terça-feira, 30 de setembro de 2014

Opinião: O governo de São Paulo à espera das águas de março

 Opinião | Júnior Gonçalves
30/09/2014 – 12h04

             Acerca de cinquenta dias de cessar o abastecimento de água da Grande São Paulo, segundo as estimativas de Mauro Arce, secretário estadual de Recursos Hídricos de São Paulo, o Sistema Cantareira atinge o menor nível de sua história, com 7% de sua capacidade total. Um dos maiores sistemas de captação e distribuição de água, o Sistema Cantareira é administrado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp – e, desde o início de 2014, conta com uma baixa considerável dos níveis dos reservatórios.
            Uma série de fatores contribuiu para o problema. A culpa recaiu, inicialmente, sobre a falta de chuva, embora esteja explícito que as chuvas recentes mal fizeram cócegas no estado atual dos reservatórios e que seria necessário, no mínimo, um mês de chuvas intensas para causar alguma modificação nessa situação.
            Depois, estudos mostraram que o desmatamento causado nas áreas florestais próximas aos sistemas e na Amazônia contribuiu para a primeira questão – as florestas possuem a importante função de reter a água da atmosfera e contribuem para a manutenção da umidade do ar. Se o ar está seco na região dos reservatórios, há o consequente aumento da evaporação na represa. Esses estudos revelam que até 70% da precipitação em São Paulo depende da água vinda da Floresta Amazônica.
            Há, também, o desperdício da água que sai dos reservatórios e segue rumo às residências e aos comércios. Cerca de 25% da água é “perdida” entre tubulações antigas e conexões clandestinas – os famosos “gatos”. Sem contar os usuários que gastam água sem pensar nas consequências, lavando as calçadas, os carros, lavando as roupas muitas vezes, tomando banhos demorados várias vezes ao dia etc.
            Não se pode deixar de citar a questão da má gestão da Sabesp. A crise atual se deve a um problema de demanda de água.  A Organização das Nações Unidas – ONU – estabelece que uma pessoa consegue se manter suficientemente com 110 litros diários para o seu consumo, alimentação e higiene. Na cidade de São Paulo, o número chega aos 140 litros diários por pessoa. Em algumas outras cidades, esse número alcança os 200 litros diários. A companhia recebeu vários alertas, durante anos, sobre relatórios que apontavam a necessidade de ampliação dos sistemas, principalmente do Sistema Cantareira.
            Em meio à crise, o governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, decretou racionamento no município de Guarulhos. Algo absurdo, já que o Sistema Cantareira ficou anos sem receber investimentos governamentais, mesmo com os vários relatórios apontando a necessidade. Mesmo avisado por técnicos e especialistas da área, Alckmin não quis impor o racionamento na cidade de São Paulo, optando pela realização de obras no Sistema Cantareira. Foi dessa forma que inaugurou as obras para captação do tão falado Volume Morto. Apesar disso, moradores e comerciantes da periferia de São Paulo já sofrem, desde meados de julho, um racionamento mascarado. O governador prefere chamar isso de “rodízio”, no qual se procura a diminuição do consumo por meio da redução da pressão da água durante a noite.
            Contudo, essa redução não é apenas uma redução, de fato. Muitos moradores das periferias não conseguem utilizar água após oito horas da noite. Não houve nem mesmo o cuidado de alertar aos moradores e comerciantes dessas regiões.
            Em ano eleitoral, é de se imaginar que Alckmin não queira deixar seu eleitorado insatisfeito. Ironicamente, pesquisas mostram que os bairros nobres da capital gastam o dobro de água que os bairros periféricos. A política de bônus na conta de água foi a ação mais “efetiva” que o governador tomou, e isso fez com que toda a população da periferia aderisse à causa. Ainda assim, os números do Sistema Cantareira continuam a cair, e o governador permanece resistente às sugestões de especialistas em aderir, de fato, ao racionamento.
            No início desta semana, o governador chegou a afirmar que o período de seca enfrentado pelo Sistema Cantareira “já passou”, e que, talvez, nem precisemos utilizar o Volume Morto.

