Com mais de 200 pessoas acusadas por bruxaria e 25 execuções, os julgamentos das bruxas de Salém foram fatais
Escrito por
Hanna Seariac | Traduzido por Júnior Gonçalves
Library of Congress | Representação fantasiosa dos julgamentos de Salém. |
Os
julgamentos das bruxas de Salém duraram apenas um ano.
Naquele
ano, mais de 200 pessoas foram acusadas de praticar bruxaria. De acordo com a
Smithsonian Magazine, os julgamentos começaram em 1692 mas, antes disso, a
Europa passou por uma perseguição às próprias bruxas.
A caça às bruxas no início da Era Moderna na Europa
De
1300 até 1600, várias regiões da Europa vivenciaram a caça às bruxas. Esses
momentos de perseguição às bruxas eram quase sempre mortais e motivados por
manuais com o "Malleus Malleficarum" de Heinrich Kramer (traduzido como
"O Martelo das Bruxas", que proveu justificativas teológicas para a
caça às bruxas.
Washington University in St. Louis | Página de rosto de "O Martelo das Bruxas". |
As
acusações de bruxaria no início da Europa Moderna poderiam resultar em
fatalidades. Berkeley Law declarou que o
desenvolvimento das leis sobre heresia e a definição de bruxaria como uma
heresia (juntamente às ideias sobre o que constituía magia e bruxaria) levou
muitas sociedades a considerar a bruxaria como um crime herético. Em caso de
condenação, a punição era a morte na maioria das vezes.
Brian
Levack escreveu em seu livro “A Caça às Bruxas” que a descriminalização da
bruxaria aconteceu simultaneamente ao aumento do ceticismo filosófico e
religioso. A economia se desenvolveu e as superstições passaram a ser
associadas às pessoas de classe econômica mais baixa. A caça às bruxas no
início da Era Moderna na Europa seguiu (e, de certa forma, coincidiu com) a
Peste Negra ou Peste Bubônica, a pandemia mais mortal já registrada na
história.
A
peste bubônica causou estragos por toda a Europa, deixando tudo como um lugar
instável. Somado à desestabilização da Europa, o antissemitismo, que já
prevalecia, aumentou quando as comunidades judaicas foram culpadas pela peste
bubônica. De acordo com a Universidade de Notre Dame, as bruxas também tinham
culpa sobre a doença. As acusações de bruxaria se desenvolveram lado-a-lado ao antissemitismo. Essas acusações, frequentemente, eram focadas em acordos com o
diabo.
O
“Malleus Maleficarum” operava com base na suposição de que uma bruxa era uma
pessoa, uma suposta mulher de acordo com o manual, que trabalhava ativamente
com Satanás. As mulheres que davam luz a bebês natimortos eram quase sempre
consideradas bruxas dentro do contexto desse manual - uma ideia perigosa para
sociedades que, regularmente, lidavam com o aborto e a morte infantil.
Na
prática, as acusações de bruxaria coincidiam e se afastavam do manual, pois,
normalmente, tinham mais a ver com a situação dentro da Lei, o status
econômico, a raça, a religião e, frequentemente, o gênero.
A Caça às Bruxas de Salém
Na
medida em que o início da Europa Moderna lidava com o declínio da caça às
bruxas em 1600, a Nova Inglaterra vivenciava a perseguição às bruxas ao mesmo
tempo - especificamente, dois julgamentos significativos. O primeiro julgamento
das bruxas da Nova Inglaterra começaram em 1647: os julgamentos de Connecticut.
Os
julgamentos de Salém, que aconteceram em Salém, Massachusetts, começaram bem no
final dos julgamentos de Connecticut. Em 1692, as acusações de bruxaria
começaram a percorrer a Vila de Salém.
History | Algumas mulheres, durante os julgamentos, eram mergulhadas na água para provar que praticavam bruxaria. |
As
primeiras acusações que vieram à tona foram de Betty Parris e Abigail Williams.
As duas meninas - que tinham 9 anos e 11 anos de idade respectivamente -
acusaram uma mulher escrava chamada Tituba de enfeitiçá-las quando começaram a
apresentar sintomas estranhos, de acordo com o site History.com. Tituba era
escrava de Samuel Parris, obrigada a ir para Barbados para a Nova Inglaterra
colonial. Alguns historiadores acreditam que a raça e o status social de Tituba
foram motivos para que Betty e Abigail a acusassem de bruxaria.
Depois,
Betty e Abigail acusaram duas outras mulheres de bruxaria também, Sarah Good e
Sarah Osborne. Arthur Miller se baseou nessas acusações iniciais para escrever
a sua peça teatral "The Crucible" em 1953, utilizando os julgamentos de
Salém para falar sobre o macarthismo.
Combinadas
com os escritos influentes de Cotton Mather e Increase Mather sobre as
"aflições" das garotas Goodwin e as respostas teológicas à bruxaria,
essas acusações iniciais abriram os julgamentos de Salém na Nova Inglaterra.
Rapidamente,
a vila de Salém entrou em pânico e muitas acusações foram feitas. Em março de
1692, com apenas 4 anos de idade, Dorothy Good (a filha de Sarah Good, que
havia sido acusada de bruxaria por Betty Parris e Abigail Williams) também foi
acusada de bruxaria: "quando esta criança lançou seus olhos sobre as
pessoas aflitas, elas ficaram perturbadas e seguraram a cabeça dela e, ainda
assim, por mais que seus olhos pudessem se fixar, foram afligidos".
Dorothy foi presa depois disso.
De acordo
com o Historic Ipswich, Dorothy ficou presa por vários meses até que o seu pai,
William Godd, conseguisse pagar a sua fiança. Sarah Good foi enforcada depois
de, na prisão, dar à luz a uma criança chamada Mercy (algo como
"Piedade"). A criança também morreu.
Em
seu livro "Entertaining Satan: Witchcraft and the Culture of Early New
England" ("Entretendo Satanás: A bruxaria e a cultura no início da
Nova Inglaterra"), John Demos detalhou como as mulheres eram acusadas.
Martha Corey, por exemplo, foi acusada por Anne Putnam e Bridget Bishop. Mesmo
alegando a sua inocência, Bishop foi executada. De acordo com a Smithsonian
Magazine, Cotton Mather implorou ao tribunal para não usar evidências
espectrais. Uma evidência espectral era qualquer testemunho sobre visões ou
sonhos, que era frequentemente utilizada durante esses julgamentos. O tribunal
recusou e continuou a utilizar tal recurso.
De
acordo com o blogue History of Massachusetts, o ano teria mais de 200 acusações
de bruxaria, cerca de 140 a 150 pessoas detidas por bruxaria e várias
executadas ou muitas que morreram na prisão. O Governador William Phips pôs fim
à caça às bruxas de Salém em março de 1693, mas, a essa altura, várias haviam
morrido ou sido executadas.
Três
séculos depois, Massachusetts perdoou oficialmente todos os que foram
condenados injustamente durante os julgamentos. De acordo com o The Guardian, a
última a ser exonerada foi Elizabeth Johnson, Jr. Embora Johnson tivesse
apresentado um pedido de exoneração em 1712, isso não aconteceu até março de
2022 quando ela foi, finalmente, perdoada.
NPR | Memorial destinado às vítimas dos julgamentos de Salém. |
O
portal de notícias NPR informou que Salém homenageou as 19 pessoas que foram
enforcadas, as 5 que morreram na prisão e uma que foi apedrejada durante os
julgamentos.
Fonte: DeseretNews. Disponível em: [Salem Witch trials
history: Who was accused in the Salem Witch trials? - Deseret News].
Acessado em 1 de fev.de 2023.