O Espiritismo surgiu
na França, no século XIX, graças a um pedagogo – Allan Kardec. Para os
espíritas mais engajados, o Espiritismo é uma doutrina – um conjunto de leis e
princípios – revelada por espíritos superiores a Kardec, que a codificou em
cinco trabalhos, hoje conhecidos como: “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos
Médiuns”, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”.
Doutrina ou religião?
Isso não fica bem explicado. Algumas filosofias são baseadas em seus livros
fundamentais (o Marxismo, por exemplo, em “O Capital”, de Karl Marx), mas nem
por isso podem ser consideradas como religiões. Segundo Maria Laura Viveiros de
Castro Cavalcanti, estudiosa do Espiritismo no Brasil e professora do
Departamento de Antropologia Cultural da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), a visão religiosa é criada quando se explica a realidade social pela
realidade sobrenatural – sendo assim, pode-se dizer que o Espiritismo é uma
religião.
Allan Kardec |
História
Durante o século XIX,
aconteceu um fenômeno que mexeu com a Europa: as mesas girantes. O fenômeno
consistia no movimento, sem causa física aparente, de mesas e outros objetos
mais pesados. Isso acontecia nos salões, após os saraus que eram feitos.
O fenômeno atraiu a
atenção de um pesquisador. Seu nome era Hippolyte Leon Denizard Rivail. Ele era
um pedagogo francês, poliglota, autor de diversos livros didáticos e seguidor
de um rigoroso método de investigação científica. Por conta disso, não
conseguiu aceitar aqueles fenômenos. Passou a estudá-los e observou que forças
inteligentes participavam daquelas movimentações, e investigou a natureza dessas
forças, que se identificaram como “os espíritos dos homens” que já haviam
falecido.
O pedagogo passou a
interrogar os espíritos, analisando as respostas, comparando-as e
codificando-as. Tudo passava por uma “peneira” da razão. A partir dessas
codificações, foi criado “O Livro dos Espíritos”, com o qual o professor Rivail
se imortalizou, adotando o pseudônimo de Allan Kardec – em uma sessão que
presenciou, ele ouviu de um médium que ele fora um celta chamado com esse nome;
como Kardec, ele deveria juntar os diversos ensinamentos dos últimos séculos
numa doutrina que propagasse os ideais de Cristo e trouxesse amparo aos
corações humanos.
A nova religião
incitou a fúria da Igreja Católica, já que no Espiritismo, Cristo não é filho
de Deus, mas um espírito evoluído. No Espiritismo, a Redenção é algo
progressivo, onde a evolução de cada espírito deve alcançar degraus – enquanto no
Catolicismo, isso acontecerá em um evento único e universal. Esses dois pontos
provocaram grande alarde. Sem contar na questão da reencarnação, que não existe
no Catolicismo.
A religião chegou ao
Brasil em 1860, e foi acompanhada pela perseguição. A prática espírita era
considerada um crime pelo Código Penal de 1890. Mas a religião se fortaleceu e
mostrou à população um de seus maiores méritos: a caridade. O salto do Espiritismo
no Brasil se deu pelo fato dos centros espíritas terem como marca o fazer bem
às comunidades ao seu redor.
Em uma cidade de
Goiás, Palmelo, há uma forte crença no Espiritismo. A cidade foi fundada
exclusivamente por espíritas. Anualmente, recebe cerca de 50.000 visitantes que
buscam consolo para suas angústias físicas e espirituais. A cidade não permite
a venda de bebidas alcoólicas e, nas ruas, há placas com ensinamentos espíritas
tirados dos livros de Allan Kardec. Mas a cidade goiana é um fato isolado. Os
espíritas são conhecidos pela sobriedade e pelos baixos níveis de proselitismo –
não vivem em prol de convencer as pessoas de suas crenças.
Preceitos
A base da religião
está contida nas obras de Allan Kardec. E, desde o seu surgimento, o
Espiritismo reivindica um status de ciência e filosofia, além da religião.
