sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Amazônia: Por um mundo melhor


            Há algum tempo, escrevi um conto que explorava um pouco da mitologia tupi-guarani, "O Mistério da Fênix", no qual um garoto paulistano de dezessete anos se descobre como parte do panteão tupi-guarani.
            Depois disso, vieram algumas ideias que compartilhei com algumas pessoas mais próximas. Por sorte, foram boas ideias que provaram dar bons frutos: Anderson do Nascimento, o meu marido, decidiu utilizar, como pano de fundo, o contexto mitológico tupi-guarani para uma de suas produções no seu trabalho nas Fábricas de Cultura.

As Fábricas de Cultura
            As Fábricas de Cultura são um projeto do Governo do Estado de São Paulo em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento. O projeto visa a educação e a formação nas diversas formas de expressão artística.
            O Anderson é educador do ateliê de Canto Coral na Fábrica de Cultura de Cidade Tiradentes e, neste semestre, desenvolveu um espetáculo musical com os seus aprendizes na trilha semestral.

A ideia de trabalhar com a mitologia tupi-guarani
            Inicialmente, a ideia do Anderson era trabalhar, com os aprendizes de Canto Coral, as lendas brasileiras: o Saci, a Caipora, o Boi Bumbá, a Iara etc. Contudo, durante o processo de desenvolvimento do espetáculo, o Anderson apresentou o meu conto "O Mistério da Fênix" aos aprendizes, que demonstraram grande interesse pela abordagem com as divindades nativamente brasileiras.

Ilustração de Júnior Gonçalves.
            Assim, a trilha tomou um novo rumo e os aprendizes entraram num ambiente de pesquisa amplo sobre a cultura nativa do país, buscando informações sobre o folclore popular brasileiro e sobre as lendas dos povos tupis-guaranis.

A montagem do espetáculo
            O espetáculo musical começou a ser produzido a partir do momento em que os aprendizes iniciaram as buscas pelas informações, pelas lendas e pelo levantamento musical – as músicas do espetáculo são músicas que, de alguma forma, influenciaram a música brasileira.
            Após longas discussões e trocas de informações, os aprendizes puderam escolher os seus personagens – isso demonstra a liberdade oferecida pelo educador, visando que cada aprendiz se apropriasse do seu personagem sem levar o processo como algo penoso. Em seguida, foi criado um grupo no Facebook, dedicado às discussões e ideias para as caracterizações dos personagens.
            Foi, então, que eu recebi o convite para escrever o enredo e adaptá-lo para o roteiro do musical. A proposta era inserir os personagens na resolução dum conflito – a degradação ambiental e a destruição da Amazônia, o pulmão do mundo. Eu já conhecia alguns dos aprendizes pessoalmente, o que me ajudou muito na construção do enredo, e sempre conversava com o Anderson sobre cada aprendiz para tentar adequar, ao máximo, cada personagem.
            Após a construção do enredo e algumas alterações, segui para a adaptação da história em um roteiro teatral. Juntos, eu e o educador selecionamos algumas trilhas sonoras que serviriam de entradas e interlúdios – isso aconteceu após a edição completa do roteiro e dos cortes de algumas cenas (devido ao tempo disponibilizado para a apresentação). Ainda, tive a chance de adaptar a canção "O que eu quero mais é ser rei", do filme "O Rei Leão", para o personagem Curupira, que contracenou com a personagem Caipora.

A apresentação
            O evento foi parte da formação semestral dos aprendizes da Fábrica de Cultura de Cidade Tiradentes, que aconteceu no dia 6 de dezembro de 2015, às 16h40, no teatro da unidade.
            O enredo foi centralizado na reunião de várias entidades folclóricas, como Caipora, Curupira, Jaci, Guaraci, Rudá, Boitatá, Boto Cor-De-Rosa, Cuca, Jurupari, Anhangá, duendes, fadas e índios, todos preocupados após descobrirem que Tupã perdeu os seus poderes e não consegue mais fazer chover e que Iara está fraca e morrendo. Durante o espetáculo, os personagens descobrem que isso está acontecendo por conta da destruição da natureza pelo homem e tentam buscar soluções para isso.

Primeira parte do espetáculo musical.

            As músicas foram envolventes e fizeram o público interagir com os personagens, conseguindo sentir a angústia e questionar a existência duma possível solução para tudo isso. "Amazônia", "Não vamos parar" e "Planeta Água" foram algumas das músicas do espetáculo.
            Os aprendizes surpreenderam tanto ao educador – que se emocionou ao final do espetáculo – quanto ao público e aos funcionários da Fábrica de Cultura de Cidade Tiradentes. O talento de cada um pôde ser percebido; a veia artística de cada um pulsou intensamente.

Segunda parte do espetáculo musical.

            Sinto orgulho por ter participado desse processo – um grandioso processo. Parabenizo, mais uma vez, a todos os envolvidos mas, principalmente, aos aprendizes que, de fato, fizeram um verdadeiro espetáculo!

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