domingo, 2 de fevereiro de 2014

Conto - O tornado


Troy, Kansas. Novembro de 2009.

            Localizada no estado do Kansas, nos Estados Unidos, a cidade de Troy conta com pouco mais de mil habitantes. Cidade de interior, todos se conheciam ali, facilmente.
            Leonard Gale era um dos jovens mais conhecidos na cidade. Não que isso fosse bom, necessariamente. No auge de seus dezesseis anos, o garoto vivia se metendo em confusões. Ora roubando os armazéns da cidade, ora brigando com os outros meninos de sua idade.
            Mas todos também sabiam de sua história.
            Ainda bebê, seu pai o trouxe para a cidade, procurando por seus familiares. Mas o velho Henry e a senhora Em haviam desaparecido, sem deixar quaisquer pistas. O casal havia ficado com sua filha, Dorothy Gale, que também desaparecera com os tios.
            Sem saber o que fazer após a recente morte de sua esposa, o pai do menino o deixou no orfanato da cidade, contando a história, alegando que não tinha a menor condição de cuidar da criança.
            Desde então, Leonard morou no orfanato e nunca mais ouviu falar de seu pai, ou de seus tios, e nem mesmo de sua irmã que não conhecera.
            - Leonard! – gritava a Sra. Lea, diretora do orfanato. – Vem pra dentro!
            O jovem estava sentado quase em frente ao orfanato. Mas, há poucos minutos, todos que estavam na rua entraram para suas casas.
            - Por que, Sra. Lea? – questionou o menino. – Tô quieto aqui.
            - Vem logo, filho! – insistiu a mulher, nervosa. – Tá vindo uma tempestade aí!
            Leonard olhou o céu.
            Grandes nuvens cor de chumbo percorriam o céu, cobrindo a cidade de Troy. Um vento forte balançava os galhos das árvores e os fios de eletricidade.
            - Leonard! – gritou a Sra. Lea, novamente.
            - Tá bom, tô indo! – Leonard levantou-se do banco e caminhou, lentamente, em direção ao orfanato.
            Quando o menino entrava pela porta do orfanato, aberta pela Sra. Lea, ele viu um bicho correndo para fora, assustado.
            - Lion! – gritou o menino, quando percebeu que era o seu gato de estimação. – Volta aqui!
            - Entra, Leonard! – ordenou a Sra. Lea, puxando o garoto pelo colarinho da camiseta.
            - Não, vou pegar o Lion! – o menino se contorceu e conseguiu escapar das mãos da diretora do orfanato, correndo para pegar seu gato.
            - Leonard! – a Sra. Lea gritava histericamente.
            Os habitantes que moravam próximo ao orfanato assistiam a baderna por suas janelas. Ora olhavam a Sra. Lea, ora colocavam o olho na forte tempestade que se aproximava.
            A Sra. Lea corria desajeitadamente pelo paralelepípedo, tentando alcançar o garoto, que já estava a uns vinte metros à sua frente.
            - Lion, volta aqui, caramba! – Leonard corria atrás de seu siamês. – ‘ não gosta de água, bola de pelo!
            O gato correu para uma propriedade abandonada. Só havia, ali, um vasto campo de terra infértil.
            Leonard pulou a cerca com aquela habilidade que toda criança, cheia de energia, tem. Sra. Lea, por sua vez, nem estava perto da propriedade quando foi parada por uma viatura da polícia.
            - Dá licença! – gritava a mulher, contornando o carro.
            - Sra. Lea, vou eu, Xerife Bradd. – disse o homem, saindo do carro. – Preciso que volte para casa, imediatamente!
            - Xerife, uma de minhas crianças entrou nessa propriedade aí da frente! – explicou a diretora do orfanato. – Preciso buscá-lo!
            - Sra. Lea, dê uma olhada para o oeste. – solicitou o Xerife.
            - Mas o que é aquilo? – a mulher ficou surpresa e, ao mesmo tempo, assustada com o que viu.
            - É um tornado. – confirmou o Xerife. – Não estava previsto, mas está vindo para cá. Preciso que fique dentro do orfanato... Vai chegar em menos de cinco minutos.
