Opinião | Júnior Gonçalves
30/09/2014 – 12h04
Uma série de fatores
contribuiu para o problema. A culpa recaiu, inicialmente, sobre a falta de
chuva, embora esteja explícito que as chuvas recentes mal fizeram cócegas no
estado atual dos reservatórios e que seria necessário, no mínimo, um mês de
chuvas intensas para causar alguma modificação nessa situação.
Depois, estudos
mostraram que o desmatamento causado nas áreas florestais próximas aos sistemas
e na Amazônia contribuiu para a primeira questão – as florestas possuem a
importante função de reter a água da atmosfera e contribuem para a manutenção
da umidade do ar. Se o ar está seco na região dos reservatórios, há o
consequente aumento da evaporação na represa. Esses estudos revelam que até 70%
da precipitação em São Paulo depende da água vinda da Floresta Amazônica.
Há, também, o
desperdício da água que sai dos reservatórios e segue rumo às residências e aos
comércios. Cerca de 25% da água é “perdida” entre tubulações antigas e conexões
clandestinas – os famosos “gatos”. Sem contar os usuários que gastam água sem
pensar nas consequências, lavando as calçadas, os carros, lavando as roupas
muitas vezes, tomando banhos demorados várias vezes ao dia etc.
Não se pode deixar de
citar a questão da má gestão da Sabesp. A crise atual se deve a um problema de
demanda de água. A Organização das
Nações Unidas – ONU – estabelece que uma pessoa consegue se manter
suficientemente com 110 litros diários para o seu consumo, alimentação e
higiene. Na cidade de São Paulo, o número chega aos 140 litros diários por
pessoa. Em algumas outras cidades, esse número alcança os 200 litros diários. A
companhia recebeu vários alertas, durante anos, sobre relatórios que apontavam
a necessidade de ampliação dos sistemas, principalmente do Sistema Cantareira.
Em meio à crise, o
governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, decretou racionamento no
município de Guarulhos. Algo absurdo, já que o Sistema Cantareira ficou anos
sem receber investimentos governamentais, mesmo com os vários relatórios apontando
a necessidade. Mesmo avisado por técnicos e especialistas da área, Alckmin não
quis impor o racionamento na cidade de São Paulo, optando pela realização de
obras no Sistema Cantareira. Foi dessa forma que inaugurou as obras para
captação do tão falado Volume Morto. Apesar disso, moradores e comerciantes da
periferia de São Paulo já sofrem, desde meados de julho, um racionamento
mascarado. O governador prefere chamar isso de “rodízio”, no qual se procura a
diminuição do consumo por meio da redução da pressão da água durante a noite.
Contudo, essa redução
não é apenas uma redução, de fato. Muitos moradores das periferias não
conseguem utilizar água após oito horas da noite. Não houve nem mesmo o cuidado
de alertar aos moradores e comerciantes dessas regiões.
Em ano eleitoral, é
de se imaginar que Alckmin não queira deixar seu eleitorado insatisfeito.
Ironicamente, pesquisas mostram que os bairros nobres da capital gastam o dobro
de água que os bairros periféricos. A política de bônus na conta de água foi a
ação mais “efetiva” que o governador tomou, e isso fez com que toda a população
da periferia aderisse à causa. Ainda assim, os números do Sistema Cantareira
continuam a cair, e o governador permanece resistente às sugestões de
especialistas em aderir, de fato, ao racionamento.
No início desta
semana, o governador chegou a afirmar que o período de seca enfrentado pelo
Sistema Cantareira “já passou”, e que, talvez, nem precisemos utilizar o Volume
Morto.
Planejar, quando em
gestão pública, é prevenir. E foi o que Alckmin menos fez. O governador atribui
a causa única e exclusivamente à falta de chuvas. Esqueceu-se de todos os
avisos e alertas sobre necessidade de investimentos para que a Sabesp pudesse
construir um sistema de distribuição seguro, adequado. Enxergamos, aqui, a
mesma inação que a gestão de Alckmin apresenta na área da saúde, da educação,
da segurança e do transporte. Falta transparência, falta sinceridade para com a
população e seus próprios eleitores. Permanecer em uma posição, mesmo com
tantos alertando o perigo que essa pode trazer, não é cuidar da população.
Fazê-lo, é acomodar-se e garantir votos. É causar uma tempestade – apenas
figurada, diante de nossa situação – em um copo d’água.
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