Há
muito tempo atrás, em 1500, havia uma terra ignorada pelo resto do mundo.
Terra, essa, habitada por milhões de povos nativos, que acabaram ficando
conhecidos como índios. Mas a chegada
de uma frota vinda de Portugal, comandada por um homem chamado Pedro Álvares
Cabral, mudou completamente o destino dessa terra.
A
terra, que ficou conhecida como Brasil, era o lar de um gigante, um ser
colossal, dono de força, esperança e perseverança sem iguais. Mas, assim que os
portugueses chegaram, eles conseguiram derrubar o gigante. Derrubaram-lhe e
deixaram-lhe amarrado debaixo do solo.
Desde
então, esse gigante – o qual não se sabe o nome – vem travando uma séria
batalha. Por diversas vezes tentou se reerguer e lutar por seus direitos, lutar
pelo simples direito que lhe fora tomado, o direito de viver dignamente. A mais
recente foi em junho de 2013.
Tudo
começou por conta do aumento no preço das tarifas do transporte público em
várias cidades do país. Nesse momento, o gigante – aquele, adormecido – viu uma
oportunidade de reerguer-se. E assim o fez. Os grupos que tomavam frente da
manifestação desataram as amarras que ainda seguravam o gigante. e o espetáculo
foi lindo!
O
gigante se rebelou. Ele partiu para cada uma das cidades que realizava os
protestos, e lutou com força, esperança e perseverança. Lutou bravamente.
Enfrentou as milícias que os governos enviaram às ruas. Defendeu a sua terra,
exigiu os seus direitos. E ele conseguiu. Por muito lutar, o gigante demonstrou
que possuía força o suficiente para conquistar o que lhe havia sido tomado. Houve
violência contra aqueles que lutavam por seu direito. Mas o governo, depois de
muito tempo – aqui, recordamo-nos dos tempos da Ditadura Militar –, teve de
ceder à vontade do povo. Tudo isso, porque o gigante acordara.
E o
gigante conseguiu finalizar a batalha com sucesso. Seus direitos foram-lhe
reafirmados. Ali, toda uma nação parabenizava-se pela atitude. Foi lindo de
ver. Após isso, várias manifestações passaram a acontecer no país – o gigante
exigia o fim da corrupção, melhorias no transporte, debate sobre temas como o
ato médico, as PECs 37 (que visava proibir investigações do Ministério Público)
e 33 (que visa reduzir os poderes do Supremo Tribunal Federal).
Mas
o tempo passou. Em 2014, o país ansiava pela chegada de um evento esperado por
décadas: a Copa do Mundo. Sim, o “País do
Futebol” sediaria a Copa do Mundo, receberia as seleções mundiais para um
grande campeonato. Irônico é o fato de que os gastos do governo com a Copa do
Mundo fora um dos assuntos tratados durante a ascensão do gigante. Durante a
Copa, o gigante tentou reagir, mas as tentativas foram inúteis – o exército
estava nas ruas, impedindo quaisquer manifestações populares. A Copa aconteceu,
e o resultado final não foi bem aceito pela nação.
A
partir de então, o gigante começou a perder forças. São Paulo, a cidade mais
populosa do país, dava indícios de uma crise em seu sistema de abastecimento
hídrico. Por conta da Copa, as informações quase não eram discutidas – fez-se
uma política de silêncio. O governo do estado conseguiu calar o gigante,
propondo bônus nas contas de quem reduzisse o consumo de água – e, ainda,
conseguiu fazer um racionamento maquiado.
A
esperança final era o período de outubro: as eleições. Parte da nação esperava
que o gigante ganhasse forças novamente, persistisse e não desistisse de sua
esperança. Parte da nação imaginava a vitória do gigante sobre o governo, no
dia 5 de outubro de 2014.
Mas,
infelizmente, nesse dia, o gigante perdeu. O gigante, que outrora havia se
mostrado forte em sua ascensão, agora parecia não ser o mesmo. Ele tentou se
levantar, mas a preguiça falava mais alto – a comodidade falava mais alto. As
coisas permaneceram da mesma forma, em todos os lugares. O gigante percebeu,
também, que não havia água para beber, mas preferiu não protestar. Preferiu
acreditar em seu governo.
Aqui,
o gigante se esqueceu de sua pátria. Deixou-se ser conduzido. Obedeceu a ordem
do governo e deixou de lado o progresso. Mas ainda há uma parcela da nação que
não desistiu. Essa parcela aguarda o dia em que o gigante se reerguerá com uma
força jamais vista e, desta vez, não voltará a dormir.
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