quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Cartas para a Vida

CARTA N°. 01 – Eu achava que tudo seria diferente




            Eu achava que tudo seria diferente.
            Eu achava que eu chegaria do trabalho e teria para quem contar sobre o meu dia. Eu achava que isso aconteceria todos os dias. Em vez disso, eu chego em casa e me encontro sozinho até o início da noite, quando o sono bate e já é hora de dormir. A correria do dia-a-dia me impede de passar mais tempo com quem eu amo.
            Eu achava que, aos finais de semana, eu sairia para passear, curtir, ver filmes, exposições, nadar ou ficar de bobeira num parque assistindo o pôr-do-Sol. Em vez disso, eu trabalho a semana inteira e, aos finais de semana, eu fico cansado e na companhia dos filmes e seriados na minha cama – na companhia de filmes e seriados, isso, e não de pessoas.
            Eu achava que eu viveria diariamente os mais diversos prazeres: o amor, o sexo, a comida, a diversão. Em vez disso, a cada dia que passa, esses prazeres parecem escorrer como areia pelos meus dedos.
            Eu achava que eu viajaria o mundo e, aos 30 anos de idade, estaria vivendo em algum outro país. Em vez disso, não consigo gastar o meu dinheiro com nada além das contas e viajo, no máximo, para outra cidade dentro do meu estado.
            Eu achava que eu teria alguém que sentisse prazer somente pelo fato de estar ao meu lado. Eu achava que eu teria alguém que sentisse alegria somente pelo fato de estar quase chegando em casa. Eu achava que eu seria sempre a pessoa com mais vontade de viver e que sempre estaria sorrindo.
            Hoje, eu me vejo em meio aos meus “achados” e não sei o que fazer com cada um deles. Cara Vida, hoje, eu estou perdido dentro de mim e não consigo encontrar exatamente onde foi que eu me perdi e, assim, eu não consigo me resgatar.
            Eu olho no espelho e vejo pedaços do que eu fui e reflexos de algo que eu não entendo mais. Eu me sufoco debaixo da água que cai do chuveiro tamanha é a minha angústia diante disso tudo. Eu já cheguei ao ponto de querer sentir a dor física para tentar amenizar essa dor daqui de dentro, que me empurra contra uma parede gigantesca que desaba sobre a minha cabeça.
            Cara Vida, você parece estar lutando contra mim e eu ainda não entendo o porquê dessa sua revolta. O que foi que eu fiz? Em que momento eu errei com você?
            Eu só preciso dessa resposta... Cara Vida.