério — afirmou o
médico. — Posso permitir as visitas?
— Claro! — disse a
jovem, sorrindo.
Assim, o médico abre
novamente a porta e, então, os sete irmãos entram no quarto, todos sorridentes.
— Beatriz! — disseram
em coro, correndo e se amontoando em volta da menina.
— Obrigada, rapazes!
— agradeceu a menina. — Ainda não sei exatamente o que houve, mas obrigada!
— Foi a sua
madrasta... — disse Emerson, cansado de guardar as coisas. — Aquela mulher é o
diabo! Como consegue envenenar alguém? Mas eu não desisti de você, mesmo quando
o seu amiguinho aí já tinha desistido.
— Amiguinho? —
estranhou Beatriz. — Quem?
— Não me reconheceu,
mesmo? — questionou Reis.
— Ai, meu Deus! —
Beatriz teve uma rápida lembrança. — James! Você virou médico?
— Sim! — o médico não
resistiu e abraçou a jovem. — É bom tê-la viva!
Ele deu um beijo tão
forte na bochecha dela, que ela percebeu algo diferente.
Depois de muita
risada e comemoração, os sete anões foram para casa, onde esperariam pela volta
de Beatriz, que receberia alta naquela tarde.
— James... — chamou
Beatriz.
— Sim? — o médico
deixou seu caderno de lado e olhou para a jovem.
— Não lembro muito
bem o que houve depois de acordar... — comentou a menina. — Quero dizer, da
primeira vez, quando voltei. Eu apenas não consegui abrir os olhos, mas senti e
ouvi tudo.
— Do que está
falando? — ele não quis parecer invasivo.
— Vem aqui... — pediu
Beatriz.
— O que foi? —
perguntou o médico, sentado ao lado da menina.
Então, Beatriz o
agarrou e o beijou; não um selinho, mas um longo beijo.
— Ei! — disse ele,
após se recompor. — Calma aí, donzela! O que foi isso?
— Algo que eu tinha
vontade de fazer desde o ensino médio — revelou. — James, eu senti você me
beijando quando eu voltei. Foi você!
— Beatriz, desculpe
se não devia... — suplicou ele. — É que eu sempre fui louco por você, mas...
— Case comigo! —
disse a jovem, direta.
— Como? — estranhou o
médico.
— James, nós
convivemos por quatro anos naquela escola... Éramos namorados sem nunca ter-nos
beijado — concluiu ela. — A gente sabe que o sentimento um pelo outro é bem
maior do que a gente acha. Por que deixar passar mais uma vez?
— Mas e sua madrasta?
— perguntou, preocupado.
— Vou dar queixa dela
na polícia — respondeu Beatriz. — Da mãe dela, também. Provas e testemunhas não
faltam!
— Eu amo você,
Beatriz Nevada! — confessou James.
— Eu amo você, James
Reis! — disse a jovem. — Agora, leve-me embora daqui!
Assim, os dois saíram
do hospital.
Beatriz e James
chegaram à casa dos sete anões e contaram a novidade, que deixou todos atônitos
pela festa que viria. Depois disso, todos foram à delegacia com as provas e os
relatos da tentativa de assassinato de Beatriz pela madrasta. Pouco menos de
três meses depois, os dois se casaram e foram morar na mansão que era do pai de
Beatriz.
Milena di Aba e sua
mãe, Faustina, foram condenadas à prisão perpétua e foram enviadas ao mesmo
presídio, em uma cidade muito quente. A modelo tentava subornar os agentes
carcerários, inutilmente, pois esses não ligavam para o que ela tinha a
oferecer: a mãe. Victor Vitral é quem visitava a condenada e levava alimento; o
homem acabara ficando com a imagem suja por trabalhar para uma assassina.
Arthur, o segurança particular da megera, ainda estava desaparecido; ninguém
sabia sobre o seu paradeiro.
— Senhora Milena di
Aba, visita! — anunciou o carcereiro, abrindo a cela para que a mulher saísse.
— Sem gracinha, certo?
Milena mostrou um
sorriso sem graça ao agente.
— Vai, entre aí! — o
agente empurrou a mulher para dentro de uma sala.
— Mas que inferno!
Não se faz mais homens como antigamente! — resmungou a mulher, enquanto se
sentava. — A quem devo a honra de uma visita?
— Oi, Milena — a voz
masculina, do outro lado da mesa, exibiu o seu dono ao virar a cadeira de
frente para a modelo. — Há quanto tempo, não é?
— Você! — disse
Milena, quase sem fôlego. — O que faz aqui?
— Digamos que agora eu quem estou numa posição alta — disse
o homem. — E você vai trabalhar para mim.
— Jamais! — decretou
a mulher.
— Então vai ficar
presa aqui até morrer? — questionou. — Vai deixar os seus ossos de lembrança
aos futuros carcereiros? Veja, eu já negociei a sua saída. A sua, e a de sua
mãe.
— Ora, ora... —
sorriu Milena. — Eu ficarei honrada em trabalhar para você!
— Então volte para
sua cela e arrume suas malas — disse o homem. — Avise sua mãe que ela será
minha esposa. Gosto dela.
— Que mau gosto! —
opinou Milena.
— Não pedi sua
opinião — respondeu ele. — É bom você me respeitar, pois será minha afilhada!
Serei como um pai para você.
— Só uma dúvida... —
desejou a megera.
— Ok — concordou ele.
— Diga.
— Por quê? —
perguntou ela, curiosa. — Por que isto?
— Quero ter o prazer
de esmagar você, Milena di Aba — contou o homem. — Quero saber como o gato se sente
ao pegar o rato. E eu tenho tudo planejado para você, todo o seu futuro. Adotei
Mirella, também; ela será sua irmãzinha.
— Não acredito nisso!
— esbravejou a mulher. — Ela é só uma criada!
— E você também será —
prometeu ele. — Mirella é muito mais bela do que você. Você ainda vai sofrer
tudo o que fez as pessoas sofrerem, Milena. Até logo!
— Não! Ninguém é mais
bela do que eu! — gritou Milena, vendo o homem ir embora. — Volte aqui! Arthur,
volte aqui!
Mas ele não voltou.
Arthur, o antigo segurança particular de Milena, estava de volta, e estava
cheio de planos para a sua querida ex-patroa. Milena mal sabia o que esperava
por ela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Me dê a sua opinião, pois será importante para o meu aperfeiçoamento e para que eu possa fixar em áreas específicas da preferência do público.