Muitas culturas
acreditam em demônios, mas o Demônio (com letra maiúscula) é muito bem
conhecido como o inimigo de Deus: ele é, a princípio, uma criação do Cristianismo.
Geralmente, o Diabo é
descrito como um anjo que perdeu sua luz, ou está associado com a serpente do
Gênesis. Mas em Revelações, João viu o Diabo não como uma serpente, mas como um
grande dragão de várias cabeças. Desde então, nestes quinze séculos, o Diabo se
transformou na figura conhecida de hoje.
Estátua de Pã |
Algumas
representações do deus grego da fertilidade, Pã, auxiliaram na construção do
personagem conhecido atualmente: o Diabo adquiriu chifres, cascos, orelhas
pontudas e um rabo – foi descrito como metade bode e metade homem. Essa
descrição, contudo, bate com a descrição dos sátiros – criaturas da mitologia
grega que são metade homens e metade bodes.
O tridente de três
pontas atribuído ao Diabo é o mesmo tridente de Poseidon, o
Estátua de Poseidon |
A cor de pele
avermelhada que costumamos ver veio de Set, a entidade “maligna” egípcia. Set
era o deus das tempestades, da escuridão e do caos – os gregos associavam Set
com Tifão, a serpente monstro e deus da destruição.
Pintura de Set |
Até mesmo o nome do
Diabo mudou no decorrer das eras: Mamon, Belzebu, Baal, Amon, Leviatã; todos,
nomes que foram associados a Satã em algum momento da história. Embora esteja
associado a várias entidades Pagãs e conhecido por diversos nomes, o nome mais
conhecido do Diabo ficou conhecido no século cinco, após uma tradução equivocada
de Isaias 14, feita por Jerônimo: Lúcifer.
No fim do século
treze, Lúcifer foi associado ao pecado do orgulho, sendo parte dos Sete Pecados
Capitais. Acreditava-se que ele era um dos poderosos sete príncipes demônios
que controlavam suas próprias legiões na guerra entre Céu e Inferno. A maior
parte das obras literárias ajudou a estabelecer Lúcifer como o nome mais famoso
do Diabo.
A Divina Comédia, de
Dante Alighieri, escrita no início do século catorze, esboçou a visão
particular do autor sobre o Inferno, dividido por níveis – baseados nos Sete Pecados
Capitais; cada nível era propriedade de um demônio, embora Lúcifer não fosse
apenas um príncipe demoníaco, mas o imperador do Inferno. Dante imaginou o
Diabo tremendamente feio e alto (passando, até mesmo, dos gigantes), com
grandes asas batendo, três rostos com cores diferentes (vermelho, amarelo e
preto), com cada uma de suas três bocas mastigando as almas das pessoas más.
Yama |
O épico de Dante se
tornou uma das obras mais influentes entre os Cristãos, influenciando e
moldando amplamente a forma como eles enxergavam o Inferno e o Purgatório. E as
descrições de Lúcifer continuaram mudando; ele já não era retratado como um
monstro preto ou vermelho, mas um monstro azul; a vítima da vez era Yama, o
deus hindu da morte. A cor azul representava a perda da luz divina de Deus.
Em 1677, Paraíso
Perdido e Paraíso Reconquistado, publicações de John Milton, fortaleceram a
ideia de Lúcifer como o líder dos anjos caídos e atribui-lhe o nome oficial de
Satanás, o arqui-inimigo de Deus. Milton transformou Lúcifer em um guerreiro
poderosíssimo e carismático, preocupado em destruir o homem (como vingança por
seu exílio); Milton fez de Lúcifer um tipo de herói romântico – sua queda é
extremamente humana e compreensível por qualquer um; ele é rebelde e orgulhoso,
e, em troca, perde tudo o que ele valoriza.
Diabo, retratado como um judeu |
À medida que o tempo
passava, a imagem do Diabo foi invocada repetidamente, como forma de menosprezar
ou demonizar os inimigos – ainda mais se tratando de religiões concorrentes.
Durante o século dezenove, o Diabo foi retratado como um judeu com um grande
nariz curvo; tanto as sinagogas judaicas como as muçulmanas eram tidas como
templos de Satanás.
Hoje, para alguns,
Lúcifer não representa a rebeldia e a maldade, mas a sabedoria, o conhecimento
e a iluminação, livre das algemas das superstições e dos dogmas religiosos. Lúcifer
se tornou um tipo de Prometeu, que trouxe conhecimento à humanidade, permitindo
que os homens se tornassem semelhantes aos deuses. Ele é uma figura de
liberdade e de avanço pessoal. Ele é o Portador da Luz, que traz a luz do
conhecimento científico para o mundo mergulhado nas trevas das superstições que
asfixiam dia-a-dia.
Mas, para a maioria
das pessoas, o Diabo ainda é a fonte de todo o mal existente, e elas esperam, temerosas
e ansiosas, pelo dia em que Deus retornará à Terra para acabar de uma vez por
todas com o seu inimigo mortal.
Estátua de Lúcifer |
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