terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Conto: Mais bela do que eu? - PARTE 2

O conto a seguir é uma adaptação que fiz para o conto "Branca de Neve e os Sete Anões".

Beatriz é uma jovem de dezoito anos que perdeu o pai recentemente. Com isso, a Kingdom - grande empresa do ramo de segurança - foi deixada para ela e sua madrasta, Milena di Aba. Milena é uma modelo conhecida internacionalmente por sua beleza exuberante, mas está prestes a travar um embate com sua enteada, que está ganhando o título de mulher mais bela do mundo.

Se você ainda não leu a Parte 1 da história, clique aqui.

Mais bela do que eu?


            Logo que chegou à Kingdom, Beatriz foi recepcionada por Arthur:
            — Bom dia, senhora Nevada — disse o segurança.
            — Bom dia, Arthur — respondeu a jovem. — A Milena está aí? Marquei uma visita com ela.
            — A senhora di Aba teve de sair para resolver alguns problemas, mas pediu que você esperasse.
            Beatriz riu; e, logo depois, abafou o riso, constrangida.
            — Algo errado? — questionou Arthur.
            — Não... Não foi nada — disse a herdeira da empresa. — É que o sobrenome dela é tão incomum, exótico.
            — Vamos? — sugeriu ele.
            — Aonde? — questionou a jovem.
            — Siga-me. A senhora di Aba pediu que eu deixasse você à vontade — explicou o homem.
            Beatriz, então, seguiu-o. Eles desceram pelo elevador até o segundo subsolo, e depois entraram em um corredor estreito e pouco iluminado.
            — Arthur, aonde estamos indo? — perguntou a jovem, desconfiada.
            Quando se virou para o segurança, o choque de Beatriz foi tremendo. O homem apontava uma arma em sua direção.
            — Desculpe-me, criança, mas só estou cumprindo ordens — lamentou.
            — Ordens? — mesmo apavorada, Beatriz tentou manter a calma. — Olha, você não tem que fazer isso. Posso conversar com a Milena, e podemos aumentar o seu salário, bonificar você...
            — A senhora Milena? — ele gargalhou. — Criança, é ela quem quer ver você morta!
            — A Milena? — a garota se surpreendeu. Por mais que sentisse certa antipatia vinda de sua madrasta, jamais imaginava que ela chegaria àquilo. — Mas por quê? O que eu fiz de errado?
            — Repito — enfatizou Arthur. — Apenas cumpro ordens. Este é o meu código: atender àqueles que estão em posições acima da minha.
            Beatriz fitou o homem por um momento, e então sorriu.
            — Ora, se for assim... A empresa também é minha! — ela argumentou. — E eu tenho ligação consanguínea com o fundador da Kingdom, ao contrário da Milena. Portanto, estou numa posição acima da posição dela.
            Arthur encarou a jovem, confuso. Ela estava certa.
            — Olha, eu preciso provar à sua madrasta que eu dei cabo da sua vida — explicou o segurança.
            — Sem problemas! — concordou ela, ainda tremendo. — Dê um soco em meu olho.
            — Hein? — estranhou Arthur.
            — Vamos! — insistiu a jovem. — Bata em mim.
            Sem questionar outra vez, ele deu um soco no rosto da menina, que caiu no chão. Quando ela se recompôs, após cerca de dez minutos, ele a ajudou a se levantar. Beatriz limpou a sua boca do sangue que escorria e, em seguida, pegou um canivete que estava num armário do corredor. Ela cortou suas tranças, deixando o seu cabelo bem curto.
            — Agora, tome — ela entregou as tranças a ele. — Vou-me deitar e você vai pegar o seu celular e tirar fotos. Vai parecer que estou morta.
            Arthur fez tudo o que ela pediu.
            — Leve as tranças para a Milena — pediu Beatriz. — Será outra prova.
            — Prometa que vai fugir! — exigiu o homem. — Você tem que ir o mais longe que puder... Saia da cidade. Se possível, saia do país! Se a sua madrasta descobrir que você ainda está viva, ela mesma vai querer concluir o serviço.
            — Obrigado, Arthur — agradeceu a jovem. — Espero que dê tudo certo para você, também.
            — Vai logo! — gritou o homem.
            Enquanto Arthur voltava para o elevador, Beatriz continuou seguindo pelo corredor mal iluminado. A menina conhecia cada pedaço daquela empresa, cada sala – afinal, sua infância fora toda ali.
            Após abrir algumas portas e subir algumas escadas, Beatriz saiu por uma saída de emergência na parte traseira do prédio. A jovem correu o máximo que pôde; pegou um ônibus e seguiu para a mansão de seu pai, pois precisava fazer as malas.
            Enquanto isso, Milena tomava um cappuccino em sua mesa, na sala da presidência. Sobre a sua mesa, estava uma das revistas das quais fora capa; mas aquela era a mais popular de todas, pois Milena di Aba estava vestida como uma verdadeira rainha da moda: um vestido longo roxo, que combinava com suas luvas – que acabavam um pouco acima dos cotovelos –, uma espécie de cinto de ouro com uma grande pedra de rubi, uma linda e comprida capa preta de gola alta – com o revestimento interior da cor vermelha e, por fim, uma brilhante coroa de ouro. Aquela capa de revista havia sido eleita como a melhor fotografia do mundo da moda por cinco anos seguidos.
            De repente, alguém bateu à porta freneticamente.
            — Calma! — gritou a mulher, assustada. — Mas que droga é essa? Cadê o Arthur para impedir essas pessoas?
