sexta-feira, 26 de junho de 2020

Sobre indignar-se com a omissão alheia (Ou sobre buscar reconhecimento dos outros)

Sexta-feira, 26 de junho de 2020

Há cinco dias, eu recebi uma mensagem de alguém que eu não esperava, alguém que já não faz mais parte da minha vida há algum tempo. E o que me surpreendeu nisso é que eu realmente não tinha nenhuma expectativa de conversar mais com essa pessoa (ao menos por uns bons anos!).

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Eu aproveitei essa conversa para falar sobre muito dos meus incômodos em relação a essa determinada pessoa. Acho que eu sempre quis fazer isso durante muito tempo e não tive o momento e o espaço para fazê-lo. Ao final da conversa, contudo, eu questionei as intenções que fizeram essa pessoa me procurar para conversar após tanto tempo. Confesso que eu tinha as minhas desconfianças... Acho que tudo tem um interesse, seja no fato de a pessoa ser interessante ou de essa pessoa ter alguma característica, habilidade ou propriedades que me interessem. A resposta foi meio aberta – a motivação, aparentemente, girava em torno de resolver pendências, mas, também, de garantir uma participação em algo importante, algo que pudesse abrir portas.

Não fiquei mal após a conversa, muito pelo contrário: eu me senti leve. Foi como se alguns pesos simplesmente tivessem caído e deslizado dos meus ombros para o chão. Acho que isso tem a ver com todo o meu processo, com o meu momento atual, com as minhas vontades atuais, com os meus planos atuais. Mas algo ainda ficou... Eu passei os dias me perguntando o porquê de essa pessoa, em situações que teve oportunidade, não reconhecer o que fiz (seja no âmbito pessoal, mas principalmente no coletivo) e, depois de algum tempo, ao encarar uma oportunidade de ouro, procurou por mim propondo esquecer tudo o que passou. Na conversa, essa pessoa dizia que gostaria de esquecer tudo o que passou e eu logo expliquei que não há possibilidades de isso acontecer porque eu estou num processo de ressignificar as coisas e não apenas apaga-las da minha existência; e reforcei que estava contente por essa pessoa estar buscando alguma forma de rever suas próprias experiências.

Hoje, quando iniciei a terapia, logo contei ao Vinicius sobre essa conversa. Vinicius é o meu psicanalista. Eu comecei esse processo de análise com ele em fevereiro e, desde lá, estou nessa jornada em que eu saio com mais perguntas em cada sessão do que as que eu já tinha iniciado em cada sessão. Contei toda a história da conversa ao Vinicius e já fui dizendo que tudo fluiu de forma contrária ao que eu imaginava. Ele me perguntou o porquê.

Por muito tempo (muito tempo mesmo, tipo, mais de oito anos), eu vivi um relacionamento em que eu tentava fazer de tudo para agradar a outra pessoa. Desde os gestos mais simples a algumas tarefas mais elaboradas. Mas sempre na tentativa de deixar as coisas mais confortáveis para a pessoa, de modo que ela pudesse querer estar comigo quando tivesse um tempo livre. Então, eu acreditava que, depois de tanto tempo sem conversar, caso ela me procurasse, eu faria qualquer coisa que ela quisesse; se essa pessoa estalasse os dedos, na minha imaginação, eu ficaria de quatro na hora, pronto para atender qualquer um de seus pedidos. E não foi o que aconteceu.

A conversa flutuou muito sobre alguns problemas de relacionamento dentro de um coletivo. Falta de diálogo, apontamentos, falta de iniciativa e tantos outros problemas ligados ao trabalho em grupo. Mas, de algum jeito, eu enxergava muito desses comportamentos um reflexo do que era esse meu relacionamento. Expliquei ao Vinicius que essa autoridade, essa falsa democracia, tudo me causava algum pânico no final do relacionamento (é, só no final. Eu não me importava realmente com isso no início do relacionamento). Daí, o Vinicius me jogou uma pergunta sobre uma situação específica: “Você diz que ficou incomodado e preferiu não falar. Mas, antes, você deu a permissão para que ele fizesse.”

Why Clients Stop Going to Therapy - UConn Today

Eu me enrijeci um pouco no puff. Joguei a cabeça pra trás, ajustei o fone no ouvido e tentei pensar em algo. Não tinha o que dizer. “É, na hora, eu aceitei e preferi ficar quieto pra não arranjar mais discussão. Mas, quando tive a oportunidade, eu falei sobre isso na segunda-feira!” E, falando sobre esse meu incômodo, eu acabei notando que eu esperava algum reconhecimento. Em situações de injustiça, eu esperava que essa pessoa se pronunciasse diante do coletivo e dissesse: “Mas, espera aí, desde o começo, o Junior tá ajudando e fazendo aquilo que ele se comprometeu a fazer.” Eu esperava só isso. E eu falei isso para a pessoa, que a omissão dela foi o que me deixou chateado em toda aquela situação porque, após anos de convivência, eu a vi preferindo ficar calada do que intervir numa situação de injustiça.

Foi quando eu lancei uma reflexão para o Vinicius: “Na verdade, eu me pego aqui pensando se, de alguma forma, eu esperava esse reconhecimento, algo para amaciar o meu ego...” E o Vinicius já jogou outra pergunta de imediato: “Ah, é, Junior? E por que você acha que é isso?”

Mas eu não sabia a resposta. Na verdade, eu ainda não sei a resposta. Eu fico pensando que, talvez, todo o mundo queira ser reconhecido e valorizado pelo que faz. Ao mesmo tempo, eu fico pensando que, quando a gente faz algo por si próprio, para que serve o reconhecimento do outro? Eu sei que eu queria aquele reconhecimento durante aquela determinada situação por alguma razão a qual ainda desconheço. E não estou me cobrando porque eu esperava por isso... Mas estou na busca da resposta do porquê de eu esperar por isso.