O ponteiro do relógio
marcava três horas, quando o garoto se deu conta de que ainda estava acordado;
mal conseguia respirar por causa da congestão nasal, da coceira nos olhos. Ele
olhou para o lado esquerdo da cama: seu marido dormia pesadamente – algo inédito,
pois o contrário era o mais habitual.
A inquietação –
provável insatisfação – tomava conta dele nos últimos meses. O curso que fazia exigia-lhe
cada vez mais uma dedicação maior. O trabalho, de algo bom e virtuoso, havia
tornado-se algo incômodo e pesaroso. e tudo isso somatizava em seu corpo
físico: pressão alta, enxaquecas, crises alérgicas, sono excessivo, tudo de
ruim.
Talvez, ele
exagerasse ao permitir que tais acontecimentos estressassem-lhe a mente e o
corpo. Afinal, todo mundo diz que “cada escolha, uma renúncia”. Então, escolher
fazer as coisas do modo certo significa renunciar à sua saúde física e
emocional? Que mundo injusto! Nessas horas, ele achava que a ignorância fosse
uma dádiva, já que o ignorante não tem com o que se preocupar.
3h15. A hora não
passava, e faltavam cerca de duas horas e meia para levantar-se. O sono sempre
caía sobre ele durante o dia – nos dias em que se levantava da cama às onze da
manhã, já sentia o sono vir às duas da tarde. Mas, ali, naquele instante, o seu
corpo necessitava de um descanso, embora a sua mente não cedesse.
Era provável que a
sua mente estivesse trabalhando para lembra-lhe de tudo aquilo que lhe fazia
feliz: o marido, os bichos de estimação, os pais, os irmãos, os sobrinhos (Ah!
Os sobrinhos!), alguns primos e alguns tios, o curso que escolhera há dois anos
(pelo qual descobrira uma paixão), a escrita, enfim...
E funcionou. Quando
ele percebeu, apenas uma das narinas estava “entupida”, a coceira nos olhos
cessara, e o sono dava sinais de proximidade. Hora de dormir, finalmente!
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