É... Parece que as coisas chegaram a um ponto sem retorno.
Eu não consigo mais enxergar perspectivas futuras. Eu tento, fecho os
olhos, forço as minhas pálpebras, mas tudo o que vejo é o breu.
Eu tento me apegar às minhas memórias, aos bons momentos, a tudo de bom
que eu já vivi, a todas as experiências que marcaram a minha trajetória até
aqui. E, ainda assim, esse peso, esse bolo que sufoca a minha garganta e me
deixa sem ar ainda se faz presente.
Tem tanta gente que eu amo, tanta coisa que eu amo tanto! Me dói pensar
em tudo e não ver nada disso à minha volta. Dói ver que estou sozinho nesse
breu – por mais que as pessoas digam que estão comigo e que posso contar com
elas, eu continuo me enxergando sozinho aqui.
Eu não sei o que fazer... Eu não sei mais como organizar tudo o que eu
sinto e que está formando essa tormenta aqui dentro. Eu durmo sempre desejando
não acordar e poder não sentir mais nada. Eu acordo sempre desejando não dormir
com medo de nunca mais acordar. E eu não posso contar isso pra ninguém porque é
pesado demais, ninguém merece essa carga!
Eu não quero voltar pra casa porque, lá, eu me lembro de todas as coisas
boas que eu já vivi e não quero ser aquele que se vitimiza para
conseguir o mínimo de atenção. Eu não quero vir trabalhar porque, aqui, eu
percebo o quanto eu sou um inútil em ter dito que faria tanta coisa e não ter
conseguido fazer nada do que eu queria. Eu não quero ir ver os meus pais
porque, com eles, eu tenho vontade de chorar igual criança e pedir colo, mas
são eles quem precisam de colo agora. Eu não quero ir ver os meus irmãos porque
cada um deles tem a sua vida formada e já lidam com os seus problemas para
conseguirem manter tudo girando.
Tá tudo tão difícil. E não há mágica que faça toda essa sensação sumir...
Não há magia que faça as pessoas entenderem que eu não estou assim porque eu
quero, mas porque eu não consigo sair disso.
Espero conseguir segurar tudo isso o quanto puder antes que tudo vire
caos e destruição.