CARTA N°. 01 – Eu achava que tudo seria diferente
Eu
achava que tudo seria diferente.
Eu achava
que eu chegaria do trabalho e teria para quem contar sobre o meu dia. Eu achava
que isso aconteceria todos os dias. Em vez disso, eu chego em casa e me
encontro sozinho até o início da noite, quando o sono bate e já é hora de
dormir. A correria do dia-a-dia me impede de passar mais tempo com quem eu amo.
Eu
achava que, aos finais de semana, eu sairia para passear, curtir, ver filmes,
exposições, nadar ou ficar de bobeira num parque assistindo o pôr-do-Sol. Em
vez disso, eu trabalho a semana inteira e, aos finais de semana, eu fico
cansado e na companhia dos filmes e seriados na minha cama – na companhia de
filmes e seriados, isso, e não de pessoas.
Eu
achava que eu viveria diariamente os mais diversos prazeres: o amor, o sexo, a
comida, a diversão. Em vez disso, a cada dia que passa, esses prazeres parecem
escorrer como areia pelos meus dedos.
Eu
achava que eu viajaria o mundo e, aos 30 anos de idade, estaria vivendo em
algum outro país. Em vez disso, não consigo gastar o meu dinheiro com nada além
das contas e viajo, no máximo, para outra cidade dentro do meu estado.
Eu
achava que eu teria alguém que sentisse prazer somente pelo fato de estar ao
meu lado. Eu achava que eu teria alguém que sentisse alegria somente pelo fato
de estar quase chegando em casa. Eu achava que eu seria sempre a pessoa com
mais vontade de viver e que sempre estaria sorrindo.
Hoje,
eu me vejo em meio aos meus “achados” e não sei o que fazer com cada um deles. Cara
Vida, hoje, eu estou perdido dentro de mim e não consigo encontrar exatamente
onde foi que eu me perdi e, assim, eu não consigo me resgatar.
Eu
olho no espelho e vejo pedaços do que eu fui e reflexos de algo que eu não
entendo mais. Eu me sufoco debaixo da água que cai do chuveiro tamanha é a
minha angústia diante disso tudo. Eu já cheguei ao ponto de querer sentir a dor
física para tentar amenizar essa dor daqui de dentro, que me empurra contra uma
parede gigantesca que desaba sobre a minha cabeça.
Cara
Vida, você parece estar lutando contra mim e eu ainda não entendo o porquê
dessa sua revolta. O que foi que eu fiz? Em que momento eu errei com você?
Eu só
preciso dessa resposta... Cara Vida.