            - O Leonard ‘tá lá, Bradd! – a mulher apontava para a propriedade abandonada.
            - Eu vou buscá-lo, Lea. – garantiu o Xerife. – Mas preciso levá-la até o orfanato, primeiramente.
            - Ok. – concordou a mulher. – Vamos, depressa! Aí você volta pra buscar o Leonard!
            A mulher entrou na viatura.
            O Xerife dirigiu o mais rápido que pôde até o orfanato, e a Sra. Lea saltou do carro em direção ao orfanato, fechando as portas e janelas para garantir a segurança das crianças que estavam ali.
            Leonard finalmente havia encontrado Lion. O gato estava escondido dentro de um latão enferrujado.
            - Lion! – Leonard aproximava-se lentamente. – Vem comigo, vem...
            Mmmiaaaaau. O gato saiu do latão, em direção a Leonard.
            - Isso... Vem cá! – Leonard pegou o gato e o abraçou.
            - Leonard! – uma voz eletrônica chamava pelo garoto, não muito longe dali.
            O menino procurou, e então focalizou a viatura de polícia um pouco além das cercas da propriedade abandonada. Era o Xerife Bradd.
            - Menino, preciso que corra! – gritou o Xerife.
            Leonard não entendeu. Ficou olhando com cara de desentendido.
            - Leonard, tem um tornado a poucos metros de você... Corra! – berrava Bradd.
            O menino então se deu conta do vendaval que tomava conta de tudo ali. As árvores quase encostavam o chão com a força do vento, a relva seca vibrava fortemente. Quando olhou para trás, viu um gigantesco tornado se aproximar, engolindo tudo o que havia em sua frente.
            Instintivamente, Leonard agarrou Lion e começou a correr na direção do Xerife.
            A força de sucção do tornado, entretanto, já havia chegado perto o suficiente para agir contra o menino. Quanto mais corria, mais parecia ser puxado para trás.
            - Corre, Leonard, por favor! – gritava o Xerife, já não utilizando mais o megafone.
            - Eu não consigo, Xerife! – choramingou Leonard. – Esse troço ‘tá me puxando! Me ajuda!
            - Leonard, não dá... – lamentou o Xerife, entrando no carro. – O tornado está se aproximando! Me desculpa, menino...
            Leonard virou para trás e viu que o tornado realmente estava a poucos metros. Quando voltou-se para a viatura, viu que o Xerife havia dado partida e estava fugindo.
            - Não, Bradd! – gritou Leonard. – Não me deixa aqui!
            Os habitantes da cidade já não assistiam mais aquele espetáculo de horror. Com receio do que aconteceria, todos fecharam as suas cortinas e ficaram a esperar dentro de suas casas, rezando pela vida do menino. Todos, menos a Sra. Lea.
            Lea estava histérica vendo tudo aquilo. Chegou a sair do orfanato, mas percebeu que a força do tornado estava muito intensa, quase a puxando dali mesmo. De volta para a janela, viu o pobre Leonard ser engolido pela espiral de vento, poeira e destroços.
            Leonard tentava fechar os olhos para não ver o terror, mas a intensidade do vento o impedia. Agarrado ao seu gato, que berrava fortemente, viu destroços de casas, carros e máquinas dentro do tornado. No topo da espiral, enxergava uma luz que imaginava ser o céu. Não sabia o que era melhor, morrer esmagado por todos aqueles destroços ali no meio da espiral, ou ser arremessado ao céu e depois se estilhaçar ao atingir o chão.
            O menino gritava e chorava, pedindo ajuda, mas era inútil. Viu uma sombra através da poeira do tornado. Era a sombra de uma criatura alada, era como um macaco com asas. Mas, então, a sombra se desfez, e o terror voltou à sua mente.
            Leonard percebeu a voz falhar. Já não tinha forças para gritar. Segurando Lion, com cuidado, colocou-o dentro de seu agasalho. Sua visão começou a escurecer. E tudo ficou preto.

