Há algum tempo,
escrevi um conto que explorava um pouco da mitologia tupi-guarani, "O
Mistério da Fênix", no qual um garoto paulistano de dezessete anos se
descobre como parte do panteão tupi-guarani.
Depois disso, vieram algumas ideias que compartilhei com
algumas pessoas mais próximas. Por sorte, foram boas ideias que provaram dar
bons frutos: Anderson do Nascimento, o meu marido, decidiu utilizar, como pano
de fundo, o contexto mitológico tupi-guarani para uma de suas produções no seu
trabalho nas Fábricas de Cultura.
As Fábricas de Cultura
As Fábricas de Cultura são um projeto do Governo do
Estado de São Paulo em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
O projeto visa a educação e a formação nas diversas formas de expressão
artística.
O Anderson é educador do ateliê de Canto Coral na Fábrica
de Cultura de Cidade Tiradentes e, neste semestre, desenvolveu um espetáculo
musical com os seus aprendizes na trilha semestral.
A ideia de trabalhar com a mitologia tupi-guarani
Inicialmente, a ideia do Anderson era trabalhar, com os
aprendizes de Canto Coral, as lendas brasileiras: o Saci, a Caipora, o Boi
Bumbá, a Iara etc. Contudo, durante o processo de desenvolvimento do
espetáculo, o Anderson apresentou o meu conto "O Mistério da Fênix"
aos aprendizes, que demonstraram grande interesse pela abordagem com as
divindades nativamente brasileiras.
Ilustração de Júnior Gonçalves. |
Assim, a trilha tomou um novo rumo e os aprendizes
entraram num ambiente de pesquisa amplo sobre a cultura nativa do país,
buscando informações sobre o folclore popular brasileiro e sobre as lendas dos
povos tupis-guaranis.
A montagem do espetáculo
O espetáculo musical começou a ser produzido a partir do
momento em que os aprendizes iniciaram as buscas pelas informações, pelas
lendas e pelo levantamento musical – as músicas do espetáculo são músicas que,
de alguma forma, influenciaram a música brasileira.
Após longas discussões e trocas de informações, os
aprendizes puderam escolher os seus personagens – isso demonstra a liberdade
oferecida pelo educador, visando que cada aprendiz se apropriasse do seu
personagem sem levar o processo como algo penoso. Em seguida, foi criado um
grupo no Facebook, dedicado às discussões e ideias para as caracterizações dos
personagens.
Foi, então, que eu recebi o convite para escrever o
enredo e adaptá-lo para o roteiro do musical. A proposta era inserir os
personagens na resolução dum conflito – a degradação ambiental e a destruição
da Amazônia, o pulmão do mundo. Eu já conhecia alguns dos aprendizes
pessoalmente, o que me ajudou muito na construção do enredo, e sempre
conversava com o Anderson sobre cada aprendiz para tentar adequar, ao máximo,
cada personagem.
Após a construção do enredo e algumas alterações, segui
para a adaptação da história em um roteiro teatral. Juntos, eu e o educador
selecionamos algumas trilhas sonoras que serviriam de entradas e interlúdios –
isso aconteceu após a edição completa do roteiro e dos cortes de algumas cenas
(devido ao tempo disponibilizado para a apresentação). Ainda, tive a chance de
adaptar a canção "O que eu quero mais é ser rei", do filme "O
Rei Leão", para o personagem Curupira, que contracenou com a personagem
Caipora.
A apresentação
O evento foi parte da formação semestral dos aprendizes
da Fábrica de Cultura de Cidade Tiradentes, que aconteceu no dia 6 de dezembro
de 2015, às 16h40, no teatro da unidade.
O enredo foi centralizado na reunião de várias entidades
folclóricas, como Caipora, Curupira, Jaci, Guaraci, Rudá, Boitatá, Boto
Cor-De-Rosa, Cuca, Jurupari, Anhangá, duendes, fadas e índios, todos
preocupados após descobrirem que Tupã perdeu os seus poderes e não consegue
mais fazer chover e que Iara está fraca e morrendo. Durante o espetáculo, os
personagens descobrem que isso está acontecendo por conta da destruição da
natureza pelo homem e tentam buscar soluções para isso.
Primeira parte do espetáculo musical.
As músicas foram envolventes e fizeram o público interagir
com os personagens, conseguindo sentir a angústia e questionar a existência
duma possível solução para tudo isso. "Amazônia", "Não vamos
parar" e "Planeta Água" foram algumas das músicas do espetáculo.
Os aprendizes surpreenderam tanto ao educador – que se
emocionou ao final do espetáculo – quanto ao público e aos funcionários da
Fábrica de Cultura de Cidade Tiradentes. O talento de cada um pôde ser
percebido; a veia artística de cada um pulsou intensamente.
Segunda parte do espetáculo musical.