            Planejar, quando em gestão pública, é prevenir. E foi o que Alckmin menos fez. O governador atribui a causa única e exclusivamente à falta de chuvas. Esqueceu-se de todos os avisos e alertas sobre necessidade de investimentos para que a Sabesp pudesse construir um sistema de distribuição seguro, adequado. Enxergamos, aqui, a mesma inação que a gestão de Alckmin apresenta na área da saúde, da educação, da segurança e do transporte. Falta transparência, falta sinceridade para com a população e seus próprios eleitores. Permanecer em uma posição, mesmo com tantos alertando o perigo que essa pode trazer, não é cuidar da população. Fazê-lo, é acomodar-se e garantir votos. É causar uma tempestade – apenas figurada, diante de nossa situação – em um copo d’água.

sábado, 27 de setembro de 2014

Conto: Lúcido


            Aquele era o pior dia da vida de Rebeca. O dia 10 de setembro de 2014 marcaria a sua existência. Sua mãe, o único membro da família com quem convivia e tinha laços, havia morrido naquela madrugada. As preces, as visitas, as suplicas, as quimioterapias, nada disso ajudara a mãe dela vencer o câncer.
            Rebeca estava furiosa com Deus e o mundo. Nem um e nem outro se importava com o fato da morte de sua mãe. Nem um e nem outro se importou com a vida de sua mãe. “Que Deus é este que abandona quem mais tem fé?”, ela se perguntava enquanto vestia a roupa. Estava tudo preparado para o velório e o enterro. O velório seria às vinte horas, e o enterro aconteceria na manhã seguinte. A jovem pegou sua bolsa e a chave do carro, saindo de seu apartamento. Dali a alguns minutos, ela teria de encarar as pessoas, aquelas mesmas pessoas que viraram as costas para sua mãe.
            Já no velório, Rebeca não abandonou o caixão por um segundo. Cada pessoa que se aproximava ficava sem jeito, pois percebia a revolta na expressão da menina. Não demorou muito e a sala do velório estava lotada. Tanta gente ali, para velar o corpo de sua mãe, e nenhuma para visitá-la quando ainda viva. A jovem conhecia todos ali e fez questão de olhar cada um nos olhos.
            Após algumas horas, Rebeca ouviu o som de correntes se arrastando pelo chão. Ela olhou a sua volta, mas não viu nada incomum. Ninguém portava correntes. Mas ela percebeu a presença de um homem desconhecido. Era um homem alto, com a pele muito branca, o cabelo preto, curto e arrepiado. Seus olhos eram quase de um tom lilás, e fitavam-na diretamente. Ele vestia uma espécie de sobretudo de cor creme, sobre uma calça social creme e uma camisa branca. Por um momento, Rebeca pensou ter visto uma corrente pendendo sobre a coxa do homem e arrastando no chão, mas quando olhou novamente não viu nada.
            A menina se sentiu tentada a falar com o homem misterioso, mas não queria deixar a sua mãe sozinha naquele caixão. Como se tivesse lido os seus pensamentos, o homem se levantou e caminhou até o caixão, ficando diante da jovem. Eles ficaram calados e olhando um para o outro, por cerca de vinte minutos, como se estivessem em um transe. Então, sem falar nada, o homem se retirou da sala.
            Como que tomada por um impulso incontrolável, Rebeca seguiu o homem. As pessoas que estavam no velório acharam esquisita a atitude da menina, que estivera ao lado da mãe a cada segundo. Rebeca o encontrou parado em um cruzamento de duas ruas, em frente ao velório, olhando para o céu estrelado. “Preciso saber quem ele é. Sei que ele pode ajudar.”, pensou a menina. E ela foi até o homem.
            — Oi? – disse a menina, preocupada.
            O homem voltou o seu olhar para Rebeca. Ele tinha uma beleza única, era tentador. Mas provocava, ao mesmo tempo, medo e angústia.
            — Quem é você? – questionou Rebeca. As palavras quase não saíam por seus lábios. Ela se aproximou aos poucos.
            — A pergunta correta é: “quem é você?” – devolveu o homem, sorrindo, com um olhar enigmático.
            — Quem sou eu? – estranhou a menina, sem compreender.
            Novamente, o barulho de corrente se arrastando pelo chão voltou a ser ouvido por Rebeca. Dessa vez, a menina viu a corrente amarrada nos pulsos do homem e caindo por suas pernas, até chegar ao chão.
            — Somos prisioneiros da ignorância – respondeu o homem. — Aquele que permitiu que vivêssemos, não permitiu que enxergássemos. Ele nos quis cegos e escravos de Sua própria vontade, de Seus caprichos. Ele criou a luz, mas não permitiu que cada criatura vivente pudesse acender a sua própria chama interior.
            — De onde você é? – perguntou Rebeca, sentindo uma inquietação.
            — Sou de onde eu não via as estrelas, mas via das estrelas – revelou o homem, segurando a corrente. — Fui arremessado no profundo abismo, na escuridão, porque exigi que a lucidez fosse um direito de cada ser. Mas é chegada uma Era de Luz. A Era dos Lúcidos. Os homens querem ver, e os homens poderão ver! A luz sempre esteve com vocês, vocês apenas se esqueceram disso por conta da vontade d’Aquele que anseia ser o único.
            Rebeca sentiu sua visão embaçar e, depois, focalizar novamente. Agora, ela enxergava o que antes não podia. Era uma sensação inédita, como se fosse parcialmente cega por toda a sua vida. O luar permitiu que a menina enxergasse a sombra do indivíduo. Em sua sombra, asas se expandiam ao lado de seu corpo. Rebeca sentiu uma corrente de energia percorrer todo seu corpo, como se uma explosão liberasse muita energia acumulada.
            — Agora você compreende? – perguntou o homem. — Esta é a visão que é sua por direito. Eu, como o Portador da Luz, não descansarei enquanto todas as criaturas deste planeta alcancem o lugar que lhes é de direito.
            O homem estendeu a mão para Rebeca e sorriu, por fim. A menina segurou sua mão, sem hesitar, e seguiu pela rua até desaparecerem da vista das pessoas que estavam no velório.