            Mmiaaau. Leonard sentiu um peso em seu peito, algo reprimia a sua respiração.
            Ao abrir os olhos, percebeu o clarão do céu azul, assustou-se. Viu que Lion andava por cima de seu corpo, então pegou o gato e se levantou.
            O que Leonard viu era fantástico. Vastos campos, que quase não era impossível enxergar que eram rodeados por cordilheiras, provavelmente a dezenas de quilômetros dali. Havia cachoeiras, vales, plantações.
            Logo ali, à sua frente, Leonard viu uma estrada que se perdia no horizonte, com suas ramificações. Era uma estrada incomum, entretanto. Sua composição era inteiramente de tijolos amarelos.
            Miaaaaau! Lion berrava por dentro do agasalho de Leonard, que logo o puxou para fora. Já sobre os tijolos dourados, o felino cheirava o chão, trabalhando o seu olfato.
            - Droga, Lion! – reclamou o menino. – Ou morremos, ou bati a cabeça e estou delirando. Olha esse lugar!
            Rrrrrr. O gato ronronava, demonstrando certa segurança.
            - Será que estamos muito longe de casa? – questionou Leonard. – A Sra. Lea deve estar louca!
            - Criança? – uma voz feminina quebrou o monólogo do garoto.
            - Quem ‘tá aí? – perguntou o menino, preocupado.
            Uma mulher, de meia idade, surgiu no meio da plantação de girassóis. Ela trajava um vestido comprido, de cor clara, mas sujo. Seus cabelos eram vermelhos como rubis, e seus olhos eram azuis.
            - Não se apavore, criança. – pediu a mulher. – Não te farei mal algum... Muito pelo contrário, vou ajudar você a se encontrar.
            - Me encontrar? – questionou Leonard. – Onde estou? Troy fica muito longe daqui?
            - Troy? – a mulher pareceu confusa. – Nunca ouvi falar... O que é isso?
            - Troy... A cidade do Kansas! – explicou o garoto, segurando Lion no colo.
            - Kansas? – um sorriso se abriu, repentinamente, no rosto da mulher desconhecida. – Ora... Qual o seu nome, criança?
            - Leonard. Leonard Gale. – o menino se apresentou. – Você conhece o Kansas? ‘Tô muito longe de lá?
            A mulher colocou os pés sobre os tijolos amarelos, aproximando-se ainda mais do menino e do pequeno animal.