            — Senhora, sou eu — Arthur não esperou que ela abrisse a porta, ele próprio entrou na sala.
            — Perdeu o respeito? — perguntou Milena, furiosa.
            — Perdoe-me — pediu o segurança. — Fiz o que me pediu, senhora...
            — Quer dizer... — os olhos de Milena brilharam em contentamento e esperança. — Quer dizer que aquela moleca está morta?
            — Aqui está — disse Arthur, mostrando as fotos no aparelho celular. — E tem isso, também.
            O segurança retirou do bolso as tranças de Beatriz e entregou nas mãos de Milena.
            — Meu Deus! — clamou a mulher. — Você é muito pior do que eu pensava... Quer dizer, neste caso, você foi melhor do que imaginei!
            Milena acariciava as tranças, como se estivesse segurando algo muito precioso.
            — Estas tranças são lindas... — confessou a modelo. — Não tinha nada melhor que você me presentear com elas!
            — Senhora, posso pedir algo? — perguntou o homem.
            — Sim? — ela se virou para ele. — Contanto que não seja um aumento.
            — Não, não é — Arthur, naquele instante, sentiu vontade de esganar a patroa. — Pode me liberar por hoje? Depois desse serviço, fiquei meio cansado.
            — Bem... — ponderou Milena. — Vá! Deixe-me aqui.
            Arthur se retirou da sala, enquanto Milena observava – ou melhor, admirava – as tranças de sua enteada morta.
            Do outro lado da cidade, na parte rica da cidade, Beatriz chegava à mansão de seu pai. A jovem torcia para que nenhum dos empregados de confiança de Milena estivesse ali, pois isso poderia ser fatal.
            Beatriz entrou na casa e correu para o seu quarto. Estava prestes a pegar uma mala, quando decidiu que não teria tempo o suficiente para isso, e decidiu levar apenas uma mochila. Colocou seu telefone, duas mudas de roupa e seus cartões do banco. Quando estava saindo do quarto, viu a governanta passar pelo corredor, e então permaneceu calada. Assim que a mulher entrou em um cômodo, Beatriz saiu e correu até o jardim.
            Mas, assim que colocou os pés na rua, a jovem trombou com a única pessoa que jamais deveria ter trombado naquele dia: Victor Vitral.
            — Victor? — Beatriz ficou atordoada.
            — Oi, minha querida — respondeu o secretário particular de Milena. — Aonde vai com tanta pressa?
            — Tenho um encontro com a Milena... — respondeu de imediato. — Fiquei de visitar a empresa hoje, quero ver como estão as coisas por lá.
            — Bem, estou voltando para lá neste exato momento — revelou Victor. — Vamos comigo, posso dar uma carona a você.
            — Não, obrigada — respondeu Beatriz. — Já chamei um táxi e ele deve estar para chegar.
            — Bem, então ‘tá — Victor entrou em seu carro e seguiu o seu caminho.
            Beatriz inspirou profundamente e soltou a respiração, em alívio. Mas ela sabia que agora teria de se esconder muito bem, pois, com certeza, a sua madrasta saberia que ela ainda estava viva.
            Cerca de trinta minutos depois, Victor entrou sorridente na sala da presidência da Kingdom.
            — Hum... — Milena soltou um risinho. — Por que tanta felicidade, Victor? Até parece que encontrou o seu príncipe encantado!
            — Ah, senhora di Aba! — exclamou Victor, envergonhado. — Sabe muito bem que não tenho tempo para isso... Dedico a minha vida à senhora.
            — Pois deveria dedicar-se a encontrar o seu príncipe — recomendou a mulher. — Assim, eu teria dois secretários confidentes.
            — E a senhora? — questionou Victor. — Por que tanta felicidade? Encontrou o seu príncipe encantado?
            — Claro que não, Victor! — respondeu Milena, prontamente. — Sabe que não ligo para isso... Um homem apenas me impediria de crescer na vida e ser alguém de renome. O motivo do meu sorriso é outro.
            — E que motivo é esse? — Victor ficou curioso.
            — Se a Beatriz não existisse... — supôs a modelo. — Ou, não sei, se ela morresse... Eu seria a mulher mais bela, certo?
            — Creio que sim, senhora — afirmou o assessor. — Mas sabemos que isso não vai acontecer tão cedo... Ela é muito nova, está começando a vida agora! Há pouco, mesmo, eu a vi e admirei a sua jovialidade.
            — O que foi que disse? — as bochechas de Milena ficaram vermelhas e ardiam.
            — Que acabei de vê-la... — repetiu Victor. — Por quê?
            — Onde? Que horas foi isso? — interrogou a mulher.
            — Eu estava saindo da mansão — contou ele. — Ela estava saindo de lá na correria e trombou comigo na rua. Inclusive, ela disse que está vindo para cá. Ofereci uma carona, mas ela disse que já havia chamado um táxi.
            — Mas que inferno! — berrou Milena.
            Victor ficou assustado. Ele não entendeu o motivo da irritação da patroa.
            — Eu não acredito nisso! — gritava Milena. — Aquele traidor do Arthur vai me pagar!
            — Senhora, não estou entendendo...  — lamentou Victor.
            — Saia da minha frente, Victor — Milena empurrou o secretário e saiu impaciente da sala.
            A modelo desceu pelo elevador até a garagem e pegou o seu carro. Ela precisava encontrar Beatriz e, com as suas próprias mãos, por um fim nessa história.


Leia aqui a Parte 3 da história.

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