sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Crônica: Verás que um filho teu não foge à luta!


            Há muito tempo atrás, em 1500, havia uma terra ignorada pelo resto do mundo. Terra, essa, habitada por milhões de povos nativos, que acabaram ficando conhecidos como índios. Mas a chegada de uma frota vinda de Portugal, comandada por um homem chamado Pedro Álvares Cabral, mudou completamente o destino dessa terra.
            A terra, que ficou conhecida como Brasil, era o lar de um gigante, um ser colossal, dono de força, esperança e perseverança sem iguais. Mas, assim que os portugueses chegaram, eles conseguiram derrubar o gigante. Derrubaram-lhe e deixaram-lhe amarrado debaixo do solo.
            Desde então, esse gigante – o qual não se sabe o nome – vem travando uma séria batalha. Por diversas vezes tentou se reerguer e lutar por seus direitos, lutar pelo simples direito que lhe fora tomado, o direito de viver dignamente. A mais recente foi em junho de 2013.
            Tudo começou por conta do aumento no preço das tarifas do transporte público em várias cidades do país. Nesse momento, o gigante – aquele, adormecido – viu uma oportunidade de reerguer-se. E assim o fez. Os grupos que tomavam frente da manifestação desataram as amarras que ainda seguravam o gigante. e o espetáculo foi lindo!
            O gigante se rebelou. Ele partiu para cada uma das cidades que realizava os protestos, e lutou com força, esperança e perseverança. Lutou bravamente. Enfrentou as milícias que os governos enviaram às ruas. Defendeu a sua terra, exigiu os seus direitos. E ele conseguiu. Por muito lutar, o gigante demonstrou que possuía força o suficiente para conquistar o que lhe havia sido tomado. Houve violência contra aqueles que lutavam por seu direito. Mas o governo, depois de muito tempo – aqui, recordamo-nos dos tempos da Ditadura Militar –, teve de ceder à vontade do povo. Tudo isso, porque o gigante acordara.
            E o gigante conseguiu finalizar a batalha com sucesso. Seus direitos foram-lhe reafirmados. Ali, toda uma nação parabenizava-se pela atitude. Foi lindo de ver. Após isso, várias manifestações passaram a acontecer no país – o gigante exigia o fim da corrupção, melhorias no transporte, debate sobre temas como o ato médico, as PECs 37 (que visava proibir investigações do Ministério Público) e 33 (que visa reduzir os poderes do Supremo Tribunal Federal).
            Mas o tempo passou. Em 2014, o país ansiava pela chegada de um evento esperado por décadas: a Copa do Mundo. Sim, o “País do Futebol” sediaria a Copa do Mundo, receberia as seleções mundiais para um grande campeonato. Irônico é o fato de que os gastos do governo com a Copa do Mundo fora um dos assuntos tratados durante a ascensão do gigante. Durante a Copa, o gigante tentou reagir, mas as tentativas foram inúteis – o exército estava nas ruas, impedindo quaisquer manifestações populares. A Copa aconteceu, e o resultado final não foi bem aceito pela nação.
            A partir de então, o gigante começou a perder forças. São Paulo, a cidade mais populosa do país, dava indícios de uma crise em seu sistema de abastecimento hídrico. Por conta da Copa, as informações quase não eram discutidas – fez-se uma política de silêncio. O governo do estado conseguiu calar o gigante, propondo bônus nas contas de quem reduzisse o consumo de água – e, ainda, conseguiu fazer um racionamento maquiado.
            A esperança final era o período de outubro: as eleições. Parte da nação esperava que o gigante ganhasse forças novamente, persistisse e não desistisse de sua esperança. Parte da nação imaginava a vitória do gigante sobre o governo, no dia 5 de outubro de 2014.
            Mas, infelizmente, nesse dia, o gigante perdeu. O gigante, que outrora havia se mostrado forte em sua ascensão, agora parecia não ser o mesmo. Ele tentou se levantar, mas a preguiça falava mais alto – a comodidade falava mais alto. As coisas permaneceram da mesma forma, em todos os lugares. O gigante percebeu, também, que não havia água para beber, mas preferiu não protestar. Preferiu acreditar em seu governo.
            Aqui, o gigante se esqueceu de sua pátria. Deixou-se ser conduzido. Obedeceu a ordem do governo e deixou de lado o progresso. Mas ainda há uma parcela da nação que não desistiu. Essa parcela aguarda o dia em que o gigante se reerguerá com uma força jamais vista e, desta vez, não voltará a dormir.
           


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Me dê a sua opinião, pois será importante para o meu aperfeiçoamento e para que eu possa fixar em áreas específicas da preferência do público.