quarta-feira, 1 de maio de 2013

Conto - Obsessão



Abri os olhos. O rádio-relógio marcava três horas. Já faziam cinco horas desde que eu havia deitado para dormir, e não parecia. Joguei as cobertas para o lado direito da cama, acendi a luminária do criado mudo e me levantei, calçando as sandálias.
Um leve sabor metálico afetava o meu paladar, mas quando levei minha mão à boca percebi. Era sangue. Durante o sono eu devia ter mordido os lábios e provocado a ferida. Abri a porta do banheiro e, em seguida, enxaguei a boca e escovei os dentes para repelir o gosto desagradável.
Enquanto descia as escadas, rumo à cozinha, ouvi um estalo. O barulho vinha da sala, mas quando entrei no cômodo não consegui detectar o que pudera causar o som. Conferi o sistema de alarme, e estava tudo certo, mas quando olhei para a janela, em direção ao quintal, avistei um vulto correndo por entre os arbustos. Senti os pelos da nuca se ouriçarem.
Melindrosamente, corri até a cozinha e procurei por uma faca ou outro objeto pontiagudo, e encontrei um facão. Armado, retornei à porta de entrada e abri-a cuidadosamente. A escuridão que tomava o quintal me assombrava igualmente. Empurrado pela tensão vaguei pelo quintal como quem está perdido, sem saber como agir. Atentei-me que eu deveria ter, unicamente, buscado o telefone e discado o número da emergência.
Tive a sensação de estar sob a mira de algum intruso, mas não conseguia enxergar nada além da escuridão. A noite, sem luar, coadjuvava para favorecer aquele ambiente de horror. Empunhei o facão. Senti meu corpo vacilar, e então tudo escureceu.
Naquele negrume, eu apenas ouvia murmúrios. Meu nome era invocado frequentemente, e pareciam utilizar alguns termos médicos. Ouvi algo sobre pânico, ansiedade... Eu relutava, mas eles insistiam em me fazer abrir os olhos, e eu não queria acreditar que nada daquilo era real.
No início daquela noite eu sentira o coração apertado, palpitante, ouvi barulhos que vinham da minha própria casa, e cheguei a ver - ou pensei ter visto - alguém no quintal. Mais uma vez, insistiram para que eu abrisse os olhos, então concordei que eu precisava de auxílio. Quando abri os olhos, eu enxerguei. Os homens de branco é quem cuidavam de mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Me dê a sua opinião, pois será importante para o meu aperfeiçoamento e para que eu possa fixar em áreas específicas da preferência do público.