sábado, 11 de julho de 2015

MESSOREM: O Aprendiz da Morte (C. 1)



Capítulo 1 – O Chamado

            Felipe, um garoto de 15 anos, residente da zona norte da cidade de São Paulo; por conta do seu aniversário, ele acabara de ganhar um presente dos pais: um ultrabook.
            O menino estava muito ansioso para chegar em casa e começar a usar o novo computador. Assim que saiu da escola, ele mal despediu-se dos colegas e correu para casa – que não era muito próxima, então levou cerca de 40 minutos até chegar.
            Chegando em casa, Felipe foi direto ao seu quarto, desconectou o ultrabook da tomada e ligou o aparelho. Em dez segundos, a área de trabalho já estava disponível; havia alguns programas desconhecidos pelo garoto – um deles estava nomeado Messorem.
            — Que estranho! — pensou Felipe, tentando decifrar o que significava aquilo.
            Numa rápida busca pela internet, o menino descobriu que se tratava duma palavra de origem latina, que significa “ceifadores”; isso deixou Felipe ainda mais instigado a abrir o programa de computador.
            O garoto clicou imediatamente sobre o ícone do programa, uma espécie de foice (ele só percebeu isso após descobrir a relação do nome com o seu significado). Enquanto o programa carregava, Felipe mal conseguia conter a sua curiosidade.
            Enfim, a janela inicial do programa se abriu: o leiaute era todo da cor preta com alguns detalhes vermelhos e acinzentados. A figura dum ceifador era desenhada numa sombra no fundo da janela.
            — Que bizarro! — comentou Felipe, enquanto navegava pela janela do programa.
            Uma aba com as letras piscando em vermelho, no alto da janela, chamava a atenção do garoto com os dizeres “Nunc et in hora mortis nostrae”. Felipe copiou a sentença e colou na página de busca da internet e, para alimentar ainda mais a sua curiosidade, o que encontrou foi um trecho duma oração:
            — Agora e na hora de nossa morte... — repetiu Felipe, em voz alta, enquanto lia a tradução.
            — Amém! — uma voz masculina surgiu na porta do quarto.
            O menino saltou da cama assustado, como se tivesse visto um fantasma. Mas era apenas o seu pai.
            — Ah, pai... — o menino se recompôs. — É só você!
            — eu? — Julio fez uma careta. — Obrigado pela consideração.
            — Não foi isso o que quis dizer, pai — argumentou o garoto. — É que eu estava concentrado aqui e tomei um susto quando você falou...
            — Eu vi — concordou Julio. — Está rezando, é?
            — Não! — Felipe riu. — Estou pesquisando umas coisas em latim, só isso.
            — Entendi — Julio piscou e saiu do quarto do filho.
            Felipe se voltou para a tela do computador: o programa havia sido fechado e, agora, só restava uma imagem de plano de fundo a qual ele não escolhera – um ceifador de almas. O menino, imediatamente, desligou o computador e desceu para ficar com os pais na sala.
            Mais tarde, por volta das nove da noite, Felipe foi até o portão de sua casa para olhar a rua, como sempre fazia, mas ele percebeu algo estranho; havia um corsa sedan preto estacionado ao outro lado da rua. O vidro do carro estava abaixado e um homem fitava o menino com um ar misterioso – o homem tinha um rosto envelhecido e uma feição tristonha.
            O menino ficou tão incomodado que decidiu entrar para a sua casa e ir dormir.

