O QUE O HORÁCIO QUER?
Júnior Gonçalves | 6 de nov. 2015 – às
16h15
Horácio, um pré-adolescente de 12
anos e morador da periferia de São Paulo, tem vontades e mil sonhos. A sua mãe,
Maria, trabalha como doméstica nos grandes lares e nos apartamentos luxuosos da
zona sul e, à noite, faz a graduação em Gastronomia, graças a uma bolsa que
conseguiu. José, o pai de Horácio, trabalha como vigia noturno num condomínio
localizado na área central da cidade.
Quando chega da escola ao meio-dia,
o Horácio toma um copo de suco e já sai de casa outra vez – é que, como a sua
mãe trabalha durante o dia e o seu pai dorme durante esse período, o menino não
pode ficar sozinho na rua. Por isso, foi matriculado num Centro para Crianças e
Adolescentes.
Durante o período da tarde, Horácio
tem acesso a muitas coisas no C.C.A.: almoço, café da tarde, atividades
esportivas, artísticas e socioeducativas, cultura, lazer, conhecimento, festas
de aniversário, excursões... É atividade que não acaba mais!
Ainda assim, parece que falta algo
para o Horácio. Mesmo com todo o apoio e incentivo fornecido pelos educadores e
demais funcionários da instituição, o Horácio não se sente satisfeito. Mesmo
com todas as oportunidades que lhe são oferecidas em todas as tardes, o Horácio
não se sente satisfeito. Na maior parte do tempo, o Horácio está fazendo alguma
coisa para chamar a atenção para si. Por vezes, isso acaba em discussões ou
brigas, obrigando a presença dos pais para uma conversa em busca de soluções.
É nesse momento que o Horácio começa
a sentir-se satisfeito: no momento em que enxerga os seus pais, Maria e José,
tentando resolver o problema do filho, dando atenção para a sua vida.
Não é que Maria e José não deem
atenção ou não se importem com o Horácio. Mas lhes falta tempo. Maria só chega
em casa à meia-noite e, aos finais de semana, preocupa-se com os trabalhos da
faculdade e com as tarefas domésticas. José trabalha durante a noite e dorme
para descansar durante o dia – então, nada de barulho para não o acordar.
Quando o Horácio chega em casa ao fim da tarde, ele só consegue ficar com o pai
por uma hora (que é o tempo que José tem para se trocar e alimentar o filho);
depois disso, o menino fica sob os cuidados da avó até que a mãe chegue da
faculdade.
Então, sim, o Horácio se satisfaz
quando os pais são chamados à escola ou ao C.C.A., pois esses são os momentos
em que a família dele se une por ele e com ele. Justamente por isso,
infelizmente, as broncas e os castigos já não funcionam mais com o menino, já
que ele pode fazer de tudo para ter mais tempo ao lado do pai e da mãe.
Horácio, um pré-adolescente de 12
anos e morados da periferia de São Paulo, é um entre muitos que têm vontades e
mil sonhos. A maior vontade e o maior sonho do Horácio e desses outros tantos é
que as suas famílias lhes reservem, ao menos, meia-hora por dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Me dê a sua opinião, pois será importante para o meu aperfeiçoamento e para que eu possa fixar em áreas específicas da preferência do público.