Ele acordou. O relógio marcava 6:45, estava muito cedo. Virou-se para o lado, e percebeu algo inusitado. A parede do seu quarto estava destruída, com um grande buraco em seu centro. O mais estranho não era isso, mas o que se enxergava do outro lado não era a sua vizinhança.
O menino levantou-se de súbito, assustado. Havia um vasto campo florido no outro lado da parede, uma terra desconhecida. Um grande lago, de uma água acobreada. Definitivamente, ali não era o seu lar.
Tenso, o garoto trocou de roupa e colocou a cabeça para fora do buraco, esperando tê-la arrancada por algo. Por sorte, nada aconteceu. Sua casa já não existia, era somente aquele cômodo, o seu quarto, no meio daquela terra desconhecida. Rodeou o cômodo, e nada encontrou, nenhum vestígio de sua casa, de seus pais.
O medo começou a tomar conta, e então o menino decidiu explorar o lugar, procurar por ajuda. Duas horas de caminhada renderam-lhe apenas desgaste, sede e fome. Lembrou-se de que havia guardado uma maçã em seu criado, e voltou para buscar.
Mas, para a sua surpresa, o seu quarto desaparecera. Ele tinha a certeza de que não havia voltado pelo caminho errado, e nem teria como errar... Mas não encontrou nada. O desespero só aumentou. O menino sentou-se no chão e desabou em prantos. Estava perdido, sozinho, com fome e com sede. E não podia satisfazer nenhuma de suas necessidades.
Ele, então, enxugou os olhos com a camiseta listrada e pôs-se de pé. Pensou em tudo aquilo que lhe dava forças, que o deixava feliz. Pensou em seus pais, pensou em sua casa, pensou em seus amigos, pensou em comida, pensou em brincar. Mas a única coisa que acabou dando certo foi pensar em sonhar. O garoto percebeu que poderia estar sonhando, que tudo aquilo estivesse acontecendo em seu inconsciente, e então fez o que há de melhor a se fazer em um sonho. Desejou água potável. E uma garrafa de água começou a brotar, inesperadamente, da terra. Desejou comida. E árvores passaram a crescer, rapidamente, ao seu redor, dando frutos diversos, alguns desconhecidos. Desejou um abrigo. E, assim, uma cabana se montou sozinha, ao seu lado.
O garoto ficou maravilhado com aquilo. Poderia fazer surgir tudo o que desejasse? Desejou, então, que os pais estivessem ali. Estranhamente, duas criaturas se ergueram da terra, limpando os resquícios de sujeira e ficando de pé, ao lado do menino, sorrindo. Eram seus pais. O menino correu e abraçou-os.
Pronto. Tinha tudo o que queria. Água, comida, um novo lar e seus pais. Mas seriam os três, unicamente, naquele lugar? O menino passou a desejar outras coisas. Amigos, pessoas sábias, pessoas boas. Animais. Desejou, também, alegria, humildade.
E aquele mundo foi se transformando. Em poucos minutos estava totalmente habitado, por seres humanos, animais e plantas. Mas não era um mundo como o qual o garoto estava acostumado. Era diferente.
Havia, no ar, algo que ele jamais conseguira sentir em seu "mundo real". Havia esperança.