Arábia. Cerca de dois mil anos atrás.
Três homens atravessavam pelas terras áridas do deserto naquele fim de tarde. Eram
três magos da Caldeia – os caldeus eram considerados um povo muito sábio, pois
se dedicavam ao estudo dos astros e dos encantamentos. Havia rumores naquela época de que o Rei dos Judeus, o Cristo, logo chegaria ao mundo, e uma estrela
anunciaria o seu nascimento.
Desde
então, os três magos decidiram viajar pelos desertos esperando por uma estrela
que os guiassem. O primeiro mago, de origem ariana, era o mais velho de todos,
e não conseguia imaginar como uma estrela cadente poderia guiá-los:
-
O astro irá nos guiar, você verá! – garantiu o segundo mago, de origem
asiática.
-
Assim dizem os escritos. – lembrou o terceiro mago, de origem africana, o mais
novo.
-
"Uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel.", é o que
dizem as escrituras. – concordou o primeiro mago. – Precisamos, então, aguardar
o momento. Assim que a próxima estrela cair, deveremos segui-la até alcançarmos
o Rei.
Como
um milagre, um brilho se intensificou no céu. Era muito mais resplandecente que
qualquer outro astro do céu. Os três, então, se apressaram. Subiram em seus
camelos e iniciaram o cortejo ao astro.
No
caminho, o segundo e o terceiro mago decidiram trocar o que tinham por
presentes para prestigiar a chegada do Rei, uma vez que o costume impedia que
se chegasse a alguém de importância sem presentes a oferecer. O segundo mago
comprou incenso, pois representaria a divindade do Rei, enquanto que o terceiro
mago comprou mirra, que representaria a humanidade do Rei, enquanto nascido
como um homem. O primeiro mago não se alegrou com nada que viu para presentear
o Rei, então esperaria encontrar o presente certo.
-
Mas como me intrigam os movimentos deste astro! – comentou o primeiro mago.
-
Deveras. – assentiu o terceiro mago.
-
Por que este percurso tão defeituoso? – interpelou o segundo mago. – Uma
estrela não tem movimentos tão absurdos!
O
objeto luminoso se movimentava em velocidade acima da esperada. Seus movimentos
ora eram circulares, ora eram uniformes e retilíneos.
-
Precisamos estugar ou perderemos a estrela! – advertiu o primeiro mago.
-
Creio que já estamos em Belém. – presumiu o segundo mago.
-
Sim, estamos. – respondeu o terceiro mago. – Olhem!
Os
três magos observaram o corpo reluzente no céu. O objeto havia reduzido a sua
velocidade e fazia uma curva descendente. Singelas faíscas caíam da estrela,
enquanto ela rumava a Terra. E então o objeto sumiu.
-
Onde está? – questionou-se o segundo mago.
-
Ela caiu por trás daquele monte. – respondeu o primeiro mago. – Vamos,
apressem-se!
Assim,
os peregrinos se apressaram com os seus respectivos animais em direção ao
monte.
Já
se passavam dias desde o início da procissão, e finalmente os três magos
encontraram o local em que a estrela caíra. Uma enorme cratera havia ali se
formado, em meio aquela imensidão desértica.
-
O que tem ali? – O primeiro mago enxergou um pequeno brilho no centro do buraco
formado pelo choque do objeto com a terra. – Venham!
Quando
se aproximaram da cratera, a luminosidade reduziu-se a um pequeno destroço. Não
possuía uma forma reconhecível, era apenas um pedaço do que restara daquele
objeto voador. Com certeza aquilo não era uma estrela.
O
primeiro mago logo teve a ideia de coletar aquele material feito de ouro para
presentear o Rei que estava para nascer. Então, ele desceu à pequena cratera e
tateou com precaução os destroços, escolhendo um pedaço nem tão grande, e nem
tão pequeno.
Os
outros dois magos observavam atônitos aqueles restos. Certamente não eram os
restos de um astro. Mas o que seriam?
-
Não descerão? – perguntou o primeiro mago, guardando o pedaço de ouro.
-
Não. Precisamos continuar a nossa busca pelo Rei. – lembrou o terceiro mago.
De
volta aos camelos, os três magos nem precisaram montar novamente nos animais.
Ouviam o choro de uma criança vindo de um estábulo próximo dali. Deixaram os
seus animais, pegaram os seus pertences e correram até o local.
Ao
entrar no estábulo, os três magos depararam-se com uma senhora segurando um
bebê em seu colo, com um senhor ao seu lado. Então, prostraram-se diante do
casal, admirando a criança e oferecendo-lhe os seus presentes. Após a entrega
da mirra e do incenso, o primeiro mago decidiu entregar o seu presente:
-
Presenteio-te, criança, com este pedaço de ouro. – disse o primeiro mago,
entregando a peça na mão da senhora. – Simboliza a tua realeza, a sabedoria que
veio do Céu para a Terra.
Os
pais do menino assentiram em gratidão.
Após contemplar o nascimento do Filho de Deus, os três magos levantaram-se, despediram-se e partiram, sumindo novamente na imensidão do deserto, carregando consigo o segredo daquele objeto que caíra do céu naquela noite.