            Aquele dia marcara a existência de Rebeca. Afinal, não fora o pior dia de sua vida. Havia sido o melhor. Fora o dia em que passou a enxergar com os olhos da razão.

sábado, 20 de setembro de 2014

Série: Religiões - ESPIRITISMO

            O Espiritismo surgiu na França, no século XIX, graças a um pedagogo – Allan Kardec. Para os espíritas mais engajados, o Espiritismo é uma doutrina – um conjunto de leis e princípios – revelada por espíritos superiores a Kardec, que a codificou em cinco trabalhos, hoje conhecidos como: “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”.

            Doutrina ou religião? Isso não fica bem explicado. Algumas filosofias são baseadas em seus livros fundamentais (o Marxismo, por exemplo, em “O Capital”, de Karl Marx), mas nem por isso podem ser consideradas como religiões. Segundo Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, estudiosa do Espiritismo no Brasil e professora do Departamento de Antropologia Cultural da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a visão religiosa é criada quando se explica a realidade social pela realidade sobrenatural – sendo assim, pode-se dizer que o Espiritismo é uma religião.

Allan Kardec

História
            Durante o século XIX, aconteceu um fenômeno que mexeu com a Europa: as mesas girantes. O fenômeno consistia no movimento, sem causa física aparente, de mesas e outros objetos mais pesados. Isso acontecia nos salões, após os saraus que eram feitos.
            O fenômeno atraiu a atenção de um pesquisador. Seu nome era Hippolyte Leon Denizard Rivail. Ele era um pedagogo francês, poliglota, autor de diversos livros didáticos e seguidor de um rigoroso método de investigação científica. Por conta disso, não conseguiu aceitar aqueles fenômenos. Passou a estudá-los e observou que forças inteligentes participavam daquelas movimentações, e investigou a natureza dessas forças, que se identificaram como “os espíritos dos homens” que já haviam falecido.
            O pedagogo passou a interrogar os espíritos, analisando as respostas, comparando-as e codificando-as. Tudo passava por uma “peneira” da razão. A partir dessas codificações, foi criado “O Livro dos Espíritos”, com o qual o professor Rivail se imortalizou, adotando o pseudônimo de Allan Kardec – em uma sessão que presenciou, ele ouviu de um médium que ele fora um celta chamado com esse nome; como Kardec, ele deveria juntar os diversos ensinamentos dos últimos séculos numa doutrina que propagasse os ideais de Cristo e trouxesse amparo aos corações humanos.
            A nova religião incitou a fúria da Igreja Católica, já que no Espiritismo, Cristo não é filho de Deus, mas um espírito evoluído. No Espiritismo, a Redenção é algo progressivo, onde a evolução de cada espírito deve alcançar degraus – enquanto no Catolicismo, isso acontecerá em um evento único e universal. Esses dois pontos provocaram grande alarde. Sem contar na questão da reencarnação, que não existe no Catolicismo.
            A religião chegou ao Brasil em 1860, e foi acompanhada pela perseguição. A prática espírita era considerada um crime pelo Código Penal de 1890. Mas a religião se fortaleceu e mostrou à população um de seus maiores méritos: a caridade. O salto do Espiritismo no Brasil se deu pelo fato dos centros espíritas terem como marca o fazer bem às comunidades ao seu redor.
            Em uma cidade de Goiás, Palmelo, há uma forte crença no Espiritismo. A cidade foi fundada exclusivamente por espíritas. Anualmente, recebe cerca de 50.000 visitantes que buscam consolo para suas angústias físicas e espirituais. A cidade não permite a venda de bebidas alcoólicas e, nas ruas, há placas com ensinamentos espíritas tirados dos livros de Allan Kardec. Mas a cidade goiana é um fato isolado. Os espíritas são conhecidos pela sobriedade e pelos baixos níveis de proselitismo – não vivem em prol de convencer as pessoas de suas crenças.