Segundo a religião,
todo homem é um médium – um canal de comunicação entre os vivos e os espíritos.
Nos centros espíritas, a liderança geralmente é reservada ao médium mais
experiente, ou ao próprio fundador do centro. Os médiuns se comunicam com os
espíritos dos modos mais diversos. Houve um período em que a comunicação era
feita por meio de batidas nas paredes. Hoje, a psicografia e a incorporação são
os meios principais.
O Espiritismo prega
que os espíritos são criados em um ponto zero. Todos são imperfeitos e, ao
longo de várias e sucessivas encarnações, devem chegar à perfeição. Cada
encarnação permitirá ao espírito aprendizado sobre bondade, tolerância e
caridade. O livre-arbítrio – a habilidade de escolher o seu próprio destino – é
algo muito dito na religião e, por isso, não há só “santos”. Segundo o
Espiritismo, há espíritos “maus” destinados a encarnações cheias de sofrimento.
E esses espíritos só alcançaram a iluminação e o nível superior ao passo em que
eliminarem seus hábitos ruins e praticarem o bem.
Algo curioso é que o
Espiritismo acredita na vida em outros planetas. Para os espíritas, os
espíritos são intergalácticos. Não que isso signifique que existam alienígenas
pilotando discos voadores pelo espaço, mas formas de vida – incluindo as formas
minerais – que são habitadas por espíritos em diferentes estágios de evolução.
Pode-se dizer que o Espiritismo foi o precursor das religiões e doutrinas da
Nova Era.
Allan Kardec dividiu
o homem em três partes básicas: espírito (a essência imortal), corpo (o
invólucro material) e perispírito (o “corpo” que reveste o espírito). Ao
morrer, o espírito e o perispírito se libertam do corpo material e seguem rumo
à reencarnação. Esse espírito reencarnará o número de vezes necessário para sua
evolução. Assim, o Espiritismo tem o Plano Físico (o mundo material) como uma
escola de aprendizagem.
Temas polêmicos como
o aborto, a eutanásia e o suicídio são condenados – como em grande parte das
religiões –, mas são possíveis porque cada ser tem o livre-arbítrio. A
homossexualidade não é condenada, uma vez que as virtudes ou defeitos não
sofrem variações em função do sexo do corpo material – mas a pederastia (o fato
do homossexual se entregar aos hábitos e práticas promíscuas, que desrespeitem
a si e aos outros) o é. Na verdade, o Espiritismo explica a homossexualidade
com quatro origens possíveis: a expiação, a opção, o estímulo dos pais, e a
missão.
Na expiação, um espírito
que abusou do sentimento do sexo oposto apenas para saciar seus instintos
sexuais na encarnação anterior, reencarna, obrigatoriamente, em um corpo oposto
– para sentir na pele as humilhações que fez sentir na outra vida. No caso da
opção, ocorre um vício. O Espiritismo explica que, assim com há viciados em
drogas, há viciados no sexo que procuram sensações e, por isso, acabam
desenvolvendo práticas homossexuais. O estímulo dos pais ocorre quando pais
frustrados estimulam comportamentos equivocados na conduta sexual dos seus
filhos – como a mãe que esperava pela vinda de uma menina e recebeu um menino,
e vice-versa. Quando a origem é por conta de uma missão, na qual os espíritos
pretendem dedicar-se a determinadas tarefas, optando por inibir seus impulsos
de reprodução.
Para os espíritas,
Deus é uma forma de inteligência suprema. É eterno, imutável, imaterial, justo,
bom e onipotente. Jesus Cristo, por sua vez, não é o filho de Deus, mas um
espírito mais evoluído – um modelo para toda a humanidade.
O “passe” é um
elemento muito conhecido no Espiritismo. Durante a sessão espírita, o médium
transmitirá aos seguidores energias consideradas benéficas para sua saúde
física e espiritual.
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