quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Inquietude



            O ponteiro do relógio marcava três horas, quando o garoto se deu conta de que ainda estava acordado; mal conseguia respirar por causa da congestão nasal, da coceira nos olhos. Ele olhou para o lado esquerdo da cama: seu marido dormia pesadamente – algo inédito, pois o contrário era o mais habitual.
            A inquietação – provável insatisfação – tomava conta dele nos últimos meses. O curso que fazia exigia-lhe cada vez mais uma dedicação maior. O trabalho, de algo bom e virtuoso, havia tornado-se algo incômodo e pesaroso. e tudo isso somatizava em seu corpo físico: pressão alta, enxaquecas, crises alérgicas, sono excessivo, tudo de ruim.
            Talvez, ele exagerasse ao permitir que tais acontecimentos estressassem-lhe a mente e o corpo. Afinal, todo mundo diz que “cada escolha, uma renúncia”. Então, escolher fazer as coisas do modo certo significa renunciar à sua saúde física e emocional? Que mundo injusto! Nessas horas, ele achava que a ignorância fosse uma dádiva, já que o ignorante não tem com o que se preocupar.
            3h15. A hora não passava, e faltavam cerca de duas horas e meia para levantar-se. O sono sempre caía sobre ele durante o dia – nos dias em que se levantava da cama às onze da manhã, já sentia o sono vir às duas da tarde. Mas, ali, naquele instante, o seu corpo necessitava de um descanso, embora a sua mente não cedesse.
            Era provável que a sua mente estivesse trabalhando para lembra-lhe de tudo aquilo que lhe fazia feliz: o marido, os bichos de estimação, os pais, os irmãos, os sobrinhos (Ah! Os sobrinhos!), alguns primos e alguns tios, o curso que escolhera há dois anos (pelo qual descobrira uma paixão), a escrita, enfim...

            E funcionou. Quando ele percebeu, apenas uma das narinas estava “entupida”, a coceira nos olhos cessara, e o sono dava sinais de proximidade. Hora de dormir, finalmente!

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