            - Leonard! – a mulher deixou sua animação transcender. – Como estou feliz por você chegar aqui. O meu nome é Glinda... E você está na Terra de Oz!

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

E por que, não, o ódio?



Amor. Ódio.
Ambos "nascidos" no mesmo lugar.



Mas por que um é "pior" que o outro?

Não é. O ódio não é pior que o amor. É tão natural quanto. Ajuda a decidir a quem confrontar. A quem desafiar.

O ódio chega a ser incontrolável, assim como o amor. Mas, ainda, é tido como o vilão, como negativo, errado.
Atire a primeira pedra quem nunca, mesmo que quase desapercebidamente, tenha sentido ódio por algo - por alguém.

Ódio daquele vizinho que ouve suas músicas com o aparelho de som no último volume. Ódio daquela vizinha que sempre empurra a sujeira para a porta de sua casa. Ódio daquele chefe que apenas apontou seus erros, mas nunca seus acertos. Ódio daquela ex-namorada do seu namorado. Ódio do seu pai, que te maltratava quando você ainda era uma criança.

Aprenda a conviver com o seu ódio.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Onde reina a esperança.




Ele acordou. O relógio marcava 6:45, estava muito cedo. Virou-se para o lado, e percebeu algo inusitado. A parede do seu quarto estava destruída, com um grande buraco em seu centro. O mais estranho não era isso, mas o que se enxergava do outro lado não era a sua vizinhança.
O menino levantou-se de súbito, assustado. Havia um vasto campo florido no outro lado da parede, uma terra desconhecida. Um grande lago, de uma água acobreada. Definitivamente, ali não era o seu lar.
Tenso, o garoto trocou de roupa e colocou a cabeça para fora do buraco, esperando tê-la arrancada por algo. Por sorte, nada aconteceu. Sua casa já não existia, era somente aquele cômodo, o seu quarto, no meio daquela terra desconhecida. Rodeou o cômodo, e nada encontrou, nenhum vestígio de sua casa, de seus pais.
O medo começou a tomar conta, e então o menino decidiu explorar o lugar, procurar por ajuda. Duas horas de caminhada renderam-lhe apenas desgaste, sede e fome. Lembrou-se de que havia guardado uma maçã em seu criado, e voltou para buscar.
Mas, para a sua surpresa, o seu quarto desaparecera. Ele tinha a certeza de que não havia voltado pelo caminho errado, e nem teria como errar... Mas não encontrou nada. O desespero só aumentou. O menino sentou-se no chão e desabou em prantos. Estava perdido, sozinho, com fome e com sede. E não podia satisfazer nenhuma de suas necessidades.
Ele, então, enxugou os olhos com a camiseta listrada e pôs-se de pé. Pensou em tudo aquilo que lhe dava forças, que o deixava feliz. Pensou em seus pais, pensou em sua casa, pensou em seus amigos, pensou em comida, pensou em brincar. Mas a única coisa que acabou dando certo foi pensar em sonhar. O garoto percebeu que poderia estar sonhando, que tudo aquilo estivesse acontecendo em seu inconsciente, e então fez o que há de melhor a se fazer em um sonho. Desejou água potável. E uma garrafa de água começou a brotar, inesperadamente, da terra. Desejou comida. E árvores passaram a crescer, rapidamente, ao seu redor, dando frutos diversos, alguns desconhecidos. Desejou um abrigo. E, assim, uma cabana se montou sozinha, ao seu lado.
O garoto ficou maravilhado com aquilo. Poderia fazer surgir tudo o que desejasse? Desejou, então, que os pais estivessem ali. Estranhamente, duas criaturas se ergueram da terra, limpando os resquícios de sujeira e ficando de pé, ao lado do menino, sorrindo. Eram seus pais. O menino correu e abraçou-os.
Pronto. Tinha tudo o que queria. Água, comida, um novo lar e seus pais. Mas seriam os três, unicamente, naquele lugar? O menino passou a desejar outras coisas. Amigos, pessoas sábias, pessoas boas. Animais. Desejou, também, alegria, humildade.
E aquele mundo foi se transformando. Em poucos minutos estava totalmente habitado, por seres humanos, animais e plantas. Mas não era um mundo como o qual o garoto estava acostumado. Era diferente.
Havia, no ar, algo que ele jamais conseguira sentir em seu "mundo real". Havia esperança.

sábado, 12 de outubro de 2013

Somos aqueles que podem trazer amor ao mundo!


Ação de criar, produzir, erguer. Criação. Indivíduo da espécie humana na infância.
Indivíduo da espécie humana na infância com a exorbitante e incrível capacidade de criar um mundo onde o amor é a linguagem universal.

Uma criança carrega consigo a pureza. Não tem medo, não tem preconceito, não tem ódio, não faz distinção. Mantém tudo isso, até que vem o adulto e insere todas as outras coisas que destroem esta pureza - com a justificativa de que a vida pede sabedoria. Tolos aqueles que pensam que sabedoria está em ser mais que o outro. Uma criança sabe, mais que qualquer um, que sabedoria é saber erguer um mundo inteiro, com seus habitantes, com suas histórias, entrelaçados em um bom enredo.

Vamos olhar mais aos nossos pequenos. Vamos ajudá-los a construir e erguer o mundo que eles idealizam.
Vamos ressuscitar a criança que fomos um dia. Vamos nos juntar e resgatar essa pureza.

Um feliz dia da criança!

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Conto - A Estrela Guia



Arábia. Cerca de dois mil anos atrás.

