quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Conto: A Bela Adormecida

O conto "Sleeping Beauty", de Charles Perrault (um escritor e poeta francês do século 17, o pai da Literatura Infantil), traduzido por Júnior Gonçalves.



            Era uma vez, há muito tempo atrás, um rei e uma rainha que tinham um desejo muito simples.
            — Ah! — eles se lamentavam. — Se pudéssemos ter um filho...
            Mas eles nunca conseguiam ter.
            Certa vez, enquanto a rainha se banhava na lagoa, uma rã saltou para fora da água.
            — O seu desejo será realizado — disse a rã, com a pele brilhante, fora da lagoa. — Você terá uma filha em menos de um ano.
            Aquilo que a rã disse aconteceu; a rainha teve uma menininha tão linda que o rei mal podia se conter de tanta alegria, e ele organizou uma grande festa. Ele não convidou apenas os seus familiares, os amigos e os conhecidos, mas também convidou as feiticeiras do reino, pois elas poderiam se entusiasmar e serem gentis criança. Havia treze delas em todo o reino; era tradição que o anfitrião da festa enviasse pratos aos convidados, mas, como ele enviara apenas doze pratos de ouro, uma delas não pôde ir.
            O banquete foi servido com muita pompa e, ao término da festa, as feiticeiras deram à bebê os seus presentes mágicos – uma concedeu virtude, outra concedeu beleza, a terceira concedeu riqueza, e assim foram dadas todas as coisas do mundo que se pode desejar.
            De repente, quando onze delas já haviam feito os seus votos, a décima terceira chegou. Ela queria se vingar por não ter sido convidada e, sem cumprimentar ou olhar para ninguém, ela gritou com uma voz estrondosa:
            — A filha do rei, em seu décimo quinto aniversário, vai se espetar na agulha de uma roca e cairá morta — sem dizer mais nenhuma palavra, ela se virou e deixou o local.
            Todos ficaram chocados. Mas a décima segunda feiticeira, que ainda não havia feito os melhores votos, deu um passo adiante e, por mais que não pudesse desfazer a maldição, ela poderia torná-la menos arrasadora.
            — Não será a morte que causará a queda da princesa, mas um sono profundo de cem anos — disse a feiticeira.
            O rei, aceitando o cruel destino de sua amada filha, ordenou aos guardas do reino que cada roca de todo o reino fosse queimada. Entretanto, os votos concedidos pelas feiticeiras foram concretizados com totalidade na vida da menina; ela era tão bela, virtuosa, de boa índole, e inteligente, que todo mundo que a conheceu amou-lhe no primeiro momento.
            No dia de seu aniversário de quinze anos, contudo, o rei e a rainha não estavam no castelo, e a donzela ficou sozinha ali. Ela passou por todos os lugares, passava pelas salas e pelos quartos, do jeito que ela gostava de fazer; e, por último, chegou a uma velha torre. Ela subiu pela estreita escada em espiral até chegar a uma porta bem pequena. Havia uma chave enferrujada na fechadura e, assim que a virou, a porta se abriu. Dentro da saleta, havia uma senhora com uma roca de fiar, ela estava ocupada tecendo linho.
            — Bom dia, minha senhora — cumprimentou a princesa. — O que faz aqui?
            — Estou tecendo — respondeu a senhora, virando a cabeça.
            — Mas que coisa é essa que faz barulho enquanto faz giros tão alegres? — questionou a menina, sentando-se diante da roca para tecer também.
            Ela mal tocou na roca quando o feitiço se concretizou, e ela espetou o dedo na agulha.
            No momento exato em que ela sentiu a agulha, ela se deitou sobre a cama que havia no quartinho, e caiu em um sono profundo. O seu sono se propagou por todo o palácio, e o rei e a rainha, que haviam acabado de chegar ao salão do castelo, ficaram sonolentos, e o mesmo aconteceu com toda a corte. Os cavalos, no estábulo, também dormiram, assim como os cachorros, no jardim, os pombos, no telhado, as moscas, nas paredes. Até mesmo o fogo, que estava ardente na lareira, ficou quieto e adormeceu. A carne que assava deixou de assar. O cozinheiro, que ia até o serviçal para puxar o seu cabelo, porque ele havia-se esquecido de algo, deixou-o ir e caiu no sono. O vento diminuiu, e as folhas das árvores de trás do castelo não se mexeram mais.