            No dia seguinte, logo que acordou, Felipe olhou pela janela para ver se o sedan preto ainda estava ali; mas não estava. O menino ligou o ultrabook. O programa Messorem não abria; “Este programa está sendo atualizado.”, a mensagem surgia sempre que ele clicava sobre o ícone.
            — Mas que droga! — reclamou.
            O menino foi para o banheiro tomar banho. Enquanto ele escovava os dentes, fixou o olhar no espelho para tentar ver melhor algo que lhe havia intrigado: sua pupila estava dilatada, brilhando como um rubi, e a esclera, o branco dos olhos, estava com alguns filamentos pretos – era como se jogasse tinta preta dentro dum copo de leite.
            — Que merda é essa? — ele gritou.
            Felipe ficou aterrorizado e entrou debaixo do chuveiro, esfregando os olhos freneticamente e chorando. Após isso, voltou a olhar para o espelho e tudo estava normal.
            Aquele dia seria terrível para o menino: não conseguiu tomar o café por conta do que vira no banho, não se concentrara nas explicações dos professores durante o período escolar, nem conseguira voltar para casa de ônibus. A ansiedade era tanta, que o garoto preferiu voltar para casa a pé, assim poderia espairecer.
            No caminho, enquanto caminhava pela calçada, um carro o acompanhava lentamente; era um sedan preto. Imediatamente, Felipe apertou o passo e começou a andar depressa. Mas o carro preto também acelerou e alcançou o menino.
            Rezando e pedindo ajuda mentalmente, Felipe ergueu lentamente o rosto e olhou para o interior do carro; mais uma vez, aquele mesmo homem esquisito – sua feição, agora, era de urgência.
            — Deixa eu falar com você? — disse o homem de dentro do carro.
            Felipe o encarou com pavor e permaneceu em silêncio, andando o mais depressa que podia.
            — Felipe, por favor! — insistiu o homem.
            Nesse instante, ao ouvir o seu nome na boca dum desconhecido, Felipe arregalou os olhos e ficou estático na calçada, tentando olhar nos olhos do homem desconhecido.
            — Até que enfim... — disse o homem. — Preciso muito falar com você!
            — Como sabe o meu nome? Quem é você? — interrogou Felipe. O menino encarava o homem apavorado, pois via nele a mesma coisa que havia visto em si pela manhã: os olhos estavam tomados por um negrume.
            — Entre no carro — pediu o homem. Ele vestia um terno preto, camisa preta e uma gravata vermelho-sangue; adornava, em seu pescoço, uma corrente com um pingente em forma de foice.
            — ‘Tá louco, né? — disse Felipe. — Nem te conheço!
            — Mas eu conheço quem você é e o que você vai ser — revelou o homem.
            O menino olhou à sua volta; não havia absolutamente ninguém na rua além dos dois.
            — Só me diga o seu nome — insistiu Felipe.
            — Não lembro mais o meu nome — respondeu o homem. — Entre logo no carro, não farei mal a você.
            — Caramba, eu sou um imbecil por fazer isso — disse Felipe, enquanto abria a porta do sedan e sentava no banco do passageiro.
            As janelas do carro se fecharam e o homem deu a partida; enquanto dirigia, foi bombardeado pelas perguntas do menino, que estava bem preocupado:
            — Como sabe o meu nome?
            — Eu não conhecia você... — revelou. — Até ontem.
            — Você me conheceu ontem naquela hora em que eu estava vendo a rua? — perguntou Felipe.
            — Não, foi antes — respondeu o homem. — Conheci você quando abriu aquele programa em seu computador.
            — Você é um hacker? — supôs o menino.
            — Não! — o homem tentou rir, mas conseguiu uma tosse seca. — Sou o que você está prestes a ser.
            — Como assim? — Felipe estava impaciente. — Os seus olhos... Por que são assim?
            — Há muito tempo atrás, quando eu havia acabado de sair do exército, ganhei um livro em branco, uma espécie de diário — contou o homem. — Ganhei de uma mulher que eu nunca vi antes.
            O negrume nos olhos do homem parecia estar-se movendo dum lado para o outro.
            — Quando rasguei a embalagem, vi a capa do livro: “Messorem” — lembrou o homem.
            — Ceifadores — comentou o menino, com boquiaberto.
            — Isso mesmo — confirmou o homem. — E, depois, na contracapa, uma frase que você já deve conhecer também... Fiquei bem assustado com isso, mas não me importei muito. Porém, quando comecei a escrever sobre os meus dias de exército naquele diário, as coisas ficaram estranhas.
            — Estranhas? — perguntou Felipe.
            — Os meus olhos; vez ou outra, eu me via com eles assim, escuros — explicou o homem, apontando para os próprios olhos, que estavam negros com a pupila vermelha. — Depois, encontrei este pingente no meio do livro...
            — Desculpe, mas não estou entendendo nada — Felipe preferiu ser franco. — O que tudo isso tem a ver comigo?
            — O que eu sou... — o homem resistiu um pouco a continuar. — O que você está prestes a ser não é algo comum; não é algo humano. Infelizmente, ninguém me ajudou a passar por isso, então sofri muito. Mas eu estou aqui para ajuda-lo.
            — O que você é? — insistiu Felipe, curioso e preocupado.
            — Desde sempre, pessoas foram escolhidas (nunca soube por quem!) para uma função um tanto quanto perturbadora. Essas pessoas acabam tornando-se seres não-humanos capazes de agir como psicopompos.
            — Psico-o-quê? — questionou Felipe, sem entender uma vírgula.
            — Psicompompos — repetiu o homem. — Essas pessoas viram guias das almas que deixam os seus corpos; mostramos a esses espíritos o caminho que eles devem seguir para que não fiquem presos aqui na Terra.
            — Mas que doideira é essa? — Felipe encarou o homem com descrença. — Não acredito em contos de fada!
            — Não é um conto de fada — disse o homem, convicto. — É a realidade. Você está prestes a ser um Ceifador.
            — Para o carro que eu quero descer! — exigiu Felipe.
            — Felipe, por favor... — implorou o homem. — Me deixa ajudar você! Passar por isso sozinho é muito pior!
            — Para o carro! — gritou Felipe.
            Dois segundos depois, o carro parou.
            Felipe abriu a porta e saiu sem olhar para trás. Aquele homem não fazia parte da sua vida e jamais faria. Aquela vida não seria a sua. Aquele destino não seria o seu.

2 comentários:

  1. Uouuu ficou muito boa, parabéns!!!
    Curioso para saber o que esse novo destino vai trazer pro garoto
    Quis entrar no carro mesmo sabendo que não devia e depois ficou com medo.... Adolescentes...
    Indo ler o próximo capítulo agora mesmo 》》》

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    1. Exatamente: o temperamento dum adolescente - instável por completo! :)

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Me dê a sua opinião, pois será importante para o meu aperfeiçoamento e para que eu possa fixar em áreas específicas da preferência do público.