Preceitos
            A base da religião está contida nas obras de Allan Kardec. E, desde o seu surgimento, o Espiritismo reivindica um status de ciência e filosofia, além da religião.
            Segundo a religião, todo homem é um médium – um canal de comunicação entre os vivos e os espíritos. Nos centros espíritas, a liderança geralmente é reservada ao médium mais experiente, ou ao próprio fundador do centro. Os médiuns se comunicam com os espíritos dos modos mais diversos. Houve um período em que a comunicação era feita por meio de batidas nas paredes. Hoje, a psicografia e a incorporação são os meios principais.
            O Espiritismo prega que os espíritos são criados em um ponto zero. Todos são imperfeitos e, ao longo de várias e sucessivas encarnações, devem chegar à perfeição. Cada encarnação permitirá ao espírito aprendizado sobre bondade, tolerância e caridade. O livre-arbítrio – a habilidade de escolher o seu próprio destino – é algo muito dito na religião e, por isso, não há só “santos”. Segundo o Espiritismo, há espíritos “maus” destinados a encarnações cheias de sofrimento. E esses espíritos só alcançaram a iluminação e o nível superior ao passo em que eliminarem seus hábitos ruins e praticarem o bem.
            Algo curioso é que o Espiritismo acredita na vida em outros planetas. Para os espíritas, os espíritos são intergalácticos. Não que isso signifique que existam alienígenas pilotando discos voadores pelo espaço, mas formas de vida – incluindo as formas minerais – que são habitadas por espíritos em diferentes estágios de evolução. Pode-se dizer que o Espiritismo foi o precursor das religiões e doutrinas da Nova Era.
            Allan Kardec dividiu o homem em três partes básicas: espírito (a essência imortal), corpo (o invólucro material) e perispírito (o “corpo” que reveste o espírito). Ao morrer, o espírito e o perispírito se libertam do corpo material e seguem rumo à reencarnação. Esse espírito reencarnará o número de vezes necessário para sua evolução. Assim, o Espiritismo tem o Plano Físico (o mundo material) como uma escola de aprendizagem.
            Temas polêmicos como o aborto, a eutanásia e o suicídio são condenados – como em grande parte das religiões –, mas são possíveis porque cada ser tem o livre-arbítrio. A homossexualidade não é condenada, uma vez que as virtudes ou defeitos não sofrem variações em função do sexo do corpo material – mas a pederastia (o fato do homossexual se entregar aos hábitos e práticas promíscuas, que desrespeitem a si e aos outros) o é. Na verdade, o Espiritismo explica a homossexualidade com quatro origens possíveis: a expiação, a opção, o estímulo dos pais, e a missão.
            Na expiação, um espírito que abusou do sentimento do sexo oposto apenas para saciar seus instintos sexuais na encarnação anterior, reencarna, obrigatoriamente, em um corpo oposto – para sentir na pele as humilhações que fez sentir na outra vida. No caso da opção, ocorre um vício. O Espiritismo explica que, assim com há viciados em drogas, há viciados no sexo que procuram sensações e, por isso, acabam desenvolvendo práticas homossexuais. O estímulo dos pais ocorre quando pais frustrados estimulam comportamentos equivocados na conduta sexual dos seus filhos – como a mãe que esperava pela vinda de uma menina e recebeu um menino, e vice-versa. Quando a origem é por conta de uma missão, na qual os espíritos pretendem dedicar-se a determinadas tarefas, optando por inibir seus impulsos de reprodução.