            Uma cerca de espinhos começou a crescer em volta do castelo, e ficava mais alta a cada ano que passava; cresceu tanto que, no fim, cobriu todo o castelo, e a construção não podia mais ser vista, nem mesmo a bandeira no alto do telhado. Mas a história da bela adormecida Rosa, como ficou conhecida, se espalhou pelo reino, e de vez em quando os príncipes vinham e tentavam passar pelo grande cerco de espinhos para entrar no castelo. Mas todos descobriram que era impossível, porque os espinhos lhes agarravam, como se fossem mãos; e, uma vez pegos pelos espinhos, jamais conseguiam se soltar novamente, morrendo de forma miserável.
            Depois de muito tempo, um príncipe veio até o reino e ouviu um senhor falando sobre o cerco de espinhos, e sobre um castelo que estava no meio dos espinhos. Ele ouviu que uma linda e maravilhosa princesa, chamada Rosa, havia caído num sono de cem anos, e que o rei, a rainha e toda a corte também foram afetados pelo sono. Ele também ouvira de seu avô que muitos reis e príncipes já haviam ido até o cerco de espinhos para tentar passá-lo, mas todos foram perfurados pelos espinhos rapidamente e tiveram mortes lamentáveis.
            O jovem, então disse:
            — Eu não tenho medo. Eu vou e verei a linda Rosa.
            O velho poderia persuadi-lo, como tentou, mas o príncipe não lhe deu ouvidos.
            Nessa época, os cem anos já haviam se passado, e o dia em que Rosa acordaria novamente havia chegado. Quando o príncipe chegou perto do cerco de espinhos, estava repleto de lindas flores, que se afastavam umas das outras por vontade própria, deixando o rapaz passar sem se machucar. Após isso, elas fecharam novamente o caminho atrás dele como um cerco. No jardim do castelo ele viu os cavalos e os cães deitados, dormindo. No telhado, os pombos estavam pousados com suas cabeças sob as asas.
            Assim que o príncipe entrou no castelo, as moscas dormiam nas paredes, o cozinheiro estava na cozinha, ainda esticando sua mão para agarrar o garoto, e a criada estava sentada perto da galinha preta que estava prestes a depenar.
            Ele foi ainda mais adiante. No grande salão, o príncipe viu toda a corte deitada, dormindo, e próximo ao trono estavam deitados o rei e a rainha. Depois, ele prosseguiu e tudo estava tão quieto que dava para ouvir a própria respiração. Por último, ele foi até a torre, abriu a porta e entrou no quartinho onde Rosa dormia.
            Lá estava ela, deitada; tão linda que ele mal podia tirar os seus olhos dela. Ele se aproximou e deu-lhe um beijo. E logo que ele a beijou, Rosa abriu os olhos e acordou, lançando a ele um olhar agradável.
            Os dois desceram juntos. O rei acordou, e depois a rainha, e depois toda a corte. Todos se olhavam admirados. Os cavalos se levantaram e se sacudiram no estábulo; no jardim, os cães saltaram e abanaram os rabos; os pombos ergueram suas cabeças no telhado e olharam em volta, voando para o reino; as moscas voltaram a rastejar-se na parede novamente; o fogo na cozinha se acendeu e voltou a queimar a carne; as juntas de todos voltaram a dobrar e ranger de novo; o cozinheiro deu um tapa na orelha do serviçal, que deu um berro; e a empregada terminou de depenar a galinha.
            Com muito esplendor, o casamento do príncipe com Rosa foi celebrado e eles viveram felizes para sempre.


Fonte:

Sleeping Beauty. FairyTales.biz. Disponível em: <http://www.fairytales.biz/charles-perrault/sleeping-beauty.html>.

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