    Três homens atravessavam pelas terras áridas do deserto naquele fim de tarde. Eram três magos da Caldeia – os caldeus eram considerados um povo muito sábio, pois se dedicavam ao estudo dos astros e dos encantamentos. Havia rumores naquela época de que o Rei dos Judeus, o Cristo, logo chegaria ao mundo, e uma estrela anunciaria o seu nascimento.
    Desde então, os três magos decidiram viajar pelos desertos esperando por uma estrela que os guiassem. O primeiro mago, de origem ariana, era o mais velho de todos, e não conseguia imaginar como uma estrela cadente poderia guiá-los:
    - O astro irá nos guiar, você verá! – garantiu o segundo mago, de origem asiática.
    - Assim dizem os escritos. – lembrou o terceiro mago, de origem africana, o mais novo.
    - "Uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel.", é o que dizem as escrituras. – concordou o primeiro mago. – Precisamos, então, aguardar o momento. Assim que a próxima estrela cair, deveremos segui-la até alcançarmos o Rei.
    Como um milagre, um brilho se intensificou no céu. Era muito mais resplandecente que qualquer outro astro do céu. Os três, então, se apressaram. Subiram em seus camelos e iniciaram o cortejo ao astro.
    No caminho, o segundo e o terceiro mago decidiram trocar o que tinham por presentes para prestigiar a chegada do Rei, uma vez que o costume impedia que se chegasse a alguém de importância sem presentes a oferecer. O segundo mago comprou incenso, pois representaria a divindade do Rei, enquanto que o terceiro mago comprou mirra, que representaria a humanidade do Rei, enquanto nascido como um homem. O primeiro mago não se alegrou com nada que viu para presentear o Rei, então esperaria encontrar o presente certo.
    - Mas como me intrigam os movimentos deste astro! – comentou o primeiro mago.
    - Deveras. – assentiu o terceiro mago.
    - Por que este percurso tão defeituoso? – interpelou o segundo mago. – Uma estrela não tem movimentos tão absurdos!
    O objeto luminoso se movimentava em velocidade acima da esperada. Seus movimentos ora eram circulares, ora eram uniformes e retilíneos.
    - Precisamos estugar ou perderemos a estrela! – advertiu o primeiro mago.
    - Creio que já estamos em Belém. – presumiu o segundo mago.
    - Sim, estamos. – respondeu o terceiro mago. – Olhem!
    Os três magos observaram o corpo reluzente no céu. O objeto havia reduzido a sua velocidade e fazia uma curva descendente. Singelas faíscas caíam da estrela, enquanto ela rumava a Terra. E então o objeto sumiu.
    - Onde está? – questionou-se o segundo mago.
    - Ela caiu por trás daquele monte. – respondeu o primeiro mago. – Vamos, apressem-se!
    Assim, os peregrinos se apressaram com os seus respectivos animais em direção ao monte.
    Já se passavam dias desde o início da procissão, e finalmente os três magos encontraram o local em que a estrela caíra. Uma enorme cratera havia ali se formado, em meio aquela imensidão desértica.
    - O que tem ali? – O primeiro mago enxergou um pequeno brilho no centro do buraco formado pelo choque do objeto com a terra. – Venham!
    Quando se aproximaram da cratera, a luminosidade reduziu-se a um pequeno destroço. Não possuía uma forma reconhecível, era apenas um pedaço do que restara daquele objeto voador. Com certeza aquilo não era uma estrela.
    O primeiro mago logo teve a ideia de coletar aquele material feito de ouro para presentear o Rei que estava para nascer. Então, ele desceu à pequena cratera e tateou com precaução os destroços, escolhendo um pedaço nem tão grande, e nem tão pequeno.
    Os outros dois magos observavam atônitos aqueles restos. Certamente não eram os restos de um astro. Mas o que seriam?
    - Não descerão? – perguntou o primeiro mago, guardando o pedaço de ouro.
    - Não. Precisamos continuar a nossa busca pelo Rei. – lembrou o terceiro mago.
    De volta aos camelos, os três magos nem precisaram montar novamente nos animais. Ouviam o choro de uma criança vindo de um estábulo próximo dali. Deixaram os seus animais, pegaram os seus pertences e correram até o local.
    Ao entrar no estábulo, os três magos depararam-se com uma senhora segurando um bebê em seu colo, com um senhor ao seu lado. Então, prostraram-se diante do casal, admirando a criança e oferecendo-lhe os seus presentes. Após a entrega da mirra e do incenso, o primeiro mago decidiu entregar o seu presente:
    - Presenteio-te, criança, com este pedaço de ouro. – disse o primeiro mago, entregando a peça na mão da senhora. – Simboliza a tua realeza, a sabedoria que veio do Céu para a Terra.
    Os pais do menino assentiram em gratidão.
    Após contemplar o nascimento do Filho de Deus, os três magos levantaram-se, despediram-se e partiram, sumindo novamente na imensidão do deserto, carregando consigo o segredo daquele objeto que caíra do céu naquela noite.