            Para os espíritas, Deus é uma forma de inteligência suprema. É eterno, imutável, imaterial, justo, bom e onipotente. Jesus Cristo, por sua vez, não é o filho de Deus, mas um espírito mais evoluído – um modelo para toda a humanidade.
            O “passe” é um elemento muito conhecido no Espiritismo. Durante a sessão espírita, o médium transmitirá aos seguidores energias consideradas benéficas para sua saúde física e espiritual.


Fontes:

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Série: Religiões - SATANISMO (Parte II)


Se você ainda não leu a primeira parte da matéria, acesse Satanismo - Parte I.

A Bíblia Satânica
            Escrita por Anton LaVey em 1969, apresenta ensaios, observações e alguns rituais que servem como base para o Satanismo Religioso, deixando claro que Satã é uma força da Natureza.
            Nela, LaVey defende que um verdadeiro Satanista não se esconde por trás de um pentagrama e, muito menos, faz preces de invocação – diz que esses são adeptos da magia branca. Na verdade, os Satanistas abominam esses “magos brancos”, que invocam espíritos que podem controlar e aprisionar, enquanto o Satanista invoca e vive em comunhão com a entidade solicitada. Ainda, há um trecho em que é dito que “O demônio tem sido atacado pelos homens de Deus [...] que nunca há uma oportunidade para o Príncipe das Trevas responder do mesmo modo”. Sem contar a “afronta”, onde LaVey diz que sem o Diabo, as religiões que acreditam em Deus jamais teriam chegado onde chegaram com seus “negócios”.

            Na Bíblia Satânica, há Nove Afirmações Satânicas:
1.      Satã representa indulgência, e não abstinência!
2.      Satã representa a essência da vida, e não sonhos espirituais fúteis!
3.      Satã representa conhecimento ilimitado, e não autoilusão hipócrita!
4.      Satã representa bondade para todos que merecem, e não amor desperdiçado com ingratos!
5.      Satã representa vingança, e não dar a outra face!
6.      Satã representa responsabilidade para os responsáveis, e não preocupação com vampiros psíquicos!
7.      Satã representa o homem como apenas mais um animal, por vezes melhor, na maioria das vezes pior que aqueles que andam em quatro patas o qual, por causa de seu “desenvolvimento intelectual e espiritual divino”, tornou-se o animal mais perverso de todos!
8.      Satã representa todos os pecados denominados, uma vez que todos eles conduzem à gratificação física, emocional e mental!
9.      Satã tem sido o melhor amigo que a Igreja jamais teve, uma vez que a manteve em funcionamento por todos esses anos!

            Também, há Onze Regras Satânicas:
1.      Não dê opiniões ou conselhos, a menos que te peçam.
2.      Não conte os teus problemas aos outros, a menos que tenha a certeza de que eles querem ouvi-los.
3.      No ambiente natural de outra pessoa, demonstre-lhe respeito ou não vá até lá.
4.      Caso um convidado te incomode em seu ambiente natural, trate-lhe cruelmente e sem misericórdia.
5.      Não tome iniciativas de cunho sexual, a menos que você receba sinais de receptividade.
6.      Não se aproprie do que não te pertence, a menos que seja um fardo para a outra pessoa e ela implore que seja aliviada disso.
7.      Reconheça o poder da magia, caso a utilize com sucesso para obter o que deseja. Se negar o poder da magia após tê-la invocado com sucesso, perderá tudo aquilo que obteve.
8.      Não se queixe daquilo que não precisa se submeter.
9.      Não maltrate crianças.
10.  Não mate animais não humanos, a menos que seja atacado ou precise se alimentar.
11.  Quando estiver andando em território aberto, não incomode ninguém. Se alguém te incomodar, peça-lhe para parar. Se não parar, destrua-lhe.

