sábado, 4 de maio de 2013

Conto - Alvura renunciada



Solitário, o pequeno menino brincava na soleira da porta de sua casa. Na verdade, estava acompanhado por uma boneca, de olhos profundos, um ventríloquo. A feição do ventríloquo era melancólica, sofrida. Já o menino tinha uma aparência amarga, carregava um semblante sério, pesado, mesmo durante a brincadeira.
A casa era afastada de todas as outras da rua. Ninguém sabia, mas o menino vivia sozinho, não tinha irmãos, pais, tampouco amigos. Assim, exteriorizava toda a solidão de sua alma naquele lúgubre olhar. Sua única companhia, sua única amiga verdadeira, que jamais o abandonara, era aquela boneca.
E os vidros da porta refletiam um segredo obscuro. O interior da casa encobria uma desgraça. Aquele solitário menino era prisioneiro de sua própria perversidade. O abandono lhe tornara um facínora, angustiador, uma criança tenebrosa.
Mas não havia salvação, segundo seus demônios interiores. E apenas aquela boneca conseguia compreender a sua alma, seus anseios, ninguém mais. Nenhuma daquelas crianças que foram até ele puderam entendê-lo e, portanto, ele as resgatou.

2 comentários:

  1. Me lembra essa animação: http://www.youtube.com/watch?v=irbFBgI0jhM
    ^^

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