            Por fim, os Nove Pecados Satânicos:
1.      Estupidez: É uma pena que a estupidez não dói. Ignorância é uma coisa, mas a sociedade alimenta-se cada vez mais da estupidez. Depende das pessoas seguirem tudo o que lhes é dito. A comunicação social promove uma estupidez tratada como uma postura que não é apenas aceita, mas louvada. Os Satanistas devem aprender a ver além dos truques, e não podem se dar ao luxo de ser estúpidos.
2.      Pretensão: Uma postura vazia pode ser tremendamente irritante. Todos são levados a sentir-se como importantes, quer consigam feitos que o promovem ou não.
3.      Solipsismo: Projetar as reações, respostas e sensibilidades em alguém que, provavelmente, não está alinhado com a própria pessoa. É o erro em esperar que as pessoas retribuam a mesma consideração que lhes é dada. Elas não farão isso. Em vez disso, deve esforçar-se para aplicar o ditado “Faça aos outros o que eles fazem a você”.
4.      Autoilusão: Não devemos prestar homenagem a nenhuma das vacas sagradas que nos apresentam, incluindo ao modo como se espera que nos comportemos. A autoilusão só pode ser abordada quando é divertida e de forma consciente. Mas, aí, não é autoilusão.
5.      Conformismo de Massas: Não há problema algum em conformar-se aos desejos de uma pessoa, se isso vai nos beneficiar, em última análise. Mas só os idiotas seguem as massas, permitindo que uma entidade impessoal dite as regras. O segredo é escolher um mestre sabiamente, em vez de ser escravizado pelos caprichos das massas.
6.      Falta de Perspectiva: Jamais podemos esquecer quem e o que somos, e que ameaça podemos ser, apenas por existirmos. Estamos prestes a fazer história, nesse preciso momento, todos os dias. Temos sempre que manter uma ampla visão história e social. Observe os padrões e encaixe as peças como pretende que elas se encaixem. Não seja coagido pelas restrições das massas – entenda que você funciona em um nível diferente do resto do mundo.
7.      Esquecimento de Ortodoxias Passadas: Essa é uma das chaves para a lavagem cerebral que é feita com as pessoas para levá-las a aceitar algo novo e diferente, quando na realidade é algo que outrora foi amplamente aceito, e agora é apenas apresentado em uma nova embalagem. Espera-se que deliremos com o gênio do criador e esqueçamos o original – isso cria uma sociedade descartável.
8.      Orgulho Contraproducente (Contraditório): O importante está na segunda palavra. O orgulho é ótimo até o momento em que você não sabe discernir o necessário daquilo que não vale pra você. A regra do Satanismo é: se funciona para você, ótimo. Quando deixar de funcionar para você, você estiver encurralado e a única forma de resolver a situação é dizendo: “lamento, cometi um erro, quero chega a um meio termo, compensar de alguma forma”, faça isso.

9.      Falta de Estética: É a aplicação física do Fator de Equilíbrio. Obviamente que ninguém consegue, na maioria das vezes, ganhar dinheiro com beleza e forma, por isso são desencorajados numa sociedade consumista. Mas um olhar para a beleza, para o equilíbrio, é essencial e deve ser aplicado para maximizar a eficácia da magia.

Simbologia
- O Pentagrama Invertido: segundo os Satanistas, as três pontas voltadas para baixo do Pentagrama Invertido representam a negação à Santíssima Trindade. As duas superiores indicam o contraste entre pontos de equilíbrio que regem o Universo (criação X destruição; positivo X negativo; masculino X feminino; ação X reação; vida X morte; etc.). O símbolo, como um todo, representa o desejo físico acima da espiritualidade, como algo supremo.
- Baphomet: uma entidade de origem pagã, da era Pré-Cristã, ou seja, existia muito antes do próprio Satanismo surgir. É visto como uma energia da Natureza. Sua mistura de cabra com homem representa a força, a fertilidade e a liberdade – princípios de muitas crenças pagãs.
- Cruz Invertida: também conhecida como a Cruz de São Pedro (1 a.C – 67 d.C.), apóstolo de Jesus e Primeiro Bispo de Roma. Pedro foi acusado como cúmplice no incêndio de Roma e condenado à morte, mas não se achava digno de morrer crucificado como o Cristo. Assim, a cruz em que seria crucificado foi invertida. O símbolo é utilizado pelos Satanistas como uma negação aos dogmas cristãos, uma vez que as cerimônias realizadas no Satanismo são consideravas avessas ao Cristianismo.
- Satã: é considerado o símbolo de choque conta todos os valores instituídos pela Igreja. Assim, Satã representa o Opositor, liderando o homem para a assunção de sua verdadeira natureza. A palavra “Devil” pode ser encontrada em duas formas. No grego “diábolos”, pode ser traduzida como “slanderer”, ou “aquele que acaba com a reputação de alguém” – no caso, a reputação da Igreja. Mas há uma palavra no híndi, “devi”, que pode ser traduzida por “god”, ou “deus”.